Maus Hábitos é o terceiro filme de Almodóvar e pode se dizer que é o primeiro a apresentar um enredo mais complexo, mais crítico, com personagens mais profundas.
Ao contar a história de Yolanda Bel, uma cantora de casas noturnas que decide se internar num convento afim de se desligar de seus problemas, Almodóvar parece repetir a receita de seus trabalhos anteriores, mesclando referências underground e elementos típicos de folhetins mexicanos, o que resulta numa tragicomédia de vizú trash, bem à maneira dos anos 80.
Mas apenas pareceu, pois a partir do momento em que vemos uma madre superiora chantagista, homossexual e, assim como suas freiras, consumidora de entorpecentes, percebemos a ousadia do então novato diretor espanhol. O comportamento dessas personagens se revela contraditório, já que apesar de levarem a sério a imolação, ao mesmo tempo se deixam levar pelo vício e pelo desejo. Tal dualidade não se trata de um roteiro mal elaborado, mas apenas de mais um recurso para demonstrar o quão "humanas" e pouco "santas" elas são, ou seja, a falta de vocação de que padecem.
A grande moral crítica incide pois nesse costume de autosugestão, ou melhor, autoenganação, visto que as freiras, aparentemente ex-viciadas, redimidas, na verdade continuam viciadas e alimentando seus vícios.
No entanto, mesmo mostrando uma evolução substancial em relação à seus filmes anteriores, "Maus Hábitos" ainda é um aprendizado para Almodóvar, faltando-lhe estrururar melhor relação com o tragicômico, já que mesmo possuindo os elementos, ela é inconstante ao longo do filme.
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