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Paul Newman - A Biografia Completa (parte 4)

 

Biografia Paul Newman - Parte I

Biografia Paul Newman - Parte II

Biografia Paul Newman - Parte III

 

Chegamos nos anos 1980. Após quase duas décadas de gestação, o épico Era Uma Vez na América entrava finalmente em pré-produção. Seu diretor, o italiano Sergio Leone, pensou em Paul Newman para viver o protagonista David "Noodles" Aaronson. No entanto, a violência, a misoginia e a discutível moralidade dos personagens causava certa repugnância no ator. Além disso, não era segredo pra ninguém que Leone não era propriamente um diretor de atores, algo que também não agradava a Newman. O papel foi parar nas mãos de Robert De Niro e o filme – talvez o melhor da década – foi lançado três anos depois.

Em vez de Era uma Vez na América, Newman preferiu um projeto mais convencional, o drama policial O Inferno no Bronx. O roteiro fora escrito por Heywood Gould em meados nos ano 1970 e era baseado nas experiências pessoais dos policiais Thomas Mullhearn e Pete Tessimore junto à 41ª Delegacia, no Sul do bairro do Bronx. A princípio, a história serviria como um veículo para Steve McQueen. No entanto, com o anúncio da semi-aposentadoria de McQueen, a vaga ficou aberta para Newman. Pelo papel, o ator recebeu o salário de U$ 3 milhões, mais 15% sobre o resultado das bilheterias. 

A direção de O Inferno no Bronx ficou sob a incumbência do canadense Daniel Petrie, que havia trabalhado com Newman nos anos 1950, em produções para a televisão. Apesar de não ter feito muitos longas-metragens para o cinema, os executivos resolveram dar uma chance a Petrie após seu trabalho de direção em Sybil, filme exibido pela NBC em novembro de 1976 e que recebera os principais prêmios Emmy daquele ano. 

O roteiro previa a participação de um ator mais jovem, que interpretaria o parceiro novato do protagonista. Para o papel, Newman queria John Travolta, que estava nas alturas após os sucessos em sequência de Os Embalos de Sábado à Noite e Grease - Nos Tempos da Brilhantina. No entanto, Travolta recusou o convite, provavelmente porque não lhe interessava desperdiçar seu cacife na indústria com papeis secundários. Em seu lugar, foi chamado o desconhecido Ken Whal (no Brasil, o ator ganhou seus 15 minutos de fama ao viver o personagem de Vinnie Terranova na série O Homem da Máfia).

O restante do elenco era formado por Edward Asner, ator de longa carreira na televisão e que interpreta o novo delegado local; Rachel Ticotin, que vive a enfermeira com quem Paul Newman tem um envolvimento amoroso, e Pam Grier, recém saída dos filmes de blackexpotation, no papel de uma viciada em drogas.

O resultado final de O Inferno no Bronx fica num meio termo. O roteiro não passa de uma colagem de episódios que acompanham o cotidiano dos policiais da delegacia que ficou conhecida nos EUA como Forte Apache, tal a violência do bairro do Bronx. Todos os clichês do gênero estão lá: a parceria de policiais de diferentes idades, o mais velho (Newman) passando suas experiências ao mais novo (Wahl); a corrupção e o corporativismo da entidade; o policial de bom coração etc. No fundo, O Inferno no Bronx parece mais um piloto de TV, com a agravante de que, hoje, os seriados americanos trabalham os mesmos temas de forma muito mais inteligente e instigante.

No entanto, apesar de suas limitações, seria injusto não reconhecer em O Inferno no Bronx aspectos bem interessantes, como o bom desenvolvimento do protagonista, a sinceridade de seu relacionamento com a enfermeira, e o tratamento dos assassinatos em série de policiais como um autêntico mcguffin.

Lançado em fevereiro de 1981, alcançou respeitáveis U$ 29 milhões nas bilheterias americanas, além de receber críticas bem favoráveis. Descartável ou não, O Inferno no Bronx representava o primeiro sucesso comercial de Paul Newman desde Inferno na Torre.

Durante o verão americano de 1980, logo após o encerramento das filmagens de O Inferno no Bronx, Newman resolveu embarcar na sua terceira experiência atrás das câmeras, dessa vez num telefilme. O projeto escolhido foi A Caixa de Surpresas, adaptação da peça de autoria Michael Cristofer, vencedora de prêmios importantes, como o Pulitzer e o Tony, e que tratava da vida de três pacientes terminais e suas famílias.

Assim como seus trabalhos anteriores na direção (Raquel, Raquel e O Preço da Solidão), A Caixa de Surpresas foi concebido primordialmente como um veículo para Joanne Woodward. Durante os anos 1970, ela parecia ter sido esquecida pelos executivos dos estúdios. Em 1977, a atriz demonstrara grande interesse em participar do drama Momento de Decisão, cuja temática lhe era bastante próxima. No entanto, o produtor Allan Ladd Jr. a preteriu em nome de Shirley MacLaine e Anne Bancroft. Sua atuação mais recente no cinema – da qual ela não se orgulhava nem um pouco – fora em 1978, no longa-metragem Se Não me Mato, Morro, dirigido e estrelada por Burt Reynolds. Por isso mesmo, já há alguns a atriz preferira concentrar suas atenções em produções para a televisão. Em 1976, por exemplo, participara de Sybil, já comentado aqui. Em 1978, ganhou o Emmy pelo filme A Prova Suprema. Em 1980, chegara a vez de A Caixa de Surpresas.

Paul Newman assumiu a direção a pedido da filha, Susan, que era a produtora da fita. A entrada do astro garantiu ao projeto um orçamento de U$ 2 milhões, integralmente bancados pela rede ABC. Newman aceitou trabalhar por um salário simbólico, além de se comprometer a botar a mão no próprio bolso caso a grana acabasse pelo caminho. Ao lado de sua esposa, Newman escalou atores de peso como Christopher Plummer, Valerie Harper, Silvia Sydney e Melinda Dillon.

A Caixa de Surpresas foi exibido na televisão americana no final de dezembro de 1980. Os índices de audiência não foram lá muito animadores, algo compreensível diante da falta de apelo comercial. Mas o filme recebeu boas criticas e Paul Newman foi indicado ao Emmy de melhor diretor.

Newman voltou para frente das câmeras ainda em 1981 com Ausência de Malícia, produção da Columbia e que trazia uma crítica ao jornalismo sensacionalista. Conhecendo a famosa aversão do astro à imprensa, não era difícil entender o que o levou a se interessar pelo roteiro logo de cara. De mais a mais, a direção ficaria sob a incumbência de Sydney Pollack, em quem Newman parecia confiar. Após começar a carreira na televisão, Pollack migrara para o cinema em meados dos anos 60. Ao longo de década de 1970 seu nome se consolidara na indústria com o lançamento de vários filmes protagonizados por Robert Redford, como Mais Forte que a Vingança, Nosso Amor de Ontem, Três Dias de Condor e O Cavaleiro Elétrico. Foi Pollack que levou o roteiro a Newman, após receber um não de Al Pacino, sua primeira opção. O restante do elenco era formado por Sally Field e Wilford Brimley.

Orçado em U$ 12 milhões, a produção começou em novembro de 1980. As filmagens foram ambientadas em Miami e duraram três meses. Pollack se mostrou um excelente diretor de atores, capaz de lidar tanto com os relativamente inexperientes como Field e Brimley, quanto Newman, àquela altura com 55 anos. 

Ausência de Malícia estreou em circuito reduzido em novembro de 1981 e dividiu a opinião dos críticos. Alguns o consideraram um dos melhores filmes do ano. Outros não mostraram o mesmo entusiasmo, alegando que a jornalista interpretada por Sally Field não era uma personagem verossímil. Independente disso, a bilheteria da produção bateu na casa dos U$ 19 milhões em solo americano e mais U$ 21 milhões em território estrangeiro. Para Newman, Ausência de Malícia lhe rendeu sua quinta indicação ao Oscar. No entanto, considerando que Henry Fonda estava entre os indicados daquele ano, o ator sabia que suas chances eram próximas a zero. 

Satisfeito com sua vingança pessoal contra a imprensa, Newman embarcou nas filmagens de O Veredito, drama de tribunal que lhe daria a chance de interpretar outro de seus personagens definitivos, o advogado decadente Frank Galvin.

O Veredito era baseado num romance do advogado Barry Reed. Apesar de o livro não ter causado grande impressão, ele sempre despertou o interesse de Hollywood. De posse dos direitos de adaptação, a 20th Century Fox, por meio dos produtores Richard Zanuck e David Brown, partiu em busca do ator que viveria o papel principal. Diversos de nomes foram considerados, entre eles Roy Scheider, William Holden, Dustin Hoffman, Frank Sinatra e até mesmo o já aposentado Cary Grant. 

Para a direção, os produtores chamaram Arthur Hiller. O roteiro, por sua vez, seria escrito pelo teatrólogo David Mamet. A primeira versão do script não agradou nem a gregos, nem a troianos. Zanuck, Brown e Hiller acharam que Mamet se desviara em demasia do livro. Pra piorar, sua versão se encerrava antes mesmo do anúncio do veredito pelos jurados, deixando o futuro do protagonista completamente aberto. A insatisfação com o material foi o suficiente para que Hiller pulasse fora do barco.

Zanuck e Brown tentaram convencer Mamet a fazer as alterações necessárias. Diante da negativa radical do roteirista, não restou outra solução a eles senão mandá-lo passar no RH da Fox. Em seu lugar foi chamada Jay Presson Allen, que escrevera Príncipe da Cidade, filme lançado por Sidney Lumet um ano antes. Allen refez o trabalho de Mamet seguindo rigorosamente as instruções de Zanuck e Brown. Com a segunda versão em mãos, os produtores ofereceram o papel de Frank Galvin a Robert Redford. Redford não gostou do que leu. Ele sugeriu que o filme fosse entregue ao diretor/roteirista James Bridges, então em alta pelo sucesso de Síndrome da China. Com a entrada de Bridges, Allen foi demitida. Bridges preparou uma terceira versão, novamente rejeitada por Redford. Não conseguindo agradar nem mesmo a pessoa que o indicara, Bridges percebeu que era hora de sair de fininho. Redford, então, à revelia de Zanuck e Brown, apresentou o projeto para seu amigo Sydney Pollack. Foi o que bastou para Redford. Ao tomarem conhecimento do gesto do ator, os produtores o descartaram do filme imediatamente. O tempo passava e a produção de O Veredito não andara um único centímetro. 

Pressionados de todos os lados, Zanuck e Brown ofereceram o projeto a Sidney Lumet. Por coincidência, Lumet havia lido a primeira versão do roteiro, escrita por David Mamet, bem antes de ser chamado pela dupla de produtores. Com o contrato assinado, o diretor teve acesso aos rascunhos subseqüentes. Para ele, não era difícil perceber que o trabalho de Mamet era de longe o melhor. Lumet conseguiu convencer que as reservas que Zanuck e Brown sentiam pela versão de Mamet, poderiam consertadas sem muita dor de cabeça. De fato, provando ser bom de lábia, Lumet conseguiu convencer o roteirista a mudar o final. Seu argumento era ao mesmo tempo simples e óbvio demais: após ter aguardado pacientemente por mais duas horas de projeção, o público se sentiria traído se o filme terminasse sem revelar o resultado do julgamento.

Resolvido esse impasse, Lumet apresentou o roteiro a Newman, de quem era amigo desde os anos 1950, quando trabalharam juntos em algumas produções para a televisão. O ator disse sim no ato. E não era pra menos. Aos 57 anos, Newman já estava se cansando da malandragem e da frieza dos seus personagens mais famosos. Àquela altura da vida, lhe interessava os personagens mais humanos e vulneráveis, e cuja idade coincidissem com a sua própria. O Frank Galvin que emergia do texto de Mamet foi um resposta às suas preces.

O papel do advogado da instituição hospitalar que é colocada no banco dos réus, foi entregue ao britânico James Mason, que já havia trabalhado tanto com Newman (em O Emissário de Mankitosh) e Lumet (em Chamada Para um Morto). Apesar de o diretor considerar Mason um dos três melhores atores de cinema de todos os tempos, ao lado de Spencer Tracy e Henry Fonda, sua intenção era escalá-lo para o personagem de Mickey Morrissey, o melhor amigo de Newman. Mason percebeu que o papel, ainda que importante dentro do contexto da trama, cumpria uma função estritamente técnica, de servir de escada para Newman e, assim, fazer a história avançar. A duras penas, Mason conseguiu convencer Lumet. Para o papel de Morrissey, que acabara de ficar vago, Lumet chamou Jack Warden, que interpretara um dos jurados em Doze Homens e uma Sentença, filme de estreia do diretor.

As filmagens de O Veredito se iniciaram no começo de 1982 e terminaram dentro do prazo e orçamento previstos. A estreia ocorreu no mês de dezembro, rendendo U$ 26 milhões apenas no mercado americano e outros U$ 54 milhões no resto do mundo, cifras bastante razoáveis para uma fita de tom amargo e de ritmo lento. No Brasil, O Veredito fez um inesperado sucesso, já que um dos seus temas – a negligência médica – remetia o público à recente morte da cantora Clara Nunes, em circunstâncias semelhantes à retratada no filme. 

Revisto hoje, O Veredito ainda mantém suas qualidades. Não faz feio se comparado com outras obras do subgênero "filmes de tribunal". Certamente um ocupa lugar de destaque dentro da filmografia de Sidney Lumet, ainda que seja inferior a Doze Homens de uma Sentença, Um Dia de Cão e Rede de Intrigas). No entanto, não há muita dúvida de que a interpretação de Newman está entre as melhores de sua carreira. As primeiras sequências já deixam impressa as principais marcas do advogado Frank Galvin: durante os créditos, seu personagem aparece dentro de um bar, em plena luz do dia, gastando seu tempo num jogo de fliperama. Logo em seguida, nós o vemos visitando velórios de desconhecidos e oferecendo seus serviços advocatícios para os familiares. Ficamos sabendo que aquele cara, que já viveu dias melhores, tanto pessoal quanto pessoalmente, hoje está no fundo do poço. A composição de Newman vale-se enormemente de certos predicados que só o tempo foi capaz de lhe dar: as linhas de expressão em seu rosto e o tom grave da voz. Contribuem também determinados maneirismos que foram incorporados ao personagem por sugestão de Newman (e que não estavam previstos originalmente no roteiro de Mamet), tais como o hábito de pingar colírio nos olhos e de espirrar um vaporizador para refrescar o hálito e disfarçar o cheiro de bebida. Do resultado final, Newman está particularmente bem em duas sequências: o discurso final no tribunal, filmado numa única tomada, e no momento em que o veredito é revelado, quando sua expressão é captada por um inesperado movimento de câmera, de baixo para cima.

Chegada a temporada dos prêmios, Paul Newman recebeu sua sexta indicação ao Oscar. Contudo, ele sabia que suas chances eram nulas, já que entre os nomeados estava um até então desconhecido – e imbatível – Ben Kingsley, no papel de ninguém menos que Gandhi.

Apesar de sair de mãos abanando mais uma vez, a segunda consecutiva, Paul Newman voltava a viver um bom momento profissional. Seus últimos 3 filmes (O Inferno no Bronx, Ausência de Malícia e O Veredito) receberam boas críticas e deram um bom dinheiro (embora não chegassem nem de perto aos êxitos comerciais de Golpe de Mestre e Inferno na Torre). Mesmo tendo o dobro (ou até o triplo) da idade dos atores que naquele momento davam as cartas em Hollywood, Newman provava que o público ainda estava disposto a sair de casa para vê-lo. 

Talvez por isso, Newman passou a ser mais seletivo na escolha de seus trabalhos seguintes. Num curto espaço de tempo, recusou os papéis em Amantes e Finanças, de Alan J. Pakula (que acabou sendo desempenhado por Kris Kristofferson), Desaparecido - Um Grande Mistério, de Costa-Gavras (feito por Jack Lemmon) e Tudo Por Uma Esmeralda, de Robert Zemeckis (entregue a Michael Douglas). Nessa época, Newman tentou levar para as telas uma adaptação do romance King of Hill (que seria filmado em 1993 por Steve Soderbergh e batizado aqui no Brasil com o nome de O Inventor de Ilusões) e chegou a pensar numa continuação para Raquel, Raquel. No entanto, nenhum dos dois projetos foi avante.

Newman resolveu voltar à direção em Meu Pai, Eterno Amigo, produção vagamente baseada no romance A Lost King, de Raymond DeCapite e publicada em 1961. Ele assumiu também a função de roteirista em parceria com Ronald Buck, um velho amigo advogado. 

Quando Newman se deu por satisfeito com a versão final do roteiro, procurou algum estúdio interessado em financiá-lo. Foi aí que ele se deu conta de que os executivos só investiriam no projeto se ele interpretasse o protagonista. O raciocínio era simples: se era para investir num filme de Paul Newman, o astro deveria estar evidentemente diante das câmeras e não atrás delas. Na verdade, apesar de ser um nome atraente nas bilheterias, a carreira de Newman como diretor ainda era incipiente, sem nenhum grande sucesso comercial. Newman não queria repetir a experiência de Uma Lição Para Não Esquecer, quando dividiu as funções de diretor e ator. Contudo, pressionado por todos os lados, ele fechou um acordo com a Orion Pictures e novamente aceitou atuar nas duas frentes.

Assumindo o papel principal de Howard Keach, Newman passou a completar o restante do elenco. Seu filho Harry foi vivido por Robby Benson (uma das imposições do estúdio). O interesse romântico do jovem foi entregue a Ellen Barkin, que deixara boas impressões em Quando os Jovens se Tornam Adultos, de Barry Levinson, e o irmão de Howard, a Wilford Brimley, que tanto agradara Newman em Ausência de Malícia. Meio escondido entre tantos nomes, ainda sobrou espaço para um então desconhecido Morgan Freeman, que após pequenas participações em Brubaker e Testemunha Fatal, ambos lançados em 1981, estava prestes a abandonar a carreira.

Meu Pai, Eterno Amigo estreou em março de 1984, sem que a Orion se demonstrasse muito interesse em fazer a divulgação necessária. O fracasso nas bilheterias foi inevitável. Entre os culpados de sempre, apontou-se a má escalação de Robby Benson, a má vontade de Newman em interpretar um personagem de forma forçada e o roteiro, que era reescrito constantemente durante as filmagens.

Talvez frustrado com o resultado final de um projeto tão pessoal, Newman se afastou do cinema pelos dois anos seguintes. Nesse período voltou suas atenções à sua paixão pelo automobilismo, tornando-se um sócios da equipe de Newman-Haas, por onde correram pilotos como Mario Andretti e Nigel Mansell.

Em 1986 Newman voltou às telas com A Cor do Dinheiro, continuação de Desafio à Corrupção, lançado 25 anos antes, e desde então um dos maiores sucessos da sua carreira. A idéia do projeto nascera dois anos antes, quando Walter Trevis escrevera a sequência do seu livro que servira de base para o filme original. Rapidamente Newman comprou os direitos de adaptação e contratou Trevis para um primeiro tratamento. Antes de falecer, ainda naquele ano de 1984, Trevis entregou sua versão do roteiro. Newman leu mas não achou aquela maravilha. Mesmo assim o enviou ao diretor Martin Scorsese, por quem ficara impressionado desde que vira Touro Indomável. Scorsese também não gostou do que leu e fez várias sugestões de alterações. Como as opiniões de ambos pareciam ser convergentes, a coisa avançou. Com o consentimento de Newman, Scorsese trouxe para o projeto o roteirista e escritor Richard Price. Após vários tratamentos, o trio chegou a uma versão final de roteiro. 

Newman tentou trazer Jackie Gleason para o projeto, mas ele disse “não, obrigado” ao perceber que o papel de Minnesota Fats fora reduzido a uma participação discreta demais. Para o importante personagem de Vincent, uma espécie de Eddie Felson mais jovem, Newman e Scorsese queriam Tom Cruise, cujo carisma mostrado nos recentes sucessos como A Chance e Negócio Arriscado, pareciam indicar que o rapaz era mais do que um rostinho bonito. Quando lhe ofereceram o roteiro, Cruise estava filmando Top Gun - Ases Indomáveis e se comprometeu a se incorporar à produção logo após.

A Cor do Dinheiro enfrentou problemas de financiamento. A Fox, produtora de Desafio à Corrupção, mostrou um natural interesse, mas pulou fora do barco após desentendimentos quanto ao roteiro. Newman e Scorsese foram bater às portas da Columbia, que também disse não. Sem muitas opções, a dupla ofereceu o projeto à Touchstone, divisão da Disney responsável pelos filmes adultos. As filmagens começaram em janeiro de 1986 e, com tão pouco dinheiro pra gastar, Scorsese conseguir terminá-la em menos de dois meses.

Durante esse período, Newman recebeu a notícia de que receberia um Oscar honorário pelo conjunto da carreira.  Todos sabiam que o tal “Oscar honorário” não passava de um nome pomposo para Academia pedir desculpas àqueles artistas que, mesmo consagrados pelo público e crítica, passaram suas vidas vendo os outros subir aos palcos para pegar a estatueta dourada. Entre os preteridos famosos, listava-se nome como Charles Chaplin, Cary Grant, Barbara Stanwick, Alfred Hitchcock e, mais recentemente, Peter O´Toole e Jerry Lewis. Newman pensou seriamente em recusar o prêmio. Mas voltou atrás e, em 24 de março de 1986, via satélite (ele estava em Chicago filmando A Cor do Dinheiro mas também não fez muito esforço para se deslocar até Los Angeles), agradeceu o reconhecimento da Academia.

Apesar das suas reservas iniciais, a Touchstone se tocou que A Cor do Dinheiro tinha tudo para dar um bom dinheiro. Newman acabara de receber um Oscar honorário e Tom Cruise, após o sucesso de Top Gun, se tornara o astro mais desejado do momento. A estréia foi antecipada para outubro e o filme cumpriu sua promessa, rendendo U$ 24 milhões no mercado interno e o dobro no estrangeiro (o maior êxito comercial na carreira de Scorsese até então).

A Cor do Dinheiro recebeu quatro indicações ao Oscar, entre elas a de melhor ator para Newman, sua sétima. Seus concorrentes da vez eram William Hurt (por Filhos do Silêncio), Bob Hoskins (Mona Lisa), James Woods (Salvador - O Martírio de um Povo), e Dexter Gordon (Por Volta da Meia-Noite). Era evidente que a competição daquele ano estava bem abaixo se comparada com as anteriores. Seja pela qualidade da sua interpretação, seja por uma mea-culpa da Academia, a vitória de Newman era dada como certa. Dessa vez, o ator se recusou a comparecer à festa. Permaneceu em Nova York, acompanhando a entrega dos prêmios pela televisão. Em seu lugar, ficou combinado que seu amigo Robert Wise subiria aos palcos se a coisa rolasse. Assim, no dia 30 de março de 1987, após um discurso confuso de uma Bette Davis quase senil, o nome de Newman foi pronunciado. Wise nem conseguiu fazer o discurso de agradecimento de forma adequada, já que Bette Davis insistia em interrompê-lo. De toda a forma, a estatueta chegou às mãos de Newman um mês depois da cerimônia, numa festa particular. Ao ser indagado sobre o seu sentimento do momento, Newman emendou a famosa frase: “É como perseguir uma linda mulher por 8 anos. Finalmente, quando ela o aceita, você responde ‘Desculpe, estou cansado’”.

Vinte e cinco anos após sua participação em O Doce Pássaro da Juventude, Newman resolveu revisitar o universo de Tennessee Williams. Seu objetivo era uma dirigir uma nova adaptação da peça À Margem da Vida, dessa vez mantendo-se fiel ao texto tal e qual escrito, algo impensável na Hollywood dos anos 60. Além disso, o projeto caia como uma luva para sua esposa Woodward, que já interpretara o papel principal de Amanda Wingfield nos palcos. A peça havia sido transposta para as telas em duas oportunidades, a primeira, nos anos 50, numa produção da Warner Brothers, com Gertrude Lawrence no papel principal; a segunda, já nos anos 70, num telefilme estrelado por Katharine Hepburn. Na opinião de Newman, nenhuma das duas versões faziam jus à qualidade do material original, que ele considerava a melhor peça americana de todos os tempos. 

Como de hábito, Newman se cercou com os melhores técnicos que pôde encontrar. Para a fotografia, ele contratou o alemão Michael Ballhaus (que conquistara sua confiança após A Cor do Dinheiro), e para a trilha sonora, o veterano Henry Mancini (responsáveis pelas trilhas de todos os seus longas-metragens anteriores). O elenco, por sua vez, contava Karen Allen e John Malkovich nos papéis coadjuvantes. 

Em maio, À Margem da Vida foi exibido na mostra competitiva do Festival de Cannes. A estréia nos EUA se deu em outubro de 1987. Apesar de tratar de uma tema pesado, Newman e Woodward esperavam que o filme caísse no gosto do público de forma lenta e gradual, tal e qual ocorrera com Raquel, Raquel. No entanto, À Margem da Vida não teve a mesma sorte e a bilheteria americana não chegou à casa do U$ 1 milhão.

Seja pelo sucesso de A Cor do Dinheiro, ou pelo fracasso de À Margem da Vida, o fato é que Newman, aos 62 anos já demonstrava um certo enfado com a profissão. Ele não se considerava mais na idade de ter que passar por certas situações, como apertos de financiamento, perturbações no set de filmagens, pressões pelo retorno de bilheteria e, o pior dos castigos, o circuito de entrevistas e viagens para a divulgação do filme. Qualquer um que olhar a filmografia de Paul Newman a partir de meados da década de 1980, perceberá que suas participações começaram a rarear cada vez mais. Ele se tornou perito em recusar projetos que mostravam qualquer tipo de dificuldade. Entre 1987 e 1989, o ator descartou, por exemplo, a adaptação de um romance de Herman Melville, que seria dirigida por John Huston (com a morte de Huston em 1987, o filme nem seria realizado). Também não deu certo uma nova reunião com seu amigo Martin Ritt, naquilo que seria um retrato da vida do general americano Joseph Stiwell (o personagem que fora interpretado por Robert Stack, na comédia de 1941 - Uma Guerra Muito Louca, que Spielberg dirigira em 1979). Por não se sentir confortável em filmes de época, Newman igualmente disse não à adaptação da novela Taipan, um tijolaço escrito por James Clavell; e para completar o quadro, largou a produção de Velho Gringo logo no início das filmagens, sem qualquer motivo aparente (seu papel do jornalista Ambrose Bierce seria interpretado por Gregory Peck).

