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Paul Newman - A Biografia Completa (parte 2)

 

Biografia Paul Newman - Parte I

Biografia Paul Newman - Parte III

Biografia Paul Newman - Parte IV

 

Paul Newman abriu os anos 60 com Paris Vive à Noite, nova e dispensável parceria com o diretor Martin Ritt e a esposa Joanne Woodward, lançada em 1961. O ator deu a volta por cima ainda no mesmo ano, com aquele que seria um dos melhores filmes da sua carreira: Desafio à Corrupção.

Ironicamente o papel do jogador de bilhar Eddie Felson só caiu no colo de Newman por causa de uma doença de Elizabeth Taylor. Após Paris Vive à Noite, Newman e Taylor repetiriam a dupla de Gata em Teto de Zinco Quente na adaptação cinematográfica da peça Dois na Gangorra, escrita por William Gibons em 1958 e que já estava em fase de pré-produção, com Robert Wise na direção. Com a retirada da atriz do projeto, Newman preferiu tirar o seu time de campo também.

Ao descobrir que a agenda de Newman estava livre, o diretor Robert Rossen lhe enviou o roteiro que escrevera em parceria com Sidney Carroll, baseado num pouco conhecido livro escrito por Walter Trevis, em 1959. Newman precisou ler apenas a metade do texto para dizer sim.

O roteiro previa três personagens chaves na trama. O primeiro deles, Minnesota Fats, o melhor jogador de sinuca do país, foi entregue ao comediante Jackie Gleason, estrela da televisão americana. Para viver Bert Gordon, o inescrupuloso empresário, Rossen escolheu George C. Scott, que, apesar de ter apenas dois filmes no currículo, já fora indicado ao Oscar por Anatomia de um Crime, dois anos antes. Por fim, o papel da emocionalmente frágil Sarah Packard coube a Piper Laurie, que já contracenara com Paul Newman em Famintas de Amor e, desencantada com Hollywood, nada mais fizera desde então.

Desafio à Corrupção foi filmado e montado em Nova York. Necessitada de um urgente sucesso de bilheteria, após o estouro do orçamento de Cleópatra, a Fox considerou o primeiro corte, de 135 minutos, longo demais para o grande público. Sua idéia inicial era cortar toda a seqüência que antecede aos créditos e algumas das cenas dos jogos de sinuca. Numa exibição teste, a versão imaginada por Rossen se provou um sucesso e o estúdio acabou cedendo.

Desafio à Corrupção vale-se de uma direção fluida de Rossen, que aproveita as potencialidades do formato largo de tela do cinemascope para construir belos e poderosos planos. A primeira seqüência de jogo de sinuca entre Eddie Felson e Minnesota Fats é brilhantemente filmada, desde a tacada inicial, com os dois atores centralizados no quadro. A montagem de Dede Allen colabora para a narrativa e a estrutura dramatúrgica do filme. O elenco coadjuvante masculino se sobressai e é quase impossível difícil dizer quem está melhor: se George C. Scott, um dos melhores atores americanos do Século XX, ou Jackie Gleason, supreendentemente contido como o gordo Minnessota. Apesar da forte concorrência, é Paul Newman quem domina o filme de ponta a ponta. Natural e sem os maneirismos dos filmes anteriores, ele constrói um Eddie Felson auto-confiante, narcísico, egoísta, solitário, sensual, obsessivo pelo jogo de bilhar e que, ao final, reconquista seu orgulho e dignidade, ainda que um preço alto demais.

O filme estreou em setembro de 1961, obtendo um retorno respeitável das bilheterias, mas não espetacular. Ainda assim, no início do ano seguinte, Desafio à Corrupção recebeu oito indicações ao Oscar, uma delas para Paul Newman (sua segunda). Como compensação por esse fracasso, o ator conquistou o BAFTA de melhor ator.

Após ter lançado talvez o melhor filme da sua carreira até então, Newman retornou à MGM para estrelar a adaptação da peça O Doce Pássaro da Juventude, de Tennessee Williams, que o ator já interpretara na Broadway em 1959. Para reprisar o papel de Chance Wayne, um gigolô já envelhecido e ator fracassado, Newman recebeu U$ 350 mil.

A versão cinematográfica foi adaptada por Richard Brooks, então na crista da onda em Hollywood, após o sucesso de Entre Deus e o Pecado, que lhe rendera o Oscar de roteiro adaptado em 1960.

O papel da protagonista Alexandra Del Lago, um decadente estrela de cinema, foi vivido por Geraldine Page, que também o interpretara nos palcos, ao lado de Newman. Apesar de respeitada no teatro, Page nunca dera muita bola para o cinema. Até então, sua carreira na tela grande se resumia a apenas três filmes, incluindo o faroeste Caminhos Ásperos, lançado em 1953, e Anjo de Pedra, em 1961 (ironicamente, fora indicada ao Oscar pelos dois). De certa forma desconhecida do grande público, a MGM estudou a possibilidade de retirá-la do projeto e, em seu lugar, colocar alguma outra estrela que já estivesse entrando em fase de declínio mas que ainda mantivesse um pouco do glamour dos tempos dourados. Opções não faltavam: Ava Gardner, Rita Hayworth, Lana Turner e outras tantas. Eventualmente, a MGM voltou atrás e Page acabou ficando com papel.

O filme estreou nos EUA em março de 1962, sem despertar muita atenção da crítica e do público. Ainda assim, foi lembrado pela Academia com quatro importantes indicações, entre elas, de melhor atriz para Page. Desta vez, Paul Newman ficou de fora.

No mesmo ano de 1962, Newman aceitou fazer uma participação especial em As Aventuras de um Jovem, adaptação de vários contos de Ernest Hemingway e no qual o ator revive o papel que interpretara anos antes, no telefilme The Battler. As Aventuras de um Jovem foi dirigido por Martin Ritt e produzido por Jerry Wald (a dupla por trás de O Mercador de Almas). Apesar do talento da dupla, o filme foi um dos maiores fracassos do ano da Fox.

A carreira de Paul Newman voltou aos trilhos em 1963, com O Indomado, quarta colaboração do ator com o diretor Martin Ritt. Após duas bolas-foras (Paris Vive à Noite e As Aventuras de um Jovem) a dupla viu no rancheiro Hud Bannon, um personagem ideal para desenvolverem um trabalho de qualidade. Àquela altura, Newman e Ritt já eram sócios numa produtora, o que os levou a oferecer o projeto para a Paramount, que comprou a idéia. O roteiro, baseado no livro Horseman, Pass By, de Larry McMurtry (que, 42 depois, ganharia o Oscar da categoria por O Segredo de Brockeback Mountain), ficou sob a incumbência de Irving Ravetch e Harriet Frank Jr., que já haviam escrito para Newman e Ritt o script de O Mercador de Almas. Para a fotografia, Ritt escalou o veterano James Wong Howe.

Para viver a personagem de Alma, a cozinheira da família, foi escolhida a atriz Patricia Neal, que conhecia Paul Newman desde os tempos da Actors Studio. Após ter aparecido bem em Um Rosto na Multidão, em 1957, e Bonequinha de Luxo, de 1961, Neal estava passando por sérios problemas emocionais por causa da morte de sua filha. Achava que os superaria o quanto mais rápido voltasse ao trabalho. Por isso, quando recebeu o convite de Ritt, nem se importou com o fato de o papel ser relativamente pequeno. O elenco ainda contava com o veteraníssimo Melvyn Douglas e Brandon de Wilde interpretando Homer e Lonnie, respectivamente o pai e o sobrinho de Hud.

Em O Indomado, Paul Newman interpreta seu personagem mais asqueroso, sujo, hedonista e egoísta da carreira. Hud Bannon é um homem sem princípios, descrente do ser humano, e que defende piamente que o segredo da vida é levar vantagem a qualquer custo, nem que para isso, por exemplo, ele tenha que vender um rebanho inteiramente contaminado de febre aftosa. Homer, por sua vez, é oposto de Hud, tradicional até o último fio de cabelo e que preza os valores do passado. O sobrinho Lonnie vê no tio a figura do pai que perdera num acidente de carro e tenta, de alguma forma, se conectar a ele, saindo às noites para tomar cerveja e paquerar mulheres casadas. Mas ele percebe que não faz parte daquele mundo. Sua personalidade é muito mais próxima do avô Homer do que de Hud.

Além da espetacular fotografia em preto e branco, que prioriza as grandes paisagens do Texas, outros dois trunfos de O Indomado estão na melancólica trilha sonora de Elmer Bernstein e na precisão dos detalhes da cidadezinha em que a história é ambientada, que acentuam a solidão e o vazio interior dos personagens. Se o final de Desafio à Corrupção indica alguma esperança para Eddie Felson, em O Indomado, Hud Bannon está condenado a viver solitário, amargo, incapaz de sentir um mínimo de compaixão pelo próximo.

O filme estreou em Nova York em maio de 1963. A crítica o saudou com entusiasmo (Pauline Kael sempre foi uma das suas maiores defensoras), ajudando a fita a se transformar num sucesso de bilheteria. A Academia também não deixou pra trás, indicando-o aos Oscars nas principais categorias, entre elas a de melhor filme, direção e ator (a terceira de Paul Newman).

Newman decidiu permanecer na Paramount, para quem realizou seu filme seguinte: Amor Daquele Jeito, comédia romântica dirigida por Melville Shavelson e em que contracenou pela quarta vez com Joanne Woodward. Desde o início, Newman se mostrou resistente ao projeto. Apesar de Shavelson ser o homem responsável por Tentação Morena e Aconteceu em Nápoles, dois dos maiores sucessos recentes da Paramount, Newman considerava seus trabalhos excessivamente triviais . No final das contas, acabou aceitando em participar do filme como um favor a esposa, cuja carreira parecia ter chegado a um beco sem saída.

Amor Daquele Jeito estreou em Nova York em outubro de 1960 e, mesmo com toda a máquina publicitária da Paramount por trás, foi um fracasso de crítica e público. Newman e Woodward só voltariam a trabalhar juntos diante das câmeras seis anos depois.

No mesmo ano de 1963, Paul Newman retornou à MGM para filmar Os Criminosos Não Merecem Prêmios, thriller de espionagem vagamente baseado no romance de Irving Wallace e que causou polêmica na época por sugerir a existência de fraude nas escolhas do Prêmio Nobel. O filme marcou uma nova reunião de Newman com a dupla Mark Robson e Ernest Lehman, diretor e roteirista de Paixões Desenfreadas. O elenco contava com a novata Elke Sommer e o veterano Edward G. Robinson.

Os bastidores foram extremamente complicados. Os produtores resolveram filmar a história na Suécia, onde a trama era efetivamente ambientada. No entanto, ao saber que a trama colocava em xeque a credibilidade de uma verdadeira instituição nacional como o Prêmio Nobel, as autoridades suecas deram bilhete azul para a equipe de filmagem. A MGM se viu repentinamente obrigada a construir todos os cenários em estúdio, nos EUA. Como se não bastasse, Newman entrou em atrito com o diretor Mark Robson por questões relacionadas à composição de seu personagem. O ator se achava muito jovem para o papel, o que lhe deu a idéia de deixar a barba crescer, com o que Robson discordava. Finalmente, Robson venceu. Além disso, Newman e Sommer demonstravam pouca química diante das telas.

O filme estreou em dezembro de 1963, com críticas mornas. O público não quis saber da opinião dos especialistas e aderiu à fita por completo, transformando-a num dos maiores sucessos do ano e fazendo com que Paul Newman ingressasse pela primeira vez na lista dos dez atores de maior bilheteria do ano.

Em 1964, Newman aceitou fazer sua segunda participação especial na comédia A Senhora e Seus Maridos, distribuída pela Fox. Shirley MacLaine (recém indicado ao Oscar por Irma La Douce) encabeçava o elenco, que ainda tinha, além de Newman (desta vez de barba), Robert Mitchum, Gene Kelly e Dean Martin.

No mesmo ano,  Newman embarcou em Quatro Confissões, um de seus projetos mais ambiciosos. Produzido pela MGM e dirigido novamente por Martin Ritt (quinta parceria da dupla), o filme era uma refilmagem de Rashomon, grande sucesso internacional de Akira Kurosawa.

Desde 1959 já rodava pelos estúdios uma versão americana da história. Quando a MGM demonstrou interesse no projeto, ela pediu aos roteiristas que transpusessem a ambientação da trama para o velho Oeste. Solicitação atendida, o estúdio procurou Paul Newman e lhe ofereceu o papel do bandido mexicano Juan Carrasco (o correspondente ao interpretado por Toshiro Mifune no filme original). O ator não conseguiu se ver naquele papel e achou por bem recusar a oferta. Mais que isso, sugeriu que levassem o roteiro a Marlon Brando, que, doze anos antes, interpretara com sucesso um mexicano em Viva Zapata! O estúdio pensou: "Por que não?" e foi ver o que Brando pensava a respeito. O astro, cujos últimos filmes (O Grande Motim e Quando os Irmãos se Defrontam) pareciam piada perto dos que ele realizara no início dos ano 50, adorou o roteiro mas, como sempre, disse que não podia se comprometer. Com nova recusa em mãos, os executivos voltaram a oferecer o papel a Paul Newman. Nenhuma linha do roteiro fora alterada. Mas um detalhe fazia toda a diferença: Brando o aprovara. Para Newman era o que bastava. Era interessante observar que, independentemente dos anos que se passavam e do estágio da carreira de ambos, Paul Newman ainda via em Marlon Brando um mito, uma eterna referência a ser seguida.
 
Newman deveria ter confiado mais em seus instintos. Apesar de ter permanecido no México por duas semanas, pesquisando o sotaque local, e do eclético elenco coadjuvante que contava com Claire Bloom, Laurence Harvey e Edward G. Robinson, o ator não convence no personagem. De sombreiro, poncho e bigode, Newman parece a paródia de um mexicano.

Quatro Confissões estreou em Nova York em outubro de 1964, com críticas não muito entusiastas. O público não captou a mensagem do filme e fez dele um fracasso nas bilheterias. Apesar disso, Paul Newman sempre lembrava deste trabalho com orgulho, considerando-o um de seus melhores.

Se Quatro Confissões representou um passo atrás em relação a O Indomado, com seu filme seguinte, Lady L, comédia romântica baseada num romance de Romain Gary, o retrocesso foi maior ainda. Com Lady L, seu produtor Carlo Ponti pretendia dar uma agitada na carreira hollywoodiana de sua esposa Sophia Loren. Apesar de boas presenças em Tentação Morena, de 1958, e El Cid, de 1961, seu nome ainda não engrenara da forma como se imaginara. Pra piorar, seu último filme, a super-produção A Queda do Império Romano, não se pagara.

A direção de Lady L foi entregue ao multi-talentoso Peter Ustinov, que naquele ano ganharia seu segundo Oscar de coadjuvante por Topkapi. Paul Newman interpreta Armand, um anarquista francês, caracterizado com pesada maquiagem e vestimenta. Mais uma vez, a química não se fez entre os protagonistas Newman e Loren, que parecem perdidos num roteiro inflado e vazio.

Lady L estreou na Grã-Bretanha em dezembro de 1965. As críticas foram tão devastadoras que a MGM resolveu postergar o seu lançamento em solo americano para maio de 1966, tentando com isso aproveitar o vácuo do sucesso do filme seguinte de Newman, Harper – O Caçador de Aventuras, àquela altura já em cartaz. Não adiantou. Lady L foi um dos maiores fracassos do ano.

Com dois revezes em seqüência, Newman precisava voltar a acertar. Pra isso, resolveu não inventar. Aceitou voltar para a Warner, estúdio para o qual não trabalhava desde 1959, e entrou de cabeça em Harper – O Caçador de Aventuras, adaptação do romance policial The Moving Target, de Ross MacDonald, escrita pelo então novato William Goldman.

O mundo estava em 1966 e os filmes de detetive particulares estavam há tanto tempo fora do circuito que pareciam cheirar a mofo. Fazia já uns bons 20 anos que a própria Warner se especializara no gênero, com obras-primas como Relíquia Macabra e À Beira do Abismo, tiradas das obras de Dasheil Hammett e Raymond Chandler. Mas o roteiro de Goldman trazia algo de diferente, de renovador. A Warner resolveu apostar.

Sua primeira escolha para viver o protagonista foi Frank Sinatra, em alta nas paradas de sucesso por causa de O Expresso de Von Ryan. Ao ouvir o não do old blue eyes, o estúdio apresentou o roteiro para Newman, que estava em Paris, filmando Lady L. O ator gostou do que leu, sem não deixar de fazer algumas exigências: a mais estranha foi a mudança do nome do personagem principal de Lew Archer para Lew Harper. Isto porque Newman passara a achar que seus sucessos estavam relacionados com a letra H (vide Desafio à Corrupção The Hustler, no original – e O Indomado Hud).

Para tornar Harper mais atraente, a Warner recheou o filme com nomes famosos para os papéis coadjuvantes. Assim, Newman divide as telas com Lauren Bacall, Shelley Winters, Robert Wagner, Arthur Hill e Julie Harris. A direção ficou ao encargo de Jack Smight um experiente diretor de televisão e já com dois longas-metragens para cinema no currículo.

Harper – O Caçador de Aventuras não se presta a maiores vôos psicológicos. É cinema de entretenimento, daqueles que os americanos são PHDs. Na história, o detetive vivido por Newman é contratado por uma mulher (Bacall) para descobrir o paradeiro de seu marido desaparecido.  Durante a investigação, cercada de mistérios e reviravoltas, bem ao estilo noir, Harper se depara com diversos tipos de personagens, desde solitárias, viciadas em drogas, gigolôs, pedófilos etc. Lançado em fevereiro de 1966, Harper cumpriu os objetivos pretendidos: deu dinheiro para os estúdios e tirou a carreira de Newman do vermelho.

Terminadas as filmagens de Harper e com a agenda disponível, Newman recebeu a proposta de trabalhar em Cortina Rasgada, novo filme de Alfred Hitchcock. Fã do mestre do suspense, Newman mostrou imediato interesse. Para Hitchcock, o nome de astro como Newman caia como uma luva. Após os fracassos de Os Pássaros e Marnie, Confissões de uma Ladra, o diretor precisava reconquistar a confiança dos estúdios.

No primeiro encontro dos dois, Hitchcock evitou mostrar o roteiro a Newman, alegando que ele ainda exigia alguns ajustes. O ator, que nunca fizera algo parecido, confiou nos instintos do diretor e embarcou no projeto. Quando o script chegou às suas mãos, Newman começou a achar que pisara na bola. O ator, então, enviou uma carta a Hitchcock, listando quatorze itens que o desconfortavam, que iam desde a atmosfera geral do filme, passavam por incoerências na trama e em seu personagem, e chegavam até ao título da fita. Mas Newman sabia que, com Hitchcock, o buraco era mais embaixo e que suas reclamações seriam ignoradas pelo diretor.

Se a relação de Hitchcock com Paul Newman não era nenhuma maravilha, pior ainda foi com a protagonista escolhida pelo estúdio, Julie Andrews. Nome dos mais quentes em Hollywood após o mega-sucessos Mary Poppins (que lhe rendera o Oscar) e A Noviça Rebelde, Andrews parecia ser Rainha Midas em pessoa. Mesmo não a achando ideal para o papel, Hitchcock foi obrigado a engoli-la por questões estritamente comerciais. Pra colocar mais lenha nessa fogueira, Julie Andrews estava com a agenda apertada pelas filmagens da super-produção Hawai. Isso exigiu que a produção de Cortina Rasgada começasse mais cedo do que Hitchcock queria, antes  mesmo de ter preparado todos os story-boards.

Por trás câmeras a coisa não ia melhor. O diretor já não podia contar com dois de seus principais colaboradores tradicionais: o fotógrafo Robert Burks, não disponível, e o montador George Tomasini, morto em 1964. Bernard Herrmann, por sua vez, que tinha composto uma partitura completa para o filme, foi demitido por Hitchcock durante a produção após não conseguir convencê-lo a fazer algumas modificações em seu trabalho.

Com tantos problemas, Cortina Rasgada parecia fadado ao fracasso. No papel do cientista Michael Armstrong, que supostamente oferece seus serviços aos países da Cortina de Ferro para trabalhar no desenvolvimento de uma arma contra a bomba atômica, Paul Newman parece ligado no piloto automático, sem alma. Sua parceria com Julie Andrews, fria. Mesmo a seqüência mais famosa, a do assassinato de um agente alemão, não deixa maior impressão. As demais cenas de suspense, em que o casal tenta fugir da Alemanha Oriental, por bicicletas, ônibus e navio, são pouco excitantes.

Cortina Rasgada estreou em julho de 1966 com críticas negativas. Ainda assim, o apelo da dupla central compensou tudo, fazendo o filme arrecadar respeitáveis 6 milhões de verdinhas só no mercado americano.

Para superar a experiência traumática de Cortina Rasgada, Newman resolveu se reunir pela sexta vez – e última – com seu amigo Martin Ritt para a filmagem do faroeste Hombre. Após a frustração de Quatro Confissões, Ritt voltara à moda com o sucesso de O Espião que Saiu do Frio, com Richard Burton. Para a nova produção, o diretor e o ator trouxeram os mesmos roteiristas e diretor de fotografia de O Indomado. Newman dividiu as telas com a atriz australiana Diane Cilento (que fora indicada ao Oscar quatro anos antes por As Aventuras de Tom Jones), Fredric March, o ex-galã dos anos 30 e ainda na ativa, e Richard Boone.

Apesar de pouco lembrado, Hombre traz uma das mais interessantes interpretações de Newman no papel de John Russell, homem branco que é adotado por uma comunidade Apache. Diferentemente da inverossímil composição do mexicano Juan Carrasco, de Quatro Confissões, em Hombre ele convence na figura do mestiço Russell. Lançado em março de 1967, o filme recebeu críticas positivas e redeu um bom dinheiro nas bilheterias.

No mesmo ano, Newman foi convidado pela Warner para interpretar aquele que, ao lado de Eddie Felson, de Desafio à Corrupção, e Hud Bannon, de O Indomado, tornou-se um de seus personagens mais marcantes: o presidiário Lukas Jackson (ou, simplesmente, Luke). O filme chamou-se Rebeldia Indomável e, muito em função da época da sua realização, foi interpretado como uma espécie de hino à liberdade, ao não-conformismo e à luta do indivíduo contra a opressão do Estado.

A fita era uma adaptação do romance de Donn Pearce, feita pelo próprio, baseada nas suas próprias experiências num presídio agrícola. Depois de Pearce realizar a primeira minuta, o texto foi revisto por Frank Pierson, que acabara de ser indicado ao Oscar da categoria pelo faroeste satírico Dívida de Sangue. Para a direção, a Warner chamou Stuart Rosemberg, com quem Newman faria mais quatro filmes. A fotografia ficou sob a incumbência de Conrad Hall, que deixara uma boa impressão em Harper, enquanto que a trilha foi composta pelo argentino Lalo Schifrin, que ficaria famoso pelo tema do seriado Missão: Impossível.

Quanto ao elenco, é surpreendente saber que Paul Newman não era a primeira escolha para o papel de Luke. Antes dele, a Warner preferia Telly Savallas, cujo trabalho como ator era mais voltado à televisão do que ao cinema. No entanto, Savallas não conseguiu se livrar das filmagens Os Doze Condenados, de Robert Aldrich, e para o bem da humanidade, Newman ganhou o papel.

Nos papéis coadjuvantes, a Warner escalou George Kennedy, para viver o líder dos presidiários, Strother Martin, Harry Dean Staton e Dennis Hopper. Bette Davis foi seriamente considerada para o pequeno papel da mãe de Luke. Entretanto, a atriz ainda se considerava uma estrela, e não aceitava participações especiais. Descartada a opção, os executivos voltaram suas atenções a Jo Van Fleet, que aceitou numa boa.

Num nível mais superficial, Rebeldia Indomável pode ser visto como um bom filme de prisão, bem narrado, personagens e atmosfera bem construídos, e que não tem pressa em contar sua história. Olhando nas entrelinhas, no entanto, a fita cresce na avaliação. O roteiro parte de uma história relativamente simples, para construir uma metáfora do clima social e político de então. A frase mais famosa do filme – "O que nós temos aqui... é um problema de comunicação" – resume o sentimento de hiato existente entre os anseios libertários com os regimes totalitários da época. Luke, por sua vez, representa um segmento da população que não leva desaforo pra casa, que não se conforma com as injustiças e arbitrariedades, por maiores que sejam as forças em sentido contrário. Mais que isso, Luke é uma espécie de Messias (o próprio Jesus Cristo?), que chega àquela comunidade presidiária quase sem explicação (o motivo da sua prisão é tolo demais), prega seus ensinamentos aos outros presos (seus discípulos?), é traído por um colega próximo e sacrifica-se em nome de seus princípios. Essa alegoria é evidenciada na famosa seqüência em que Luke, exausto após ter apostado que era capaz de ingerir 50 ovos cozidos no prazo de apenas uma hora, permanece sobre uma mesa numa posição semelhante à de Jesus na cruz.

Rebeldia Indomável estreou nos EUA em novembro de 1967, com críticas amplamente favoráveis e excelente retorno nas bilheterias. Newman, como esperado, recebeu sua quarta indicação ao Oscar (que levou apenas do melhor ator coadjuvante para George Kennedy).

Após quatro sucessos num intervalo de apenas dois anos (Harper, Cortina Rasgada, Hombre e Rebeldia Indomável), Paul Newman estava mandando soltar e prender em Hollywood. O ator podia escolher o trabalho que bem entendesse. Roteiros não lhe faltavam. No entanto, ironicamente, Newman começava a sentir um certo tédio com a profissão. Treze anos depois da sua estréia, ele achava que começava a se repetir. Além disso, o fato de ser um astro o afastava dos papéis mais clássicos. Ele sabia que nunca seria convidado para interpretar, por exemplo, um personagem baseado em Shakespeare. A persona de Paul Newman sempre estaria ali para distrair a atenção dos espectadores.

Newman começou a pensar seriamente em tentar a direção. Para começar, resolveu levar às telas o romance A Jest of God, escrito há dois anos por Margaret Laurence e que contava a história de uma professora solitária, na faixa dos trinta e cinco anos e sexualmente reprimida.  Newman viu naquela personagem um veículo perfeito para Joanne Woodward, cujo talento era desperdiçado por Hollywood. Chamou, então, o roteirista Stewart Stern para escrever a adaptação, mais conhecido pelo script de Juventude Transviada. Nascia ali Raquel, Raquel.

Após comer o pão que o diabo amassou para conseguir o dinheiro exigido pelo projeto, Newman conseguiu o sinal verde com o produtor Kenneth Hyman, recém contratado da Warner. Desesperado por levar seu sonho adiante, Newman aceitou fazer Raquel, Raquel por U$ 700 mil, comprometendo-se a fazer dois filmes para o estúdio pela metade do seu salário habitual (àquela altura, em torno de U$ 1 milhão).

Ciente de suas limitações como diretor, Newman se cercou de técnicos experientes, como a montadora Dede Allen, com quem trabalhara em Desafio à Corrupção, e o compositor Jerome Morross, famoso pela trilha sonora clássica do faroeste Da Terra Nascem os Homens. Para o elenco coadjuvante, Newman escalou para o papel da amiga lésbica de Raquel a atriz Estelle Parsons, cuja estatueta do Oscar que ganhara por Uma Rajada de Balas ainda brilhava de nova. Já o personagem do amante da protagonista foi entregue ao relativamente desconhecido James Olson.

As filmagens começaram no verão de 1967 e duraram seis semanas, sem grandes transtornos. As primeiras exibições teste mostraram que a fita seria um sucesso. Atrás da câmeras, Newman revelava um especial talento, fazendo um arrojado uso dos flashbacks, câmeras lentas, imagens distorcidas, seqüências de fantasias, simbolismos e diálogos interiores. À frente delas, Joanne Woodward provava que era atriz do primeiro time.

Raquel, Raquel estreou em Nova York e Los Angeles em agosto de 1968, com ampla receptividade da crítica. Ao chegar a temporada dos prêmios, Newman e Woodward receberam o Globo de Ouro e o prêmio dos Críticos de Nova York de melhor direção e atriz. No entanto, quando a Academia apresentou sua lista de indicados, o nome de Newman foi descartado. Furiosa, Woodward ameaçou a não comparecer à cerimônia de entrega dos prêmios, para o qual fora indicada. Newman a convenceu do contrário, alegando que ele não se considerava preterido, na medida que Raquel, Raquel estava entre os indicados a melhor filme do ano.

Em seu projeto seguinte, Newman resolveu meio que tirar umas férias. Em nome da sua paixão por carros, o ator fechou uma parceria com a Universal para participar de 500 Milhas, produção originalmente concebida para a televisão e que, a partir daí, ganhou status de classe A. Pelo papel de Frank Capua, piloto de corrida obcecado pelas vitórias, Newman recebeu o salário de U$ 1,1 milhão, o mais alto da sua carreira até então. Ao seu lado, Joanne Woodward interpretou sua esposa e Robert Wagner, o piloto rival. A direção ficou ao encargo de James Goldstone, profissional que já realizara alguns telefilmes mas era uma completa incógnita no mundo da tela grande.

