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O Cinema em 10 Anos - Leitores

Assim como nossos antigos editores, cada leitor que passou pelo Cineplayers ao longo desses dez anos é especial. Em sua homenagem, decidimos criar um top de vocês também, em uma matéria que contou com a organização do usuário Luís Daniel.

Abaixo, está o 'Top 10' de filmes lançados nos últimos dez anos, eleitos por você, usuário. A votação foi feita no tópico CINEPLAYERS: O Cinema em 10 anos - Leitores, sendo 97 listas enviadas e apenas 4 eliminadas do resultado final. A contagem foi feita de acordo com uma pontuação estabelecida por cada posição que o filme ocupou em uma lista individual, como pode ser eclarecida no tópico que está no link acima.

A disputa foi acirrada: algumas divergências entre as preferências dos usuários tiraram filmes da lista, como por exemplo Clint Eastwood, que teve com constância seus filmes citados, mas nunca em peso em apenas uma obra, dividindo os votos. Menina de Ouro, o melhor colocado, acabou ocupando a posição de número doze com 53 pontos abaixo do décimo colocado. O décimo primeiro foi Cisne Negro, de Darren Aronofsky, que por magros 3 pontos não empatou com o décimo colocado.

Foram convidados também usuários para criarem textos para os filmes escolhidos por você, leitor; mas não apenas usuários recentes, mas de toda a história do site, não especificamente do fórum, mas também nos comentários / críticas e de todas as formas de utilização do mesmo. Todos os comentários abrangem uma visão própria sobre o filme em questão, onde cada autor teve a liberdade de falar do filme da forma que quisesse, desde que respeitasse uma determinada quantidade de linhas.

Mas o que mais importa é o que entrou. Sem mais delongas, aqui vai a lista:

 

10. Drive (2011), de Nicolas Winding Refn
Pontuação: 295

Exalando tensão e risco através de seus poros, este olhar retroativo sobre um (anti-) herói solitário se revela um admirável exercício estilístico de Nicolas Winding Refn. Foi com Drive que o realizador dinamarquês surgiu para grande parte do público, mesmo tendo uma filmografia de sete exemplares pregressos. Encarnado por um Ryan Gosling na linha da navalha entre a fúria e a gentileza, o Motorista que dá nome à obra reflete a inquietude dos sem-lugar. Seus olhos abrigam sentimentos díspares e suas ações levam o pensamento a oscilar entre a certeza e a dúvida sobre seu caráter. A jornada tripla que o leva ao revezamento entre os ofícios de dublê, mecânico e chofer particular sintetiza uma metrópole desenganada, de solitários à procura (vã) de salvação para a própria pele. Desapegado de códigos de conduta, o protagonista elege a amoralidade e eletriza sua plateia com ações súbitas e temerárias e sua figura se esvai tão de improviso quanto surge.

- Patrick Corrêa

 

9. Dogville (2003), de Lars von Trier
Pontuação: 297

De fato, Dogville vem sendo, desde sua existência, um dos filmes mais polêmicos e geradores de contradições no "mundo dos cinéfilos". Por que isso? Dogville segue a linha de filmes com propostas narrativas inovadoras que sai dos padrões do cinema comum. Dogville é rodado num palco, como em um teatro, onde o cenário é apenas demarcado. Diante do conteúdo ultra crítico que o diretor Lars von Trier expõe abertamente, esse fator de quebra de padrões é caracterizado como útil, vendo que seu significado é bastante visível: todo mundo vê a maldade que acontece no mundo, mas ninguém faz nada; a protagonista pede ajuda, é abrigada e, como forma de "pagar pela proteção", é explorada, não só braçalmente, como sexualmente. Trier é o cineasta da maldade humana pura e um dos que melhor caracteriza isso aproximando o cinema da realidade, seja pelas técnicas de filmagem, até pela forma que lida com seus atores, mas ainda mais pelos temas que aborda. Trier é um monstro e Dogville é considerada sua obra máxima, uma criatura que consome e destrói, que traz a realidade crua e sem mentiras, onde a bondade vai sendo lentamente dominada, torturada, sadicamente assassinada pela maldade e que, quando ela consegue lutar contra tudo, simplesmente não consegue sobreviver. Há quem não goste, mas, convenhamos, Trier é frio e mórbido, sem pena, mas com muito a falar e gritar. Dogville é um longo grito de crítica, horror e ódio perante a sociedade atual.

