O novo filme de José Padilha mostra cores ocultas e verdadeiras da sociedade. Entra de vez no universo da ganância e podridão do ser humano, mostrando como os interesses de alguns estão acima do bem comum. Isto e muita ação faz parte da seqüencia inspiradíssima de “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro” que estréia nessa sexta feira (08/10) em 600 salas de cinema, em todo o Brasil. “Tropa 2” foi exibido ontem em Premièr pela primeira vez no Theatro Municipal de Paulínia.
O filme vai muito além da discussão traçada no primeiro. Claro que o teor quase fascista continua empregado, dessa vez em níveis muito maiores. Ele expande do clichê “polícia e ladrão” e entra definitivamente no que só arriscou no primeiro filme: no funcionalismo corrupto do sistema público. Infelizmente o filme fica em uma discussão não muito aprofundada, mas levanta a discussão importantíssima de que a sociedade é controlada por interesses de políticos.
Nessa seqüência, dez anos mais velho o Capitão Nascimento agora é Coronel, mas enfrenta um inimigo muito mais perigoso do que o tráfico de drogas: as milícias apoiadas por interesses políticos e eleitoreiros. Depois de ser afastado do BOPE ele chega aonde “nenhum caveira jamais chegou”, na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. No cargo ele faz o BOPE crescer muito e quebra o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Mas, ao triunfar sobre o tráfico de drogas, acaba ajudando policiais e políticos corruptos a lucrarem ainda mais de forma ilícita e assustadora. Os policiais são os chefes do morro. Liderados por Russo (Sandro Rocha) usam essa influência nos morros para serem aliados de políticos e garantirem os lucros sem influência do estado, garantindo aos governantes parcerias e votos.
Dessa vez há um contraponto interessante no enredo, que se constrói de forma brilhante: Fraga. Personagem belissimamente interpretado por Irandhir Santos faz um intelectual de esquerda, que se torna um político incorruptível e idealista. Idealista até de mais para uma realidade tão corrupta, diga-se de passagem. Ele é fielmente contra o pensamento do Coronel Nascimento apontando-o como um fascista e de quebra casa com a ex mulher de Nascimento. Dois homens de ideais contrários, mas que buscam a justiça e a ética, que são raros aos personagens do filme.
O filme mostra como políticos corruptos conseguem criar fatos para se beneficiar e ocultar verdades. Mais do que isso, mostra as faces convenientes dos poderosos de acordo com a ocasião em que se encontram. Em uma passagem bem marcante logo no começo do filme o Secretário de Segurança em reunião com outros políticos decide que vai demitir Nascimento depois de uma ação do BOPE que funcionou, mas não diante da mídia. Quando o próprio Nascimento entra no restaurante e é aplaudido pelas pessoas, o político, que ia usá-lo como bode expiatório momentos antes, associa imediatamente sua imagem a do Coronel. Foi feito de forma impecável gerando aplausos do público.
Padilha é habilidoso na condução da câmera. Mais uma vez com uma câmera que faz alusão à um documentário, dá o toque de realidade vibrante ao filme. Nascimento esta ainda mais carismático, mesmo com seus problemas pessoais e incertezas. Mesmo sendo o anti herói que é, afinal ele age de forma imoral ao torturar e assassinar bandidos. O verdadeiro herói é Fraga, mesmo assim torcemos contra ele em alguns momentos já qu ele é o contraponto ao Nascimento e vive com sua ex-esposa e filho – que tem papel importantíssimo no enredo. Nascimento, cativa por agir intensamente.
Como em uma passagem em que espanca um político, arrancando gritos e vibrações do público. O que é extremamente interessante, já que ele tem uma atitude fascista, autoritária e imoral. Mas parece que é a vontade de todos, dar uma lição nos políticos corruptos. Até porque o filme chega até Brasília, fazendo uma crítica ao centro do sistema corrupto.
Tropa 2 é um soco no estomago da gente que elege “Tiriricas” e “Malufs”. Mesmo não nos dando uma reflexão profunda do problema ou de soluções o grande mérito do filme é despertar a discussão.
>> Personagens:
O filme trás também belíssimas atuações, como as de personagens já conhecidos: Mathias (André Ramiro), Fábio (Milhem Cortaz) e Rosane (Maria Ribeiro).Além de novos personagens que dão uma contribuição de gala ao filme: Beirada (Seu Jorge), Fortunato (André Matto) – uma espécie de Datena – e Russo (Sandro Rocha).
>> Bordões da Tropa:
Frases celebres como “Pede pra sair!” estão presentes no filme, agora renovadas. Fábio faz esse papel: “Quer me fuder? Me beija porra!”
>> Segurança Máxima!
Na Premiér em Paulínia todos os convidados passaram por detector de metais e não podiam entrar com câmeras nem celulares. Já que o primeiro filme vazou na pirataria Padilha confirmou que dess vez houve segurança máxima, até essa semana o filme só existe em váios rolos de 35mm.
Caio Maciel
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário