assisti ontem a esse filme. Fui à locadora, totalmente despretensioso em busca de um filme pós bacalhoada e me vem essa beleza cinematográfica. Achei que seria mais um desses filmes de ação do Collin Ferrell, que apesar de eu gostar muito não é muito criativo na escolha de seus filmes.
Enfim, longe de ser um filme brilhante Na Mira do Chefe ao menos causa aquela sensação de estranhamento, que todo bom filme deve causar. Ilustrando, quando assisti Pulp Fiction da primeira vez durante o diálogo entre Vincent e Jules no carro eu pensei: “O que é que ta acontecendo? Os caras falando de hambúrguer do Mcdonalds?”. Foi ai que eu percebi, que tinha algo de diferente no filme.
Na Mira do Chefe é um divertidíssimo meio de compreender esse “estranhamento”. Só pra explicar, a esse estranhamento não passa de uma ruptura de padrões com o qual nós estamos acostumados, tudo o que chega de qualidade nos causa estranhamento por não seguir uma fórmula padronizada, no caso dos filmes hollywoodianos que nos primeiros 15 minutos se introduz o personagem principal e qual será sua “missão”.
No caso do filme aqui em questão somos transportados a um universo totalmente diferente. É sobre Ray (Collin Ferrell) e Ken (Brendan Gleeson), dois matadores de aluguel que por causa de um trabalho em que tudo dá errado são enviados a Bruges, na Bélgica por seu chefe Harry (Ralph Fiennes) quem esperam que ligue para lhes indicar os próximos passos. Todos os personagens, muito bem construídos, diga-se de passagem, são irlandeses. O humor negro do filme é genial (um pouco de exagero talvez, mas é genial mesmo). Rimos de desespero, uma risada que nos leva a pensar, “mas que diabos eu acabei de ver”. Por exemplo, Ray, que odeia a cidade em que estão, fica fascinado por uma garota que está no set de filmagem de um filme. O curioso é que no set tem um anão e Ray puxa conversa com a garota falando sobre esse anão de forma extremamente jocosa, ao ponto de em outro momento quando está se drogando com o pequeno companheiro lhe pergunta se ele quer se matar porque muitos anões o fazem.
Ou então no belíssimo diálogo ao telefone entre Harry e o Ken, quando Harry finalmente liga Ray está no encontro com a garota. É um diálogo simplesmente impressionante. Num filme assim não se pode esperar que o herói fique com a mocinha no final e mate o bandido. Simplesmente porque não há nenhum herói, não há nenhuma mocinha e nenhum bandido. São todas pessoas insanas desse submundo do crime que se comportam com seus defeitos e acertos e mesmo assim seguem seus princípios (que princípios?) à risca, leia-se, no filme acontece o que realmente deve acontecer, sem rodeios sem heroísmo sem moralismo. O único problema é que Ferrell, que tem uma belíssima atuação, é extremamente carismático, o que em alguns momentos do filme faz com que se torça para ele, mas isso é só por uns instantes, pois logo depois se vê que ele não presta, é um maluco inconseqüente, um assassino sem cultura sem preocupação nenhuma com o que possa acontecer com os outros, mesmo assim tem um carisma infantil extremamente cativante.
Outro elemento que é bem forte no filme é o Preconceito com os EUA. Isso é constante, quando Ray está discutindo com um homem na mesa ao lado num restaurante. O homem reclama que Natalie está jogando fumaça em sua cara e diz que Ray é prepotente. Ai Ray dispara comentários sobre a guerra do Vietnã apontando os EUA como país imperialista e prepotente, isso tudo porque o homem deve ser norte-americano. Ou então o anão, que é norte-americano, se apresenta da seguinte maneira: “Sou americano, mas não use isso contra mim”. Além de ser o personagem mais preconceituoso do filme, um escroto que chapado discorre sobre a próxima guerra que será entre negros e brancos, porém todos os rivais norte americanos, vietnamitas, chineses etc. aparecem no lado dos negros, que segundo o anão são o lado “do mal”.
É um filme divertidíssimo, tem um humor negro fantástico, belas cenas de ação, uma fotografia respeitável e ótimas atuações. Vale à pena assistir tendo em vista essas porcarias norte americana que vem ao Brasil, ainda está longe de ser um grande filme, mas só essa quebra de paradigmas nos mostra como ainda há esperança no grande cinema que chega até nós e não só essas porcarias falso-moralistas que tem por ai.
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