Em 1989, Newman resolveu dar as caras em dose dupla. O primeiro projeto chamou-se O Início do Fim, ambiciosa produção de David Puttnam, que abordava o tema do desenvolvimento da bomba atômica. Puttnam fora um dos produtores de maior sucesso na história recente de Hollywood, responsável por levar às telas filmes como O Expresso da Meia-Noite, em 1978, e Carruagens de Fogo, em 1981. Naqueles últimos dias dos anos 80, seu cacife já não estava assim tão em alta, mas ainda era capaz de atrair gente de peso para seus projetos. Puttnam queria mostrar que não estava para brincadeira. Ele trouxe o diretor Rolland Joffé, então na crista da onda após duas recentes indicações ao Oscar por Gritos no Silêncio, em 1984, e A Missão, em 1986. Não satisfeito, recheou a equipe técnica de nomes respeitados, como Vilmos Zsigmond para a fotografia e Ennio Morricone para a trilha sonora. Por sua vez, Newman interpretava o General Leslie Groves, militar a quem o cientista J. Robert Oppenheimer devia satisfação. 

A preocupação com o apuro visual e musical do filme foi tanta, que Puttnam não percebeu que não tinha um roteiro de qualidade nas mãos. O resultado apareceu na tela. Os personagens eram mal desenvolvidos e a história, narrada de forma confusa e arrastada. O Início do Fim foi um dos maiores fracassos do ano.

Ainda em 1989, Newman estrelou Blaze - O Escândalo, primeira das quatro produções que se comprometera a fazer para a Touchstone quando esta financiara A Cor do Dinheiro. O título se referia à prostituta Blaze Starr e o seu romance com Earl K. Long, Governador do Estado da Louisianna. A direção e o roteiro ficara ao encargo de Ron Shelton, que caíra no gosto dos produtores após o sucesso da comédia sobre beisebol Sorte no Amor, lançado ano anterior. Para o papel de Blaze, Shelton escolheu a canadense Lolita Davidovich (com quem se casaria após as filmagens). Newman defende o personagem do Governador com dignidade, mas o filme era descartável demais para ser lembrado pela Academia. Lançado no final de 1989, Blaze marcou o segundo revés na carreira de Newman em apenas um ano.

Em 1990, Newman e Woodward resolveram trabalhar juntos pela última vez em Cenas de uma Família. O projeto baseava-se nos romances Mrs. Bridge, de 1959, e Mr. Bridge, publicado dez anos depois, ambos escritos por Evan S. Connell. Woodward já era fã dos livros há tempos e sempre tivera o interesse de produzi-lo para a televisão. Sua idéia só saiu do papel quando soube que o diretor James Ivory também era um admirador dos textos. Ivory ainda estava em alta após os bem recebidos Uma Janela Para o Amor, de 1986 e Maurice, de 1987. Partiu dele a sugestão de unir ambos os livros num único roteiro e transformar a produção num longa-metragem para cinema.

Cenas de uma Família conta a história de Walter e Índia Bridge, um casal de classe média alta na Kansas City dos anos 30. Walter (Paul Newman) é um advogado de rígidos padrões morais. Distante e frio, ele tem dificuldades em se relacionar com a família e amigos. Índia, por sua vez, é dependente do marido e raramente questiona suas opiniões. O resultado final é exatamente aquilo que se espera de um filme de James Ivory: boas interpretações, uma detalhada reconstrução de época, e uma narrativa pra lá de convencional, excessivamente comportada e acessível a todos os públicos.

Cenas de uma Família estreou em Nova York e Los Angeles em novembro de 1990. Pelo papel de Índia Bridges, Woodward foi considerada a melhor atriz do ano pelos críticos de cinema de Nova York, além de receber uma indicação ao Oscar (sua quarta e até agora última). Apesar da publicidade trazida por esses prêmios, Cenas de uma Família rendeu menos de U$ 8 milhões no mercado americano. Se o filme representava o terceiro fracasso seguido de Newman, era um dos primeiros em longo tempo que fora bem recebido pela crítica e que o ator ficara satisfeito com resultado que vira na tela.

Entre 1990 e 1994, Newman pouco deu as caras. Durante esse intervalo, esteve na cerimônia do Oscar de 1991 para apresentar, ao lado de Elizabeth Taylor, o prêmio máximo da noite, vencido por O Silêncio dos Inocentes, e recebeu da Academia o reconhecimento da Academia pelas suas atividades na área social.

Newman saiu da mini-aposentadoria em 1994, com a comédia Na Roda da Fortuna, dirigida pelos irmãos Ethan e Joel Cohen. A história era ambientada no final dos anos 1950, e pretendia ser uma homenagem às comédias de Frank Capra e Preston Sturges. Ethan e Joel não eram diretores do chamado cinemão americano. Seus projetos eram sempre pessoais, escritos e montados por eles mesmos. Estava acostumados – e até preferiam – a trabalhar com orçamentos reduzidos, que mal davam pra pagar o salário dos grandes astros. Eles chamaram a atenção em 1984 com o policial-noir Gosto de Sangue, e seguiram com uma carreira de filmes bizarros, quase sempre adorados pela crítica e ignorados pelo público. Em 1991, entraram para a história do Festival de Cannes com a farta premiação recebida por Barton Fink - Delírios de Hollywood. Talvez por isso, o produtor Joel Silver, responsável pela série Maquina Mortífera, resolveu investir na dupla. Na Roda da Fortuna era, de longe, o filme mais caro já realizado pelos irmãos Coen. 