O roteiro de 500 Milhas, de autoria de Howard Rodman, que escrevera Meu Nome é Coogan um ano antes, é um mar de clichês e incoerências. Os personagens de Newman e Woodward são opacos e mal desenvolvidos. A participação do casal em um filme bem abaixo das suas exigências artísticas, indicava duas possibilidades: ou eles acharam que poderiam alcançar a mesma química de Raquel, Raquel – o que era praticamente impossível, dada a diferença do material – ou, no fundo, Newman estava pouco se lixando. A fita era ruim? Sim, e daí? O que ele queria mesmo era pilotar. Tanto assim que dispensou os dublês nas seqüências de corrida, pra desespero da Universal e de Woodward.

500 Milhas estreou em maio de 1969. Como esperado, os comentários foram impiedosos. A única exceção foi Pauline Kael que, bem ao seu estilo de navegar contra a corrente, considerou a interpretação de Newman como uma das melhores da sua carreira. O público, por sua vez, compareceu aos cinemas, gerando uma lucrativa arrecadação de U$ 5,2 milhões.

Paul Newman fechou a década de 60 – sua mais bem sucedida, tanto em termos artísticos quanto de retorno de bilheteria – com aquele que talvez seja seu filme mais lembrado e amado pelos espectadores: o faroeste satírico Butch Cassidy.

Butch Cassidy nasceu de um roteiro de William Goldman, fruto de uma pesquisa  que empreendera durante oito anos sobre a vida real do fora-da-lei. Em 1963, ele escreveu uma primeira minuta do script, inicialmente chamado The Sundance Kid and Butch Cassidy, mas que não despertou a atenção dos estúdios. Os executivos viam no faroeste, um gênero em declínio e que pouco significava aos jovens americanos que estavam prestes a entrar nos anos 70. Além disso, faltava ao roteiro humor e ação. No entanto, o chefe de roteiros da Warner, Curtis Kenyon, leu e gostou do trabalho de Goldman. Rápido no gatilho, ele tentou convencer o presidente do estúdio, Kenneth Hyman a comprar os direitos. Goldman pediu U$ 400 mil e a Warner achou caro demais. A Paramount, então, entrou na disputa, por meio do jovem executivo Peter Bart (que depois produziria O Poderoso Chefão), e ofereceu ao roteirista U$ 200mil. No meio das negociações, Richard Zanuck, dono da Fox, cobriu a oferta e deu a Goldman o que ele pedia, U$ 400mil, um recorde absoluto para a época.

Para a direção da fita foi escalado George Roy Hill, profissional que demonstrara certo talento em produções anteriores, como o musical Positivamente Millie, com Julie Andrews. Se e escolha do diretor foi fácil, a dos atores centrais renderia um filme à parte.

Para o papel de Butch, Goldman queria Jack Lemmon, de quem gostara num pequeno faroeste dos anos 50 chamado Como Nasce um Bravo, enquanto que Paul Newman daria um perfeito Sundance Kid. O nome de Newman deixava a Fox mais do que satisfeita, mas ela ainda olhava torto para Jack Lemmon. Em vez dele, os executivos pensaram em Marlon Brando, que já visitara o gênero do faroeste quase 10 anos antes em A Face Oculta, dirigido por ele mesmo, e Dustin Hoffman, em alta após o sucesso A Primeira Noite de um Homem. Não conseguindo acertar com nenhum dos dois, a Fox passou a olhar com carinho para Steve McQueen, que também mostrara suas credenciais no western, tanto em Sete Homens e um Destino quanto em Nevada Smith. Àquela altura, McQueen já era um astro – uma espécie de Mel Gibson da época – e seu nome nos créditos representava retorno certo de bilheteria. Quem duvidasse, era só olhar o borderô de Fugindo do Inferno e Crown, o Magnífico, apenas dois de seus filmes dos anos 60.

No entanto, quando tudo parecia em ordem, o sempre inseguro McQueen pegou seu boné e foi embora, alegando que ainda tinha reservas em relação ao projeto. A saída de McQueen foi um alívio para George Roy Hill que nunca fora com a sua cara. Em seu lugar, ele preferia um ator ainda pouco conhecido do meio, mas que já possuía uma boa experiência no teatro e na televisão. Seu nome: Robert Redford. Após sua estréia nos cinemas em 1961, com um filme de guerra que ninguém viu, Redford sumiu do mapa. Ao voltar, cinco depois, realizara À Procura do Destino e Caçada Humana dois fracassos em seqüência. Seu único filme que fechara no azul fora Descalços no Parque, adaptação da peça de Neil Simon e em que contracenara com Jane Fonda.

