“Alguns deliquentes de hoje em dia acreditam que são autênticos cowboys. Pensam que podem simplesmente correr por aí fazendo o que bem entendem na hora que bem entendem. Eu respeito o homem que faz bem o seu serviço.” A frase faz parte do diálogo entre detetive e criminoso. Quando chama o fora-da-lei de Cowboy, possivelmente o homem da lei se refere à época do Velho Oeste americano, onde os bandidos eram mais fascinantes para a população que os xerifes, levando os jovens a acreditar que era uma vida bem melhor do outro lado da lei. E assim era na década de 70, onde os filmes de ação misturaram um pouco o bem e o mal, criando herois e vilões muito semelhantes.
Ryan O’Neal faz um homem soturno que ganha a vida dirigindo em assaltos. É contratado, sob suas rígidas regras, combina o horário e segue estritamente o programado. Recolhe os assaltantes do local do roubo e os deixa em segurança em um local pré-determinado. Ninguém consegue capturá-lo em ação, até que um investigador da polícia surge disposto a quebrar qualquer lei desde que consiga prender o “Cowboy”. Começa então um embate entre dois homens com vontade de ferro, em uma disputa arriscada motivada por um estranho orgulho, ou talvez a busca de um prazer acionado pelo risco que só aqueles que desdenham a morte podem compreender. O motorista é solitário, frio e decidido. Um homem de poucas expressões. Não tente saber o que o motiva. Talvez nem ele mesmo saiba. Aparentemente a ação sobre rodas é seu único prazer na vida. Não desfruta do dinheiro que ganha, morando em pequenos quartos de pensões de quinta categoria, dispensando até mesmo a companhia da televisão. Seu único alento, um pequeno walkman com fitas de música country. Completam o tabuleiro a mulher fatal (Isabelle Adjani) e um grupo de 3 ladrões pouco confiáveis contratados pelo policial.
Em resumo, o filme é excelente. The Driver (o motorista) no original, foi lançado no país sob o impactante nome de Caçador de Morte. Talvez um exagero sensacionalista, mas que analisando bem, não deixa de ter uma relação com o filme, embora não literal. Trata-se de uma obra de ação sensacional, com personagens que embora agora possam parecer até caricatos devido ao número de vezes que foram copiados em outras obras, passam uma vivacidade incrível. Escrito e dirigido por Walter Hill (o mesmo que dirigiria posteriormente Warriors, 48 horas e Ruas de Fogo), Caçador de Morte possui cenas de ação em perseguições de carro instigantes criando praticamente um roadie movie urbano. Também conta com diálogos bem construídos, que além de colaborarem na construção dos personagens, são uma diversão à parte. Se não percebeu até aqui, Hill não apresenta mesmo nenhum nome aos personagens. O espectador os conhece apenas por suas funções na obra, policial; motorista; assaltante; apostadora, etc. Ryan O’Neil deu vida a um personagem digno dos de sua época, como fizeram Clint Eastwood com Dirty Harry e o Homem Sem Nome, ou Steve Mcqueen em Bullit. Infelizmente a carreira de O’Neil no cinema foi curta e pouco significante. Caçador de Morte se torna um filme obrigatório para aqueles que apreciam a frieza da década de 70.
Se você já assistiu Carga Explosiva com Jason Statham, irá perceber que muito de seu personagem foi inspirado no motorista vivido por O’Neil. Especificamente no tangente às regras de conduta, não as habilidades “mágicas” de Frank Martin. E se você viu também Drive (2011) dirigido por Nicolas Winding Refn, estrelado por Ryan Gosling no papel de “motorista”, deve ter caído pra trás. Apesar da competência da dupla de diretor e ator, Drive absorveu quase 100% a essência do filme de Hill de 1978. É praticamente um remake. O personagem é o mesmo até no nome! Mas a imitação teve tanta qualidade que nem mesmo por isso perdeu seu valor no meu conceito. Mas puta merda, que cópia!
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