Simplificarei: Crepúsculo é tosco. Essa é a palavra correta, a definição mais perfeita e sucinta que poderia utilizar. Não há nada que prenda o espectador, tanto o menos exigente, quanto o mais exigente. Nada pode ser levado a sério. Desde o roteiro, até as interpretações, os efeitos visuais, e até o provável principal elemento do filme: o romance entre o vampiro adolescente Edward, e a graciosa Isabella (que estranhamente e desnecessariamente, prefere ser chamada de Bella). De fato, Crepúsculo é uma mistura sinistra dos piores elementos de “Malhação”, “Smallville”, “Power Rangers”, e qualquer outra novelinha mexicana. Mas, (in)felizmente, essa produção diverte.
Como todos sabem, Crepúsculo surgiu da série de livros de Stephenie Meyer, que ainda não tive a curiosidade de ler. Já virou moda, mas, ao contrário de Harry Potter ou Senhor dos Anéis, o foco são as adolescentes, principalmente, aquelas loucas por conhecerem alguém tão perfeito quanto o vampiro Edward. Por isso, a experiência de escutar suspiros, gemidos e gritinhos histéricos nas salas de cinema durante a exibição não é prazerosa. Tais suspiros, juntos a qualidade técnica ao nível de Power Rangers, fazem de Crepúsculo dispensável a qualquer ser humano que tem a honra de desprezar obras cinematográficas toscas. Eu, felizmente, sou um deles. E espero que o leitor também.
O filme conta a história da jovem Bella, que temporariamente, deve se mudar para uma cidade fria (perfeita, logicamente, para vampiros), junta de seu pai, que não têm uma relação de muita afinidade. Lá, ela entra em um colégio, e se sente interessada por um rapaz MUITO PÁLIDO (estranho como os personagens simplesmente não notam na palidez do indivíduo e de sua família...) chamado Edward. Após uma série de acontecimentos, os dois se apaixonam, ela descobre que ele é um vampiro, e começa outra série de eventos que culminarão em cenas trágicas e alegres.
Dirigido pela mais ou menos conhecida Catherine Hardwicke, nota-se o quão perdida ela esteve durante a produção do filme. Ela erra em praticamente todos os elementos, em alguns, sutilmente, em outros, grotescamente. Não se arrisca, tenta fazer o básico, e quando faz, não dá certo, por não ser arriscado demais (que ciclo maluco...!). Ao menos, foi boa em não tornar o longa cansativo e irritante. É tosco, mas ao menos, divertido e pouco enjoativo. E o roteiro de Melissa Rosenberg também não faz questão de ajudar. Cercado de diálogos clichês, cenas de romance fraquíssimas e sem sensualidade, as únicas coisas que salvam são o tom movimentado, que como comentado anteriormente, não deixam o ritmo quase frenético cair, e a relação entre Bella e seu pai, que dão um pouco de drama ao amontoado de cenas pseudo-românticas e pseudo-ação. Mesmo não sendo perfeita, tal relação é bem explorada, mais pelas interpretações dos atores, do que pelos diálogos. E justamente essas coisas mostram o quão raso é o roteiro: os assuntos não são aprofundados, ficam sempre no básico, nunca vão para frente. Não há o que pensar e o que sentir. Há o que ver.
Agora, a parte mais engraçada do filme... Os efeitos visuais. É até difícil comentar. Eles são uma materialização da mistura de “Smallville” com aquela novela da Record, “Os Mutantes”. Evidentemente, isso não é bom. A sensação de velocidade é ridícula, e mais parece que os vampiros se transportam, do que correm, se é que você me entende. É impossível se sentir empolgado. E outros três fatores só reforçam a tese do acabamento precário da obra: a trilha sonora, a fotografia e os cenários. Na primeira, temos algo um tanto trash, com músicas que são utilizadas nas horas mais impróprias possíveis. Na segunda, uma confusão enorme e prejudicial, na qual os piores ângulos são escolhidos (falha mais nos planos movimentados, que não dão uma sensação de velocidade, do que nos planos estáticos). Na terceira, temos uma repetição desnecessária. O clima frio é até bom, mas chega a cansar, com as florestas e casas de arquitetura repetitiva e pouco inspirada.
O elenco é responsável pela mediocridade da fita. A dupla de protagonistas, Kristen Stewart e Robert Pattinson têm interpretações, no máximo, razoáveis. A primeira, mais experiente, não convence na primeira metade, quando ela reluta em não se apaixonar por Edward. Porém, quando o amor já se torna explícito, ela tem uma boa atuação, principalmente quando contracena com o pai de sua personagem. Com Robert Pattinson, é quase a mesma coisa. Quando ele decide interpretar um ser normal, ele consegue. Mas quando decide ser um vampiro... É o tosco que se torna explícito. O pior é que entre os dois não há uma boa química. Algo irrepreensível num filme que se vende como romance.
O elenco secundário é tão triste, que dá até dó. Acho que eles não tiveram a intenção de serem engraçados. Mas se foi essa a intenção, parabéns, eles entrarão imediatamente no Pânico, no CQC e mais provavelmente no antro de “melhores” humoristas do Zorra Total. Desde os amigos bizarros de Bella (que incluem moças estranhas, um rapaz mais normal, um que quase atropela Bella, índios, e um japonês fanfarrão cuja definição foge da boca de qualquer ser humano com uma capacidade mental normal), até a mais bizarra ainda família do Edward (todos pálidos, sinistros, caricatos, e de uma personalidade estranha), os personagens são horrivelmente interpretados por atores que não merecem o respeito de ninguém. Saídos dos mais obscuros seriados americanos (ou seja lá de onde surgiram), não há como levá-los a sério. E o pior é que nos simpatizamos por eles, assim como nos divertimos com a obra em geral. No meio de tanto lixo cinematográfico, a salvação: o pai de Bella, interpretado por Billy Burke. Uma atuação ótima, bem acima da média, e um personagem interessante, gostoso de ser explorado, e que funciona em cenas dramáticas, e em diálogos mais engraçados. Mas só ele não consegue salvar todo o conjunto.
Enfim, permanecem algumas dúvidas: os fãs gostaram ou não? A continuação será mais elaborada ou não? O cinema terá que suportar mais bombas como essa ou não? Aposto que, nas duas primeiras, a resposta é não. E infelizmente, aposto que na última, a resposta é sim. Afinal, é isso que o público pelo menos de adolescentes, quer: pouco conteúdo, muito romance, e como sempre, uma modinha para seguirem e idolatrarem. Perto de Crepúsculo, as adaptações de Harry Potter até parecem obras de arte. Fique longe. Ao menos que você seja apaixonado(a) por seres irreais. E pálidos.
Obs.: Ah, uma coisa que esqueci de comentar. A continuação chamada "Lua Nova" será lançada no ano que vem (mas já...?!), e não contará com a direção de Catherine Hardwicke, e sim, de Chris Weitz. Será que vai melhorar...?
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