Newman interpretava o todo-poderoso Sidney J. Mussburger, dono das empresas Hudsucker, que vê a oportunidade de tirar uma casquinha da invenção revoluncionária de um de seus funcionários, o ingênuo Norville Barnes (Tim Robbins).  Newman nunca se considerou como um ator de comédia (e suas tentativas frustradas ao longo da carreira estavam lá para provar), mas Na Roda da Fortuna trouxe umas das suas interpretações mais relaxadas e prazerosas. O filme estreou em março de 1994 e, tal e qual as obras anteriores dos Coen, fracassou nas bilheterias americanas.

Ainda em 1994, Newman voltou a estrelar uma produção, batizada no Brasil de O Indomável - Assim é Minha Vida. O filme era baseado num romance de Richard Russo (que trabalhara com Newman em A Cor do Dinheiro). Robert Benton assinou a adaptação bem como a direção. Newman interpretava Mike Sullivan, morador da pequena North Bath, no Estado de Nova York, que passa o tempo reclamando do emprego, do seu problema no joelho e planejando uma vingança contra o seu chefe Carl Roebuck (vivido por Bruce Willis). Nas horas vagas, Sullivan flerta com Toby, esposa de Carl, interpretada por Mellanie Griifith. Consciente de que falhara na sua missão de marido e pai, Sullivan tenta se aproximar do seu filho Peter (Dylan Walsh), que também atravessa por uma crise no seu casamento. A reencontro faz com que eles percebam que tem muito o que aprender um com o outro. Ainda que narrado naquela forma acadêmica de Benton, as qualidades de O Indomável se sobressaem. 

O filme estreou em circuito reduzido em dezembro de 1994, a tempo de habilitar-se às indicações ao Oscar daquele ano e, com isso, ganhar alguma publicidade. As reações foram bastante satisfatórias, especialmente em relação à atuação de Newman. Chegada a temporada de prêmios, ele foi considerado o melhor ator pelos críticos de Nova York, pela Associação Nacional dos Críticos dos EUA, e no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Quando saíram os indicados aos prêmios da Academia, O Indomável  recebeu duas nomeações, entre elas para Newman (sua oitava). Entretanto, entre os concorrentes figurava o nome de um invencível Tom Hanks, por Forrest Gump - O Contador de Histórias. Newman compareceu à festa mas sabia que era carta fora do baralho.

O ator resolveu tirar novo descanso de quatro anos, até que Robert Benton o convidasse para o seu novo filme, o suspense noir Fugindo do Passado. Ao seu lado, o elenco previa nomes importantes como Gene Hackman, Susan Sarandon e a então novata Reese Whiterspoon. Fugindo do Passado tinha um bom acabamento mas tinha o defeito de simplesmente desaparecer da lembrança do público assim que acabava a sessão. Lançado em março de 1998, rendeu modestos U$ 15 milhões nos EUA e caiu para sempre no anonimato.

Ainda em 1998, Newman desempenharia aquele que seria seu último papel de protagonista numa produção para cinema. O filme chamou-se Cadê Minha Grana? e era uma produção de Ridley e Tony Scott. Ocupados com outros compromissos, eles entregaram a direção ao amigo Marek Kanievsksa, cujo trabalho mais famoso fora o drama sobre drogas Abaixo de Zero. Newman interpretava Henry Manning, um ladrão já veterano que pretende dar seu último golpe. Ao seu lado no elenco, estava Linda Fiorentino, que até aquele instante, não conseguira se livrar da imagem de femme-fatale que lhe ficara impregnada desde O Poder da Sedução e Jade.

As câmeras começaram a rodar em janeiro de 1998, no Canadá, mas os inúmeros problemas de bastidores acabaram com o seu potencial comercial, se é que havia algum. Cadê Minha Grana? foi lançado em circuito reduzido em abril de 2000, mais de dois anos após o início das filmagens. Newman e Fioentino tentaram ajudar, comparecendo aos eventos de lançamento. Mesmo assim, a obra estava condenada desde o inicio e os U$ 5,6 milhões arrecadados no mercado americano não representava nem 1/3 do seu custo total.

Cadê  Minha Grana? demorou tanto para sair do forno que, entre o início das filmagens e a sua estréia nos cinemas, Newman teve tempo de fazer uma participação coadjuvante no romance Cartas de Amor. O filme era uma produção da Warner Brothers, que viu no best-seller de Nicholas Sparks uma boa oportunidade de dar uma turbinada na carreira do astro Kevin Costner, que começava a andar pra trás após os desastres de Waterworld - O Segredo das Águas e O Mensageiro. A direção ficou sob a incumbência do argentino Luis Mandoki, cineasta que desde o ótimo drama Gaby - Uma História Verdadeira, de 1987, não realizara nada muito relevante. Newman interpretava o pai de Costner, mas seu tempo de exposição na tela era pequeno demais. Segundo as más línguas, Costner – que também atuara como co-produtor – teria deixado grande parte das cenas de Newman na sala de montagem.