Pedro Ruback

 

8. A Árvore da Vida (2011), de Terrence Malick
Pontuação: 301

O fluxo da ação na família O'Brien no Texas da década de 50 é esfacelado por Malick à medida em que encontra senso neles para exibir o contraponto com as imagens puramente sensoriais da jornada do universo. Não houve em muito tempo no cinema americano uma experiência tão forte e desafiadora como A Árvore da Vida, pois independente do que se escreva a seu respeito, é a ambição de seu realizador que garante isso. Realizador esse que enxerga em cada uma de suas bem treinadas imagens artificiais um impulso de demonstrar uma variação infinita de sentimentos em fração de segundos; não a toa há quem verá nele só o que parece ridículo ou só o que parece uma expressão da potência filosófica da narrativa; duas coisas que, de fato, andam juntas para Malick. O diretor é um realista que adota uma realidade incrivelmente particular, algo que está longe de dizer sobre os que irão aceitar sua obra (a despeito das pretensões religiosas no filme, trata-se de uma sinfonia cósmica dotada de vontades místicas), mas evidencia muito das possibilidades de assimilação; da dialética simplista no início à encenação da inocência perdida que se esvai junto a ideia do espaço mítico, a Árvore da Vida é a necessidade de ver uma vida em escala universal.

- Lucas Castro

 

7. Amantes (2008), de James Gray
Pontuação: 305

O classicismo com James Gray alça o modernismo, e a variação temporal encontra afago no emocional, dissimulado no indivíduo como conjectura básica para toda desarmonia do universo, ali, desde o primeiro plano, Leonard é acusador e réu de si mesmo, a insipidez de sua clausura é deflagrada pela tragédia da constante frustração existencial e decolada por um seio na janela, a instabilidade de seu personagem e crenças é evocação da inevitabilidade da desgraça astral, amparada e talvez tão somente pelas escolhas que ele ensaia, e ensaia novamente, buscando a recompensa do suposto erro, constrangendo o suposto acerto, reencarnando vigor, enterrando-se no amor e, vulnerável a todos os julgamentos passíveis, suspira, após cheirar o mar, pelo rompimento do que foi tornado particular e que agora é familiar ou o próprio compromisso de uma dramaturgia vanguardista indissociável da erudita em seus abismos morais. Todos se ajoelham.

- Caio Lucas

 

6. Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan
Pontuação: 389

Numa Gotham perdida no crime organizado, sujeira e corrupção, a salvação temporária vem através de um guardião das sombras, um cavaleiro das trevas. Desta vez, enfrentará a carta na manga do horror que assola a cidade, a personificação do caos. O clássico embate entre Batman e Coringa, num equilíbrio de forças e ideologias regado a sangue, vira um espetáculo fílmico de redefinição dos filmes de heróis, orquestrado por um Christopher Nolan inspirado e que entrega todo seu estilo, de movimento ininterrupto, tramas urgentes e simultâneas, adrenalina e sofisticação, e um intocável tom de realismo sombrio para uma trama ágil e cruelmente verossímil, na qual quebra-se a barreira entre mocinhos e vilões, traz à superfície seres humanos dúbios, vivendo num mundo frio, caótico, da corrida por dinheiro e de cidadãos que se rebelam contra si próprios, onde sanidade e sobrevivência estão em constante jogo. De uma história mergulhada em escuridão, na instabilidade do ser humano e no fazer de tradicionalismos heróicos algo palpável, Nolan concebe um dos maiores thrillers dos últimos tempos, lançando seu espectador numa atmosfera tensa, numa cidade em crise, de pessoas submissas ao crime e à mídia, de um herói visto como ameaça e de pessoas dispostas a se sacrificarem em busca do que acreditam ser justo.

