Após realizar Bananas e Tudo que você sempre quis saber sobre sexo, Woody Allen consolidava-se como um nome reconhecido na fértil safra de cineastas estadunidenses dos anos 70. A principal marca de seus filmes nessa década, era o estilo de humor baseado na comédia stand up, onde a graça reside, principalmente, em fazer piadas sobre temas do cotidiano.
Allen usou essa receita, já consagrada em trabalhos anteriores, neste Dorminhoco, de 1973 e, posteriormente, em maior ou menor escala, ao longo de sua carreira. Junto à sua parceira dentro e fora das telas (Diane Keaton), está formada a dupla de protagonistas de uma comédia que beira o non-sense, ridicularizando o estilo sci-fi de maneira tosca e descompromissada.
O agrumento inicial diz respeito a um homem que se internou em um hospital para ser submetido a uma cirurgia de úlcera, mas que acaba sendo congelado sem autorização. Duzentos anos mais tarde, em 2173, ele é "ressucitado", e imdiatamente torna-se consultor de informações sobre detalhes esquecidos na história. No entanto, para sua surpresa, as coisas só pioram quando ele vê-se obrigado a integrar uma espécie de guerrilha que luta pela (re)humanização de uma sociedade totalmente entregue à mecanização indiscriminada de suas vidas. A questão é se justamente um sujeito como ele conseguirá acompanhar esse movimento.
O conflito entre o trágico e o cômico, situações separadas por um limite tão tênue, e presente em 9 entre 10 filmes assinados pelo cineasta, é retratado ainda de modo pastelão, como em toda sua produção da primeira metade dos anos 70, só que de modo ligeiramente mais refinado em comparação a seus antecessores.
Em meio às mais escalafobéticas fugas e perseguições, ainda sobra espaço para o romance, que contudo, acaba frustrado. Transparece aí o pessimismo afetivo que permeia o universo dos filmes de Woody Allen, chegando a nos persuadir de que as relações humanas são por demais complicadas e que nunca se desenrolam do modo como sonhamos.
Mesmo assim, o próprio cineasta faz concessões, e não deixa a centelha da esperança se apagar, reforçando sua filosofia de que, se não existe um final feliz, pelo ou menos é possível ter alguma diversão durante o percurso. Outra marca registrada do nova-iorquino.
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