7 Gêneros, 7 Filmes - Os Anos 30
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Após o pioneirismo dos nomes do cinema mudo, pode-se dizer que a chegada de recursos como som e cor foram verdadeiras revoluções para o que se entenderia por era dourada do cinema - uma época onde, descobrindo-se, o cinema ousou, experimentou e refinou a arte previamente aprimorada.
Selecionamos sete representativos filmes do início dessa era, os anos 30, cada um influenciando decisivamente um gênero em particular.
Leia e sugira abaixo outros filmes importantes do período em cada gênero!
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Comédia: Levada da Breca (Howard Hawks, 1938)
O filme de Hawks é um dos que melhores mostraram como a novidade do cinema, o diálogo sonoro, tinha potencial para ser explorado. A história da rica e desastrada Susie e as enrascadas que ela mete seu interesse romântico, o paleontólogo David Huxley, não traz apenas comédia física pastelão mas também tem diálogos rápidos e entrecortados, onde os personagens falam ao mesmo tempo, se interrompem, gritam, resmungam e enlouquecem um ao outro. Hawks Se atém mais às cenas individualmente do que à história, e o resultado é um filme desgovernado onde o clima geral de bagunça alcança momentos mais absurdos a cada minuto.
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Drama: A Cruz dos Anos (Leo McCarey, 1937)
O filme que segundo Orson Welles “faria uma pedra chorar”. A história dos idosos que tem de sair de suas casas por falta de dinheiro e tem de cada um morar com seus netos veio tanto da morte do pai de Leo McCarey e uma doença que quase o matou, o que inspirou o diretor a fazer um filme sobre mortalidade. Sem jamais pesar a mão no drama, a sutileza da condução de McCarey tem o peso de uma bigorna. Cada diálogo significativo, cada plano simbólico e cada close que exibe os olhares de Pa e Ma Cooper compõem um dos mais belos filmes sobre a dor da separação e a resignação e aceitação de uma realidade insatisfatória. Para terminar em lágrimas.
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Terror: Frankenstein (James Whale, 1931)
A criação de Mary Shelley foi eternizada na interpretação de Boris Karloff como o monstro criado por Henry Frankenstein naquele que é talvez o melhor dos filmes de monstro da Universal. Menos sofisticada e mais inocente, a criatura protagoniza tanto momentos de descoberta - a antológica e sempre tensa cena com a menina - quanto grotescos, como na hoje clichê imagem do campesinato erguendo forquilhas e tochas para caçar o personagem. O próprio criador é muito menos atormentado que na mídia original e tem uma interpretação muito mais obsessiva e desvairada. Enquanto com Shelley a inteligência da criatura era desenvolvida para questionar a ética de Victor “brincar de Deus”, Whale fala sobre intolerância, sobre pessoas incapazes de aceitar o diferente e o “monstro” do filme é de fato a principal vítima, reagindo com a violência com a qual foi recebido em primeiro lugar.
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Faroeste: No Tempo das Diligências (John Ford, 1939)
O primeiro faroeste sonoro de John Ford talvez seja o mais seminal de seus filmes: foi a obra que o ajudou a definir como o principal diretor do gênero e que estabeleceu muitas de suas características definidoras. O filme mostrou como Ford era um grande narrador de histórias de cunho social e político, com personagens representando mais classes sociais e menos indivíduos em si. Não se pode negar que seja um filme romantizado, mas os personagens que o diretor elenca para criticar o moralismo da sociedade foram no mínimo representativos: o casal protagonista são o pistoleiro fugitivo Ringo Kid e a prostituta Dallas, que enfrentam tanto sequências clássicas como a fuga dos índios ou momentos como onde Dallas é expulsa da cidade onde vive pela “Liga da Lei e da Ordem”. Esses são apenas alguns pontos que destacam os protagonistas daquela diligência como sobreviventes, que aprendem a duras penas a conviver com pessoas diferentes e a lutar lado a lado pela vida e pelo seu lugar ao sol.
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Suspense: M - O Vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang, 1931)
O filme de Fritz Lang feito na Alemanha entre as guerras, pós-Grande Depressão e pré-nazismo tem seu lugar como um dos filmes de suspense mais importantes de todos os tempos ao contar a história de um monstro com cara de gente comum, assassinando crianças e sumindo na multidão. E tão terrível quanto o predador são seus caçadores: não as autoridades alemãs, mas o crime organizado, que o caça basicamente pela razão de as batidas policiais estarem atrapalhando os negócios. O clássico do expressionismo alemão mergulha em trevas e evoca proporções exageradas para contar uma história do submundo. M é cheio de momentos de um detalhismo terrível, como a perseguição a uma vítima cuja morte é concluída com seu balão voando sem rumo no céu e tão icônicos como o assassino olhando no reflexo de um espelho a marca de giz que o arranca do anonimato. Distorcido e pessimista, M - O Vampiro de Dusseldorf ainda é capaz de gelar a espinha.
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Crime: O Inimigo Público (William A. Wellman, 1931)
William A. Wellman é um dos mais subestimados artesãos de drama do cinema norte-americano, autor de vários filmes que enfiavam o dedo em feridas sociais. O Inimigo Público, feito antes do código Hays impôr sua higienização à indústria, é justamente um desses filmes, com história baseada nas experiências e testemunhos de ex-criminosos e calcando o protagonista Tom Powers à imagem de gângsteres da época como Al Capone. O filme de Wellman chafurda na estética de tablóide e tem sequências carregadas de sensacionalismo, onde o protagonista ambicioso abandona pouco a pouco pilares sociais como a família e embarca em uma maré ininterrupta de violência. Foi um dos filmes ao lado de Scarface - A Vergonha de Uma Nação (1932) e Alma no Lodo (1931) a consagrar o arquétipo do gângster como a clássica figura marginal e ambiciosa que escala alto demais e acaba invariavelmente tendo um fim trágico.
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Musical: Cavadoras de Ouro (Mervin LeRoy e Busby Berkeley, 1933)
Por cerca de uma década, o coreógrafo Busby Berkeley foi o rei do cinema musical. Suas composições exageradas, nonsense porém sempre detalhistas e simétricas que consagraram nomes como Carmen Miranda foi responsável também pelo politicamente incorreto e divertidíssimo Cavadoras de Ouro. O escapismo pós-Grande Depressão resultou na história de um teatro de revista e de suas malandras dançarinas e seus esforços para enrolar um ricaço de nariz empinado, que vê-se obrigado a bancar a produção. Com números que consagraram Ginger Rogers como estrela do gênero, é um exemplo de uma esquecida importância de um hábil artesão de imagens. As sequências são um verdadeiro balé entre dançarinos, câmera e montagem, com as brincadeiras com ótica e perspectiva costurando um filme que tantas décadas depois ainda surpreende pelo poder da encenação e por sua inventividade visual.
Não vi Cavadoras de Ouro, tampouco Inimigo Público. "Levada da Breca" não me entusiasma. Existem no gênero, nessa década, filmes bem melhores.
Cabe na lista Luzes da Cidade, filme mudo, mas não silencioso.
Década fascinante. As comédias espirituosas e muito inteligentes são o destaque.
Um musical definitivo desses anos é Rua 42.
meu filme de crime serai sem dúvida alguma O Fugitivo de 1932