- Bruno Kühl

 

5. Sangue Negro (2007), de Paul Thomas Anderson
Pontuação: 423

Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson, é o brinco de ouro da princesa. É um filme sobre evolução. E não apenas a evolução do personagem principal, o lendário Daniel Plainview de Daniel Day-Lewis, mas também a evolução do próprio cinema e da carreira do diretor que assina o filme. Em Sangue Negro, nós podemos encontrar - de certa forma - o resultado final da evolução do cinema como conhecíamos, em celulóide, para dar lugar ao digital (o filme é de 2007, e naquele mesmo ano David Fincher aparecia com a sua Viper digital em Zodíaco). É a última lufada do classicismo. Tem estilo e forma indulgentes e ponderadas (e um arco tonal que vai desde o início visual, plástico e cinemático, e termina na teatralidade histriônica pura). É uma história épica sobre um combate épico, mas está disfarçada sob uma crosta de intimismo. É sobre os conflitos internos de um homem sem moral e sem amor-próprio e sobre um homem que acha que tem moral e valor, mas é covarde demais para admitir que é um cretino de marca maior. Sangue Negro é um filme forte, envolvente e absolutamente brilhante - divisor de águas tanto na carreira de Anderson (vindo das egotrips Scorsese-alike e indo sem medo para o formalismo kubrickiano) e do cinema em si. A cortina do clássico se fecha em Sangue Negro.

- Victor Bruno

 

4. Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004), de Michel Gondry
Pontuação: 427

Brilho Eterno parece uma releitura moderna de Je T'aime, Je T'aime, de Alain Resnais, sobre um homem perdido em suas memórias e, acima de tudo, enclausurado em um antigo caso de amor. Talvez sem o mesmo talento, percebe-se que Gondry - camaleônico diretor de videoclipes - e Kauffman beberam muito da fonte do francês e de seu editor Jean Neny, não só em termos de aventurar-se na cabeça da personagem principal a partir de um fluxo contínuo de memórias, distribuídas entropicamente como forma de traduzir a mente humana em imagem e som, mas também pelo consequente plot experimentalista, livre de amarras, disperso entre o simbólico e o literal, comumente assinalado por monólogos etc. Filme absolutamente nietzschiano e surreal, Brilho Eterno é, entretanto, um dos filmes mais realistas da última década: sua organização narrativa é tão precisa e sensorial que suas personagens imorais, mesmo que às vezes breves, são capazes de fazer crer que aquela despirocada fábula de amor é autêntica, e assim dolorida como um final de um relacionamento, mas ao mesmo tempo esperançosa como um início.

- Luiz Fernando Coutinho

 

3. Kill Bill - Volume 1 (2003), de Quentin Tarantino
Pontuação: 433

Nas últimas duas décadas, poucos diretores alcançaram tanta relevância no cinema mundial quanto Quentin Tarantino, com seus filmes repletos de referências e diálogos inteligentes. E talvez nenhum outro filme deixe tão claro o quanto e o que Tarantino entende por cinema quanto Kill Bill - Volume 1 (2003). Originalmente planejado para ser um filme único, Kill Bill acabou dividido em duas partes, e a primeira especialmente é um deleite para qualquer cinéfilo. São tantas as referências do diretor, desde a composição das cenas até a trilha sonora (mesclando clássicos e elementos da cultura pop), que é uma tarefa árdua perceber todas, mas estão lá os filmes de samurais, chanbara (filmes japoneses com lutas de espadas) e artes marciais (com direito a uma participação do ícone dos filmes de karatê Sonny Chiba), westerns, giallo, suspenses, cinema francês, e por aí vai. O resultado de tudo isso é um filme de ação empolgante como poucos, sendo um prazer enorme acompanhar a saga de vingança da Noiva (uma maravilhosa Uma Thurman) decepando braços, pernas e pescoços, com a violência estilizada de Tarantino. Durante a saga, ainda há uma bela sequência em anime contando a história de O-Ren Ishi (Lucy Liu) e a venenosa Elle Driver (Daryl Hannah) em momento à la De Palma no hospital. O que podemos ter certeza depois de assistir a Kill Bill- Volume 1 é que o objetivo de Tarantino de fazer um filme de ação resultou em algo não menos que monumental. Sorte a nossa.

