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A Síndrome dos Trailers

Já aconteceu de você ver um trailer e, ao contemplar a versão final do filme, sentir um impacto menor do que esperava? Acredite, isso pode ter sido resultado do que chamo de ‘a síndrome do trailer’. Hollywood ficou tão boa em fazer esses trailers, se especializou tanto, que hoje em dia acabam por conseguir comprimir duas horas de filme em um trailer de dois minutos. Não que você sinta exatamente a mesma coisa do que sente ao ver a versão na íntegra, mas o pessoal anda colocando informações demais quando deveriam apenas instigar nossa curiosidade. Exemplos não são difíceis de se encontrar.

Para quem viu O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, o trailer tem uma informação valiosíssima que, sem sombra de dúvidas, era para ser uma surpresa. Com o decorrer do filme mesmo era possível perceber essa intenção, tamanho o suspense criado pelo diretor durante o caminho que os Ents e os Hobbits percorrem por dentro da floresta.  Claro que estamos nos referindo ao ‘mago branco’ que Peter Jackson fez tanta questão de citar. Algo que pode até ter funcionado com alguns que não viram o trailer.

Outro filme, porém bem menor, que me lembro no momento foi um dos últimos de John Travolta, chamado Inimigo em Casa. Lembro que assisti no cinema esse somente pelo nome de Travolta (que hoje em dia não quer dizer muita coisa, bons tempos de Nos Embalos de Sábado à Noite e Pulp Fiction), e vi que era um suspense de desenvolvimento bem meia boca. Meses depois aluguei uma fita da mesma época em que esse filme saiu e, obviamente, continha o trailer de Inimigo em Casa. Para minha surpresa, TUDO (desculpem as maiúsculas, mas realmente precisei usá-las aqui) o que acontecia no filme estava no trailer. Desde as pequenas surpresas que o filme tentava preparar até toda a preparação psicológica dos personagens. Claro, tudo bem que para um filme fraco isso fica fácil de suprimir, mas será que não passou pela cabeça de ninguém que aquele trailer contava demais? Inclusive só parando com os quinze minutos finais?

Agora quem sofre mesmo com essas revelações dos trailers são as comédias. Dois exemplos vieram imediatamente a minha cabeça: A Era do Gelo e Todo Mundo em Pânico 3. As melhores piadas, as melhores sacadas, as melhores satirizadas, todas estão no trailer. Claro que algumas piadas devem ser sacrificadas para chamar a atenção das pessoas para o filme e, ao irem ao Cinema, verem que ainda haviam muitas outras risadas reservadas. Mas não é isso que acontece nesses títulos – e em muitos outros do gênero. As piadas são comprimidas de um modo que até funcionam no trailer, mas quando vistas dentro do filme, perdem o impacto, a força. E quem viu o trailer e a versão final desses dois filmes sabem o que eu to falando.

Talvez seja perigoso ir ao cinema e ver os trailers hoje em dia. É melhor voltarmos à moda antiga e acreditar no bom e velho boca a boca. Às vezes contam demais também, mas é só saber em quem creditar confiança ou não na hora de perguntar. Até algumas sinopses estão sendo perigosas de ler, quanto mais certas críticas. Se o boca a boca não funcionar, o jeito vai ser mesmo apelar para ver os cartazes ou simpatizar com os títulos – muitas vezes mal traduzidos – que os filmes recebem. Isso se eles não contarem demais também...

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