Inicialmente lançado apenas para vídeo, Henry – Portrait of a Serial Killer é um dos mais impactantes filmes sobre seriais killers já feito. Baseado em fatos reais, na história de Henry Lee Lucas, americano envolvido em ao menos seiscentos assassinatos entre os anos de 1975 a 1983, retratado em cenas de exímia violência. Mesmo com o baixo orçamento, as cenas em nada perdem em chocar o espectador para filmes como Laranja Mecânica. Acontece rapidamente, um pescoço quebrado, um tiro de uma arma, outro d’outra, uma luta corporal, essa era a técnica de Henry. Nunca utilizar uma mesma arma para distração da polícia.
Aliás, polícia é algo que pouco se ouve falar. Nada de perseguições, nada de policial que consegue capturar o assassino pouco antes de passarem as letrinhas e o “the end”. Vantagem ou desvantagem? Uma grande vantagem, a figura do serial killer é sempre muito mais interessante que a de um policial. Sem falar que, sendo baseado em fatos reais e não em um livro ou roteiro direto para cinema, colocar policiais não teria sentido, seriam personagens vazios que serviriam na trama para morrerem ou colocarem Henry na cadeia.
Henry morava com um ex-companheiro de cela, Otis, que convence aos poucos a trabalhar junto dele, cometendo crimes. A princípio, demostra-se preocupado, logo, entra na “brincadeira”. Roubam televisões, matam e estupram uma família e ainda o filmam, assistindo mais tarde. Os problemas começam quando Becky, irmã de Otis, tem seu marido preso e vai morar com o irmão. Henry e Becky dão-se muito bem, inclusive Henry a defende dos ataques incestuosos de Otis. É Becky quem nos faz conhecer melhor sobre o protagonista, perguntando-lhe porque fora preso – assassinou a mãe, uma prostituta que o fazia assistir os programas com seus clientes – e contando-lhe que era estuprada pelo pai aos treze anos de idade.
Não vemos a história de Hannibal ser contado em Silêncio dos Inocentes (talvez em algum outro de seus filmes, mas não no que deu origem ao personagem) como também não é comum na maioria dos filmes sobre o tema. De onde surge a psicopatia? Dentre vários fatores como genético e social estão também uma família desestruturada e conflituosa e o convívio com a violência. Exemplo era Henry, obrigado a usar roupas de mulher pela mãe, a assisti-la tendo relações sexuais com outros homens, sendo espancado muitas vezes sem motivo pela mesma. É muito pouco que se fala sobre o passado de Henry, mas um pouco muito interessante, que tem como contribuição uma ótima atuação de Michael Rooker.
E é para Becky quem Henry confessa seu passado, e é para Henry que Becky confessa o seu, o que talvez faça com quem os dois deem-se bem, namorem. Mas um psicopata tem sentimentos? Nunca teve piedade de quem matou, dos corpos que são vistos no início, ensopados de sangue, com a música de suspense de fundo. Por que teria de Becky e porque a defenderia dos assédios de Otis? Uma tentativa de humanizar um psicopata em um filme violento não faria sentido. Explica-lo com o passado, porém não humaniza-lo. Mas a última cena deixa bem claro que não eram estas as intenções dos roteiristas.
Henry – Retrato de um Assassino possuí um tema que, pessoalmente, me desperta muita curiosidade. Quando um tema desses é posto em mãos competentes, não é difícil que me agrade, mas digo que Henry superou outros. É intenso, atordoante, uma obra-prima que vale muito a pena ser vista.
Bom texto! Não sei porque não foi recomendado.