Cineplayers Entrevista - Paraíso Perdido (Pt. 1)
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Essa semana chega aos cinemas um dos longas nacionais mais esperados da temporada. Paraíso Perdido é o retorno de Monique Gardenberg aos cinemas depois de 10 anos afastada, onde esteve envolvida com TV (destrinchando em série seu até então último longa, Ó Paí, Ó) e teatro (com montagens premiadas como a de Inverno da Luz Vermelha). Esse retorno vem com um novo trabalho de importância e qualidade igual às de sua carreira como um todo, que embora curta na tela grande, é também forte e cheia de personalidade.
O Cineplayers já conferiu o longa e o avaliou, mas também teve acesso a grande parte do seu elenco e conseguiu conversar um pouco com cada um deles, em grupos de entrevistas que vamos publicar durante essa semana, com Jaloo, Malu Galli, Júlio Andrade, Hermila Guedes, Humberto Carrão, Marjorie Estiano. Começamos pela capitã do navio, uma das maiores diretoras da atualidade, e que tava fazendo falta no circuito. Boa leitura!
CP: Monique, conta pra gente: porque a demora em voltar?
MG: Ah, eu inventei umas modas bem difíceis de realizar. Adaptei A Caixa Preta (livro de Amos Oz, que será produzido pelo consagrado Amos Gitai), que é uma produção internacional, rodada em Israel, com atores e produtores estrangeiros, e não depende só da minha vontade realizar. Depois eu adaptei também e realizei uma pesquisa grande e histórica em torno do livro da Ana Miranda, Boca do Inferno, e fiz também uma adaptação para uma série de TV. Ó Paí, Ó 2 também passou pela mão de 3 roteiristas que precisavam desistir por causa de outros trabalhos. E aí nesse processo eu pensei: "não posso mais ficar tanto tempo sem filmar, me dá uma angústia...", e aí resolvi escrever uma coisa minha, rápida, e esperar que essa história encante atores e uma equipe foda, pra me curar logo dessa dor, dessa ausência (risos). Então agora já vem Ó Paí Ó, que já começamos a filmar em fevereiro, e logo depois vem a adaptação da Ana... e eu gosto de pensar que a Lucrécia Martel também demorou 10 anos pra lançar seu filme novo (Zama), e aí me pego pensando que se a Lucrécia passou por isso, eu também posso.
CP: Seu filme tem um frescor e uma novidade de tema dentro do cinema brasileiro. Você consegue pegar o cancioneiro brega e transportá-lo para próximo do samba-canção, e vestir assim os personagens e tramas com um caráter meio melancólico. Era essa a intenção inicial, ou quando você percebeu, estava nesse lugar?
MG: Tudo começou com a minha vontade de fazer uma grande homenagem à música romântica popular brasileira. Aí eu coloquei Marcio Greycki pra tocar, Impossível Acreditar que Perdi Você, e me veio a imagem de quatro mulheres: uma chorando na frente do espelho porque tinha sido traída e está grávida; outra em coma no hospital, e essa cena saiu do filme porque ficou confusa; uma terceira indo se vingar de um homem violento; e a quarta, já era um homem cantando a própria música dentro de uma boate. Tudo começou assim... e assim são essas músicas né, tudo é muito dramático, intenso, e essa intensidade me ajudou a escrever a história e os personagens. Então emana das letras, emana da música, emana da própria intensidade, e eu e o Zeca Baleiro (produtor musical do filme) decidimos deixar todas próximas ao arranjo original delas porque eu já era apaixonada pelo arranjos originais e queria trazer isso tudo pra dentro do filme. Mas tem um pouquinho de rock'n'roll também no filme.
CP: Como foi chegar no Jaloo?
MG: Eu precisava de bastante coisa né... que ele fosse encantador, que ele tivesse um magnetismo absurdo, leveza, brejeirice e cantar. Cantar acima de tudo. A personagem que mais canta no filme é a Imã. Então eu fiquei um tempo pensando pra que lado eu ia, os atores que cantavam não supriam minhas outras necessidades, e tinha o lance da idade também, tinha que ser um menino de 20 anos, e então eu lembrei do Jaloo. Eu tinha visto ele num clipe, foi pesquisar todos os outros materiais dele que encontrei na Internet, vi o quanto ele tinha de intimidade com a câmera, fiquei cheia de esperança que ele conseguisse, então eu fiz o teste e ele arrebentou.
CP: Como foi juntar todo esse elenco, de tantas vertentes e gerações, e se demorou para chegar no ponto que queria com eles?
MG: Foi fruto de uma pesquisa bem cuidadosa, feita em parceria com o ator e diretor de elenco Luiz Henrique Nogueira. Eram tantos talentos que a maioria deles deveria reunir, e uma proposta de tintas tão fortes, que a escolha precisava ser precisa, para que chegasse na tela com a mesma beleza e intensidade que eu sentia enquanto escrevia. Mas sempre parto de uma observação profunda dos atores que imagino para os papéis. Não faço testes, a não ser quando estou diante de alguém sem nenhuma experiência, como é o caso do Jaloo ou foi o caso da Cleo Pires em Benjamim. Do contrário, quando determinado ator encaixa na minha cabeça, quando acho que encontrei o artista ideal para viver aquela persona que criei, envio o roteiro e rezo (risos). Depois disso, são conversas e ensaios das cenas durante a pré-produção, num processo muito parecido com o teatro.
CP: Você tem uma filmografia festejada, uma bela carreira. Esse elenco invejável não apenas atrai todas as atenções midiáticas como também transborda talento. Com todos esses predicados, foi uma escolha ficar de fora do circuito de festivais? Por que?
MG: Sempre tive a certeza de que este filme, assim como Ó paí, ó, não seria um filme para festivais. Porque ele não obedece exatamente os padrões que esperam do Brasil. Paraíso Perdido é um filme mais popular, na minha opinião, despretensioso. Sua trama é complexa, mas a história não. Assisti na companhia de pessoas simples e fiquei surpreendida com os resumos primorosos que fizeram da história ao final da sessão. Como se tudo que conto fosse comum no mundo que habitam. Além disso, o filme é uma clara homenagem à nossa música popular romântica, com muitos números musicais, canções que mexem com a nossa memória afetiva, que dão um quê de nostalgia ao filme, enquanto lá fora não significam nada. Sempre deixei muito claro que queria que o filme fosse direto para o circuito.
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