O último grande papel vivido por Newman no cinema seria o do gângster John Rooney, no drama policial Estrada Para Perdição. O filme era uma adaptação da história em quadrinhos de autoria de Max Allan Collins e Richard Piers Rayner. Vendo um bom potencial dramático na história, a Fox e a Dreamworks – que dividiram os custos de produção – dedicaram a ela um respeitável orçamento de U$ 80 milhões. Sam Mendes ficou encarregado da direção. A fotografia foi entregue ao veterano Conrad Hall, homem de confiança de Newman (ele assumira essa função em Butch Cassidy e Rebeldia Indomável). Encabeçando o elenco estava Tom Hanks no papel de Michael Sullivan, um devotado homem de família, que trabalha para John Rooney. A relação entre os dois é tão próxima, que desperta o ciúme do filho biológico de Rooney, vivido por Daniel Craig.

Estrada Para Perdição estreou nos EUA em julho de 2002 com críticas variáveis. Ainda que houvesse no ar uma certa frustração com o resultado final, todos eram unânimes em afirmar que Newman estava excepcional. Muitos já antecipavam sua vitória no Oscar, cujas indicações só seriam divulgadas dali a sete meses. Em termos de bilheteria, o filme rendeu U$ 104 milhões em solo americano e apenas metade disso no exterior. Quando a temporada de prêmios chegou, Estada Para Perdição recebeu seis indicações ao Oscar, uma delas para Newman (sua nona, e a primeira por um papel coadjuvante). Newman compareceu à cerimônia, em 23 de março de 2003, mas sabia que o grande favorito à estatueta era Chris Cooper, por Adaptação, o que acabou se confirmando.

Em 2005, Newman trabalhou pela última vez ao lado de Joanne Woodward, no telefilme Empire Falls, produção da HBO. Era a primeira vez que o casal se reunia desde Cenas de uma Família, realizado quinze anos antes, e o primeiro papel vivido por sua esposa desde Filadélfia, de 1993, em que interpretara a mãe do personagem de Tom Hanks. Empire Falls era baseado no romance de Richard Russo, que lhe rendeu o prêmio Pulitzer. Newman adorou o livro, mas sabia que seria impossível condensar toda aquela história nas duas horas tradicionais de um filme de cinema. Então resolveu procurar a HBO com a proposta de uma produção para a televisão. Os executivos toparam a parada e concordaram em bancar o projeto para um filme de três horas e meia. A primeira escolha de Newman para a direção foi seu amigo Robert Benton. No entanto, ele estava ocupado, e o australiano Fred Schepisi assumiu o barco. O elenco all-star incluía, além de Newman e Woodward, nomes consagrados como Ed Harris, Philip Seymour Hoffman, Robin Wright Penn e Helen Hunt, As filmagens começaram em setembro de 2003, sendo levado ao ar em maio de 2005. As críticas não foram lá muito animadoras, o que não impediu de o filme ser indicado a vários prêmios. Por esse trabalho, seu último diante das telas, Newman conquistou o Globo de Ouro e o Emmy de melhor ator em uma produção para a televisão.

Em 2006, Newman realizou seu ultimo trabalho profissional para o cinema. A pedido da produtora Pixar, ele dublou o personagem de Doc Hudson, na animação Carros

Em maio de 2007, o ator anunciou sua aposentadoria. Na época, disse que a idade não mais lhe permitia atuar num nível de qualidade que ele exigia de si mesmo. No ano seguinte, ele resolveu estrear na direção teatral. A obra escolhida foi Ratos e Homens, de John Steinbeck. No entanto, em maio de 2008 ele se afastou da produção por problemas de saúde. Em junho, os médicos diagnosticaram que Newman tinha câncer nos pulmões. Após as sessões de quimioterapia, o ator avisou a família que não queria dar prosseguimento ao tratamento e que preferia aguardar a morte em casa. Em setembro de 2008, Newman faleceu. Ele tinha 83 anos.

De O Cálice Sagrado, de 1954, a Carros, de 2006, Paul Newman se expôs diante das telas por mais de seis décadas. Exigente consigo mesmo, é provável que ele tenha morrido sem se considerar o grande ator que foi. Durante toda sua vida lutou para não ser rotulado como mais um jovem sexy que desembarcava em Hollywood cheio de sonhos e fantasias. Conseguiu fugir deste estigma nos primeiros anos da sua carreira, quando desempenhou seus melhores personagens. Não seria exagero afirmar que o seu Eddie Felson, em Desafio à Corrupção e Hud Bannon, em O Indomado, estão entre as melhores interpretações de um ator americano no cinema. Com o passar dos anos, tornou-se um pouco mais desleixado na escolha dos novos projetos, ora se deixando levar por produções repetitivas (como A Piscina Mortal), insossas (O Emissário de Mackintosh), descartáveis (500 Milhas) ou até mesmo verdadeiras barcas furadas (O Dia em que o Mundo Acabou). Não teve vergonha de dançar conforme a música e saber optar por filmes unicamente por seu potencial comercial (Inferno na Torre). Nos últimos anos, com a idade já avançada e mais relaxado, voltou a procurar roteiros que lhe representassem algum tipo de desafio (O Veredito e O Indomável).

No inventário final da sua filmografia, não há dúvida que o saldo é mais do que positivo. Newman não era apenas um rostinho bonito. Era, sim, um Ator com "A" maiúsculo. Um dos melhores que o cinema mundial viu durante o Século XX. 

Comentários (1)

Silvia Lima | quinta-feira, 18 de Abril de 2013 - 17:52

Sim. Saudade eterna.

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