Mais uma tentativa fracassada em colocar nas telas uma história em quadrinhos. Já vimos esses fracassos em 300, Sin City (a pesar de eu gostar do filme)e Liga Extraordinária. Depois que a indústria cinematográfica descobriu o potencial financeiro que as adaptações dos quadrinhos para as telonas em super produções podem significar, tivemos heróis de mais nas telas. Muitos acertos e erros. O fato é que, o problema não é simplesmente reproduzir o quadrinho em filme, mas sim a forma como isso é feito. Afinal, são coisas distintas com linguagem infinitamente diferentes. Por exemplo, em 300 e Sin City as obras foram simplesmente reproduzidas, o que rebaixou o filme, fazendo de um grande quadrinho um péssimo filme. Diferente de Homem de Ferro e Batman, que são exemplos de como é possível fazer essa adaptação sem ser ridículo. Sem falar do The Spirit, que eu não vi, mas as repercussões dessa aventura de Frank Miller na direção não são nada boas.
Enfim, o fato é que Watchmen além de ser mais uma reprodução irritantemente fiel aos quadrinhos de Alan Moore é também um péssimo filme. Eu nunca fui muito fã de Watchtmen, apesar de reconhecer a importância e pontos positivos da obra. Por exemplo, o início de uma discussão política e uma narração mais madura elevando os HQ´s à um nível adulto.
O filme se passa no ano de 1985 em uma realidade fictícia em que heróis fantasiados são um fato recorrente. Trata dos desdobramentos de uma suposta conspiração após o assassinato do Comediante, um herói aposentado. Rorscharch, um vigilante mascarado, vai a fundo à história para tentar descobrir o motivo do assassinato. Enquanto seus ex-companheiros de heroísmo estão definitivamente aposentados; Dr. Manhatan, um homem-deus, único com super poderes; O Coruja, o mais ingênuo de todos, um super herói com espírito colegial; Jupter, filha de outra heroína.
Dentro desse contexto não vou entrar nos méritos políticos. Afinal, é irritante e constante a forma como a guerra fria é tratada chega a exaustão. Num ponto Hhá a seguinte passagem: “Era Nixon ou os Comunistas” tentando mostrar que até o demônio é melhor do que o comunismo, irritante. Ou então Nixon no terceiro mandato, ele é realmente uma vergonha para os americanos, mas é praticamente demonizado mesmo de forma indireta. Com isso de lado (mais o menos de lado) o filme é bem confuso. Ele vai e volta no tempo tentando explicar quem são os vigilantes, os Watchmen, com cortes bruscos igualzinho aos quadrinhos, a diferença é que quando se está lendo pode-se respirar o filme não te permite isso.
Depois que o Comediante é morto, muitos personagens lembram de como ele era. Numa passagem interessante em que os Watchmen tentam conter uma greve, o Comediante se descontrola e luta com os manifestantes de forma insana. O Coruja pede para que ele pare e que eles estavam próximos do sonho americano, o Comeiante retruca e diz que eles estão vivendo o sonho americano. Digo que é interessante pela forma irônica como isso é tratado, um momento reflexivo.
O diretor Zack Snyder, que por acaso é o mesmo de 300, errou feio ao tentar reproduzir fielmente Wacthmen igual ele fez com o HQ de Frank Miller. Watchmen é uma história diferente de 300. Não é cheia de ação, uma boa fotografia e cenas épicas. É um HQ com diálogos longos e a ultraviolência bem presente, algo mais intenso do que a Ultraviolence de Laranja Mecanica.
Enfim, em 300 funcionou com o publico, mas não com a crítica. Watchmen foi um fracasso total. Os fãs de quadrinhos viram mais uma adaptação fracassada. Afinal, ninguém quer ver em uma tela grande os quadrinhos, querem que a essência do HQ seja reproduzido em uma linguagem cinematográfica, assim como em X-Men que se discute o precoceito e formas de dominação, ou em Batman que a natureza humana e seus valores são discutidos a fundo. Esses elementos foram muito bem reproduzidos no cinema. Em Watchmen a tradução literal dos quadrinhos fica estranha e ruim. Simples assim. Não se pode adaptar uma linguagem à outra, é preciso traduzi-la.
O filme se passa por ridículo, poucas coisas conseguem se salvar. Dentre elas a cena de sexo entre o Dr. Manhatan e Jupter, em que ele se divide em três e não dá a atenção necessária para sua parceira durante o sexo. Ou Rorscharch depois de ser analisado por um psicanalista que lhe mostra figuras esfumaçadas em preto e pergunta o que elas parecem, ao recuperar sua máscara que se parece muito com as formas que o médico lhe mostrou se aproxima e pergunta o que ele vê, antes de atacá-lo. Alias, Rorscharch é o melhor personagem, o único que se mantém fiel aos princípios do início ao fim. Outro elemento que faz com que o filme fique menos insuportável é a trilha sonora, belíssima. Numa luta, por exemplo, ao invés de uma musica de ação o diretor optou por Unforgettable de Nat King Cole. Mas, o que realmente faz com que o filme não seja uma catástrofe completa é exatamente o final. Uma reviravolta previsível, porém surpreendente. Como isso? Simples, o final esperado finalmente chega, mas a luta final é bem diferente do esperado, assim como o resultado. Os heróis se mostram passivos, com exceção de Rorscharch , claro, e vêem como estavam equivocados em relação ao mau. Um pouco confuso, mas essencialmente interessante se são fosse pela mera adaptação. Creio que se fosse um curta metragem com os quinze minutos finais seria um filme muito melhor.
Não recomendo, não assistirei de novo (nem pensar), mas para quem gosta e HQ´s, de uma boa trilha sonora e de analisar linguagens cinematográficas é um prato cheio. Caso contrário, é uma catástrofe cinematográfica.
Caio Maciel
Ressalvas:
Alan Moore é um autor bem foda de quadrinhos, no nível de Frank Miller sem discussão. Só para lembrar segue algumas de suas abras, que apesar de ele odiar, foram adaptadas ao cinema: Do Inferno, A Liga Extraordinária, Constantine, V de Vingança
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