Paul Newman não mostrou o mesmo entusiasmo que Hill. Para ele, Redford parecia um advogado de Wall Street. O nome de Redford também sofreu resistência da Fox, que passou a tentar a contratação de Warren Beatty, dono do pedaço após Uma Rajada de Balas. Mas Beatty preferiu aceitar o convite de George Stevens e estrelar, ao lado de Elizabeth Taylor, o drama Jogo de Paixões. Sem outras opções, o nome de Redford acabou se consolidando.

Perto da definição dos protagonistas, o resto foi fichinha. Para o papel coadjuvante de Etta Place foi escalada Katherine Ross, recém indicada ao Oscar por A Primeira Noite de um Homem. Na equipe técnica, Paul Newman exigiu que a fotografia ficasse ao encargo de Conrad Hall, profissional em que passara a confiar após seus trabalhos em Harper e Rebeldia Indomável. A trilha foi entregue a Burt Bacharach. É dele a canção Raindrops Keep Fallin´ on My Head, inserida numa das cenas mais famosas do filme, em que Butch e Etta passeiam sobre uma bicicleta (anos mais tarde, Goldman e Hill confirmariam que a seqüência fora criada como uma homenagem a Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois, de François Truffaut). A canção deveria ser interpretada por Bob Dylan. Quando este declinou do convite, B.J. Thomas assumiu a função e saiu para sempre do anonimato.

Após duas semanas de ensaio – uma exigência tradicional de Newman – as câmeras começaram a rodar em setembro de 1968 – cinco anos após a primeira versão do roteiro de Goldman. Os bastidores transcorreram sem grandes problemas, com Newman e Redford formando uma amizade desde logo. A maior parte das filmagens foram realizadas em Colorado, Utah e Novo México. As seqüências bolivianas, no México.

O filme é dividido em três partes: a primeira insere os fora-da-lei em seu bando Buraco na Parede. Na segunda, eles são obrigados a bater em retirada de perseguidores (é nesse trecho que os protagonistas falam uma das frases mais famosas da fita: "Who are those guys?"). Por fim, não tendo mais como continuar fugindo, eles viajam para a Bolívia, onde vivem de assaltos a bancos e aos pagamentos dos trabalhadores das minas locais. Os personagens são razoavelmente bem desenvolvidos (ficamos sabendo o seus nomes de batismo, que um deles não sabe nadar e que o outro, apesar da vida bandida, nunca matou um ser humano), o tom é nostálgico (acentuado pelo início em tons sépia e pela simbologia da bicicleta como a chegada do progresso) e há muito humor (a seqüência do primeiro assalto em solo boliviano é hilária). Mas não há como negar que, em termos de densidade, Butch Cassidy perde se comparado com Desafio à Corrupção, O Indomado e até mesmo Rebeldia Indomável.

Butch Cassidy estreou em circuito nacional em outubro de 1969. A princípio, a crítica se dividiu. Pauline Kael – sempre ela – odiou o filme, particularmente por romantizar a vida de dois bandidos e denegrir a imagem da mulher. No entanto, lentamente a propaganda boca a boca foi fazendo efeito e Butch Cassidy se tornou um fenômeno. Na primavera de 1970, quando estreou na Grã-Bretanha, a fita já arrecadara mais de U$ 45 milhões só no mercado americano, tornando-se o faroeste mais lucrativo da história do cinema até então.

Indicado a vários Oscars, Butch Cassidy foi o maior vencedor em termos absolutos daquele ano, levando para casa as estatuetas de melhor roteiro adaptado, fotografia, trilha sonora e canção. O filme, no entanto, perdeu o prêmio máximo para Perdidos na Noite.

Com o tempo, Butch Cassidy ganhou status de clássico. É o tipo de filme que virou uma verdadeira instituição, adorado por uma legião de fãs que só aumenta com o passar dos anos. E, cá entre nós, com ou sem Oscars, quem é que consegue não gostar de Butch Cassidy?

Aos 45 anos de idade, Paul Newman firmara-se como um dos maiores astros americanos. Reconhecidamente talentoso, melhorara sensivelmente com o passar dos filmes, deixando pra trás os exageros dos seus primeiros trabalhos. Como se não bastasse, revelara um inesperado talento atrás das câmeras (Raquel, Raquel). Conseguira equilibrar-se entre projetos rentáveis (Os Criminosos Não Merecem Prêmios, Harper e 500 Milhas) e artísticos (Desafio à Corrupção e O Indomado), ficando de bem tanto com os estúdios quanto com a crítica. Tivera seus fracassos (Amor Daquele Jeito, Quatro Confissões e Lady L) e frustrações (Cortina Rasgada), mas isso só o tornava mais humano. Dos filmes que realizou ao longo dos anos 60, seja como ator ou diretor, quatro foram indicados ao Oscar de melhor filme (Desafio à Corrupção, O Indomado, Raquel, Raquel e Butch Cassidy) e ele, indicado outras quatro vezes (Desafio à Corrupção, O Indomado, Rebeldia Indomável e Raquel, Raquel, neste último como produtor). Em termos de bilheteria, só John Wayne trazia mais dinheiro do que ele.

Paul Newman reinava sobre Hollywood.

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