Manchete de Jornal
Tal qual uma leitura de jornal de qualquer cidade grande, as histórias trilhadas pelo filme não possuem nenhuma relação narrativa entre elas(tal qual as historias de jornais), porém, apresentam sempre um denominador em comum: o desconforto ao horror alheio. O espectador posto na função de terceiro, observador das histórias que se sucedem, cada qual mais brutal que a outra, é o equivalente ao estranho sentado na praça lendo seu jornal diário(a diferença aqui, porém, é que o impacto é ainda mais "pesado" por conta do formato, o cinema). E são muitas histórias, que variam de motivações desde incompreendidas como um todo(o autor do primeiro crime que dá nome ao filme) até àquelas onde nossa história como país revela uma violência ideológica de raízes ainda presentes(as cenas de tortura são bem pesadas e realistas).
Detalhe para a trilha sonora que, assim como as tramas, fazem parte do cenário rotineiro apresentado. Tal qual os olhos das testemunhas que rodeiam os corpos ensanguentados ou as histórias transpostas do jornal à tela, a musicalidade do filme invade as interpretações e os espaços tão naturalmente por fazer parte justamente desta rotina(a dança de um personagem frente suas vítimas ao ouvir um samba complementa bem esse pensamento).
Em outras palavras, o filme nada mais é do que um retrato sobre uma sociedade cujo contexto social tornou a violência banalizada de uma tal forma onde a brutalidade evidenciada nela não possui outra intenção que não seja fazer manchete de jornal para satisfazer o sadismo alheio.
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