O diretor Brad Bird, de Os Incríveis, já dizia que a animação não é um gênero à parte no cinema - é apenas uma das maneiras de se fazer cinema, de contar uma história. Logo, não é de surpreender que Toy Story 3 seja perfeito ao ponto de encenar diversos gêneros cinematográficos com tanta maestria, mesmo com personagens animados - e com qualidade muito superior ao que se produz hoje em dia.
O roteiro originalíssimo desenvolve uma magnífica história sobre amizade, quebra de laços familiares e principalmente, sobre a passagem da infância para a vida adulta, tendo como mote a ida de Andy para a faculdade, assim tendo que deixar seus brinquedos para trás. Por um descuido, estes brinquedos acabam parando em uma creche, onde conhecem novos brinquedos e são apresentados a um verdadeiro terror.
Toy Story 3 passeia de maneira natural por vários gêneros: apresenta momentos de ação dignos dos blockbusters de verão - como a cena que abre o desenho, um cenário apenas imaginário (e é incrível a criatividade do filme em mostrar como Andy imaginava seus brinquedos nas suas aventuras pueris). O filme ainda reserva espaço para o suspense e a ação de tensão - as cenas da creche podem ser aterradoras, não somente pelo vilão Lotso, mas também pelo genial clima intimista que é imposto à trama. O filme acaba fazendo uma bela homenagem ao clássico Fugindo do Inferno. De comédia, não há tanto nos personagens principais - essa função fica mais para Barbie e Ken, que protagonizam momentos comuns à comédia de gênero - as piadas envolvendo a metrossexualidade do boneco são hilariantes.
Contudo, o melhor do filme é reservado para o final. Toy Story 3 arrasou platéias pelo mundo inteiro - e este que escreve agora ainda fica com os olhos marejados ao redigir estas linhas e lembrar do filme. Duas cenas capitais são de uma emoção tão poderosa, que jamais sairão das mentes daqueles que assistirem o filme. A primeira é justamente o final do clímax desta produção. Quando você pensa que tudo está ruim, pode ficar ainda pior. E apenas o ato de dar as mãos uns aos outros é um momento extraordinário e poderosamente destruidor em emoção. Não há como resistir a essa cena.
Quem pensava que iria acabar aí, engana-se quando, ao final, Toy Story 3 irrompe em um momento antológico na história do cinema. Uma cena de seis minutos que determina o destino dos personagens e resume a passagem da infância para a vida adulta. Somos apresentados a todas as nossas reminiscências da infância, de como éramos felizes quando tínhamos nossos brinquedos e navégavamos em nossa imaginação - e quem viveu a infância na década de 1990 vai entender isso perfeitamente, num tempo em que computador era algo raro. Pois bem, a cena é um rito de passagem, é o anúncio definitivo de que a trilogia está em seu final. E se você resistiu à primeira cena, não será capaz de resistir a essa cena, uma explosão emocional inacreditável, como o cinema live-action não tem sido capaz de produzir hoje em dia. Logo, apenas uma recomendação: não tenha vergonha do pranto que jorrará, apenas aprecie o momento e como todos éramos felizes com a infância - e como é difícil ascender à fase adulta.
Não há muito mais o que dizer. Sem John Lasseter, Toy Story 3 é genial mesmo com o então desconhecido Lee Unkrich. Os efeitos especiais são impressionantes, o 3-D não é fundamental, mas torna a experiência mais divertida - e os óculos ajudam a esconder as lágrimas.
Toy Story 3 já garantiu seu Oscar de animação e tem vaga certa como um dos 10 indicados a melhor filme.
É, para mim, o melhor filme de animação já feito. WALL-E que me desculpe, mas ele não fez desabar em pranto como Toy Story 3, nem me tocou tanto.
E éramos tão felizes...
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