Heitor Dhalia é um nome ainda em ascenção no meio cinematográfico nacional. Com apenas três filmes no seu currículo de diretor, ele já provou ter talento e visão para seguir forte na carreira para assim continuar realizando - e escrevendo - bons filmes.
Diferente do claustrofóbico e enigmático "O Cheiro do Ralo", a produção a ser comentada aqui nos leva a um ambiente menos sufocante, retratando algo mais colorido e natural. Porém de acordo com o desenrolar da história, o diretor mantém a sua característica principal, que é provocar uma agonizante expectativa por um final completamente inesperado. E Dhalia consegue fazer isso como poucos.
"À Deriva" conta a história de Filipa, uma jovem primogênita de outros dois irmãos que está passando por incontáveis descobertas durante as férias de verão em Búzios e com isso, abrindo os olhos para o que é, de fato, a vida. Enquanto isso, seus pais passam por uma situação absolutamente desconfortante, que envolve traição, depressão, falsidade, instabilidade financeira e alcoolismo. Um verdadeiro retrato do que é a tragédia familiar diante dos olhos de uma simples adolescente.
É um filme bastante dramático, cuja tensão nos faz esperar pela pior das conclusões. A medida que a protagonista se descobre e amadurece, os problemas citados tornam a relação da filha com os pais cada vez mais frágeis. Filipa sofre em cada cena do longa, e com isso aprende mais sobre o mundo que está prestes a fazer parte. Tudo isso é brilhantemente conduzido pelo diretor, e reforçado com uma bela e reflexiva trilha sonora.
A atuação de Laura Neiva não chega a ser digna de premiações, mas é correta e impressiona por ser sua estréia nas telonas. Um papel extremamente difícil que poderia ser um desastre se caisse em mãos erradas. A veterana Débora Bloch está impecável interpretando a mãe, Clarice. Já adianto que uma das cenas mais dramáticas do longa é roubada por ela. Vincent Cassel também está ótimo e convence bastante.
A excelente fotografia, que se aproveita das belezas naturais de onde a história se passa, cai como uma luva nesse filme. Usar a praia, o mar, e todo o clima das férias de verão para focar as descobertas da vida foi uma sacada extremamente genial. Filipa ainda tem muito o que aprender, ela ainda vive o seu mundo de fantasia que está à deriva de um universo assustadoramente maior e mais complexo. O título do filme não poderia ser outro se não esse.
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