E o filme mais aguardado do ano chega às telonas. Antecedendo em 60 anos os acontecimentos narrados em “O Senhor dos Anéis”, o livro de J. R. R. Tolkien escrito em 1937 ganha sua adaptação nas mãos de Peter Jackson, o mesmo diretor da trilogia que se consagrou na década passada. Entre vários acertos e alguns tropeços, pode-se dizer que “O Hobbit – Uma Jornada Inesperada” é uma obra divertida, envolvente e muito bem realizada.
Bilbo Baggins é o protagonista que recebe do mago Gandalf um convite para se juntar a ele e mais treze anões rumo à Erebor, com o objetivo de reconquistar a terra tomada pelo dragão Smaug. Depois de muita persistência, o hobbit se une ao grupo e dá início a uma aventura que se estenderá por mais outros dois filmes.
Para quem já é fã da trilogia anterior, a sensação de retorno a uma terra querida e nostálgica é inevitável. A nossa confiança em Peter Jackson sempre foi imensurável, já que ele tratou com tanto carinho cada cena rodada em cenários como o Condado e Valfenda, e ao rever tais lugares, é difícil não se apegar de cara ao inédito filme da terra média. A aparição de Gollum, interpretado pelo sempre genial Andy Serkis, não foi nada menos que espetacular e coroou um clímax digno para a história.
Contudo, certos elementos presentes em “O Hobbit – Uma Jornada Inesperada” o colocam bem aquém dos filmes da década passada. Durante a sessão, tive uma relutante impressão de que Peter Jackson estava satirizando o próprio senso de humor de Tolkien, conferindo pouca personalidade ao grupo de anões ao banalizá-los como seres atrapalhados e ingênuos. Uma leve mudança nos focos narrativos seria bom para que uma identificação maior fosse alcançada entre o público e os pequenos seres barbados.
O universo criado por Tolkien é profundamente fantástico e denso, repleto de seres e situações curiosas que inclusive influenciariam George Lucas em “Star Wars” e J. K. Rowling em “Harry Potter”. Quando Jackson filmou “A Sociedade do Anel”, uma coisa ele manteve em mente: a necessidade da total imersão do espectador para o funcionamento da narrativa. Era preciso entrar naquele mundo completamente, e sair de lá três horas depois com a sensação de querer mais. “Uma Jornada Inesperada” cumpre parcialmente esse papel. Embora impecável tecnicamente, o roteiro sofre com um começo desengonçado e passa por quedas bruscas de ritmo até engrenar de vez.
Martin Freeman foi uma surpresa, e conferiu ao Bilbo uma personalidade forte jamais vista nos outros hobbits da série (exceto talvez por Sean Astin com o seu Sam). Ian McKellen reprisa o seu Gandalf impecavelmente e é responsável por grandes momentos na película. A trilha de Howard Shore é um dos elementos que batem de frente com a trilogia, e a música “Misty Mountains” adaptada do livro é um show a parte, entoada pelos anões num canto gregoriano que é de causar arrepios.
Como um legítimo épico de aventura e fantasia, “Uma Jornada Inesperada” consegue se sustentar sozinho. Por ser uma história de fácil acompanhamento, “O Hobbit” deve atrair novos fãs à saga e conquistar a admiração da velha turma sem dificuldades. O problema está em justificar tamanho prestígio que a saga conseguiu com as produções da década passada. Se, para a maioria dos filmes do gênero, “O Hobbit” dá uma aula de entretenimento e narrativa, para o próprio universo de Tolkien esse filme se mostra acanhado, redutível. Ainda assim é um bom programa, um deleite para quem curte o estilo e uma obra digna de prêmios. Minha opinião é a de que nem a crítica deveria ter sido tão pesada, e nem o público tão eufórico. O melhor é esperar a conclusão com os filmes que virão.
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