Falar de Ray Charles definitivamente não é uma tarefa mole, um cantor ímpar, dono de uma personalidade complexa, conturbada e talentosa, só por ai já vai sentindo o andar da carruagem, o filme tenta transpor e diga -se de passagem com sucesso a vida deste ícone da musica norte-americano.
Com um ritmo lento, Taylor Hackford optou dramatizar o que poderia ser por si só ser algo genial, sua direção tem um toque agridoce na tentativa de comover o público, negro, cego e pobre já são o cartão de visitas ao público, sua pretensão sentimentaloide foi totalmente desnecessária, ao implementar flashbacks da sua infância pobre .
Ray ficou conhecido no cenário artístico devido ao seu talento e sua superação, coube a Jamie Foxx dar vida ao gênio, exitem escolhas que são feitas com um toque divino, assim foi com Ben Kingsley em Gandi, Bruno Ganz em As ultimas horas de Hitler e Foxx consegue entrar para este seleto grupo, sua atuação é algo assustador, os trejeitos, o sorriso contagiante, o balanço do corpo na hora de cantar, se o filme pode ser esquecido, sua atuação jamais, tanto é que depois de muitos anos a Academia voltaria dar um Oscar ao negro .
Um grande acerto foi a humanização do gênio, mostrar seus envolvimentos com drogas, sua vida extraconjugal, seus momentos conturbados tem um peso considerável na performance do longa, é comum vermos cinebiografias dando margens somente para as virtudes, a escolha de abordar os defeitos foi excelente.
Mostrar passo a passo da sua carreira foi outro ponto positivo, desde o tempo de estradas até o estrelato, temos uma visão detalhada sobre sua genialidade musical, canções como I've got a woman, What did i say entre outras dão uma pequena amostra do seu brilho, conseguimos sentir e entender porque seu talento embalou quase 5 décadas e se tornou atemporal.
Outra passagem abordada foi a renuncia de tocar no estado da Georgia em represália a segregação racial em eventos públicos, ver o Estado da Georgia pedido desculpas a Ray é algo emocionante, passagem que futuramente daria inspiração para compor Georgia on my mind, um pecado Hackford não ter dado uma ênfase sobre esta musica .
A questão técnica é muito bem realizada, o figuro tem um tom charmoso da vanguarda e a impressão é das melhores, a fotografia também é algo de destaque, tudo neste molde foi feito com muito bom gosto.
O resultado final é agradabilíssimo, ter a oportunidade de conhecer o grande Ray Charles é uma experiência maravilhosa, mesmo com defeitos de roteiro o resultado é positivo e sua menção de vida nos faz refletir sobre a sociedade e nosso comportamento, vale a pena conferir a vida deste talento ímpar.
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