- Douglas Braga

 

2. Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), de Ethan Coen e Joel Coen
Pontuação: 436

É o reforço de uma marca artística que se divide em duas faces, dois mundos. Não por acaso, Onde os Fracos não têm Vez é um filme de rupturas, mascarado pela porrada de fontes artísticas de onde fora criado. Os irmãos mais famosos da história do cinema, Joel e Ethan Coen, sempre estiveram juntos, até mesmo quando nos sets apenas uma cadeira de diretor era vista - como acontece com Fargo, dirigido apenas por Joel Coen, mas escrito pelas quatro das mãos mais talentosas do cinema contemporâneo (seria redundante citar ou repetir mais nomes). O mundo dos irmãos Coen é marcado pela quebra da lógica, de uma forma ou de outra, quase adquirindo toques de surrealismo para compor a sua ópera, marcada por um pesadelo incompreendido pelos seus personagens - e, consequentemente, pelos seus espectadores. Tudo visto em tela fora minimamente calculado para que tomasse a forma de um pesadelo sem fim, com um dos "monstros" mais temidos dos últimos anos (Javier Bardem nos recordando o temido Klaus Kinski em O Vingador Silencioso), esse que parece que saiu do inferno e não quer voltar para lá - quer fazer o seu trabalho aqui, na Terra. Ou seria a Terra um pedaço do inferno?

- Victor Ramos

 

1. Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino
Pontuação: 588

Nos filmes de Quentin Tarantino, muito mais que a violência que o tornou popular, celebra-se o poder da palavra e o poder do cinema como ferramentas para se relacionar com o mundo. Em Bastardos Inglórios, esses dois elementos estão mais do que nunca evidentes e servem para Tarantino fazer um estudo dos mais relevantes sobre a guerra. Aqui, ela é retratada, acima de tudo, como um choque entre culturas. Mais do que um conflito armado, de força bruta, o que se apresenta é um conflito sutil, de linguagem e de visões de mundo. Não é de surpreender portanto que o comicamente baixinho e franzino Hans Landa seja o personagem mais aterrorizante e perigoso do filme, com sua assustadora capacidade de transitar entre diferentes línguas e compreender as motivações de cada personagem, estando sempre um passo à frente dos outros. Além disso, discute-se o poder do cinema como arma de persuasão e perspectivação histórica. Ao mesmo tempo em que representa a época em que a indústria cinematográfica alemã era dominada pelo regime nazista e usada como uma poderosa máquina de propaganda, o filme realiza ele próprio uma manipulação histórica extrema. Retém, assim, o poder de surpreender, criando um dos finais mais delirantes da década, e questiona se de fato há alguma verdade a ser encontrada na ficção, que não a verdade interna da própria representação.

- Paulo Polastri

Agradecimentos:

Luís Daniel - organização, contagem, artigo e imagens;
Paulo Polastri - imagens;
Matheus de Melo - imagens;
Rodrigo Cunha - idealização, organização;

E, claro, a todos os que contribuíram com seus textos para os filmes citados e a todos que votaram.

Comentários (67)

Raphael da Silveira Leite Miguel | quarta-feira, 16 de Janeiro de 2013 - 00:55

Pô, virei tio, kkkkkk. Não precisa lamentar por mim Luiz, pois cada um tem um gosto pessoal, o que é bom pra você pode ser ruim pra mim e vice-versa. E nada disso quer dizer quem está certo ou errado, são apenas opiniões.

Quanto à ordem de interpretação e crítica, concordo! Sem mais.

Junior Ferreira | quarta-feira, 16 de Janeiro de 2013 - 16:51

É dificil montar esse tipo de lista.
Acredito que algumas listas por exemplo o filme que a pessoa deixou em quarto e quinto pode ter sido a msm nota em um filme que nem colocou na lista.

Alexandre Marcello de Figueiredo | quarta-feira, 16 de Janeiro de 2013 - 18:44

"Shame" no lugar de "Sangue Negro". Faltou "Gran Torino" nessa lista também.
"Amantes" eu não assisti.

Eduardo Gomes | quinta-feira, 17 de Janeiro de 2013 - 13:51

Não votei, mas ta aí a minha...sem ordem: O Pianista, Sobre meninos e lobos, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Control, A Origem, Cisne Negro, A Separação, TDKR, Shame e Dogville

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