“Ele [Ayrton Senna] é a única coisa que o Brasil tem de bom”, diz, em certo momento, uma brasileira, em entrevista para a televisão. A frase resume bem a importância do tricampeão mundial de Fórmula 1 para um Brasil recém saído de uma ditadura militar. Esse e muitos outros momentos presentes no documentário Senna (2010) ajudam a compor um retrato forte e emocionante de um dos maiores pilotos de todos os tempos.
Dirigido pelo britânico Asif Kapadia, de carreira pouco conhecida no Brasil, o documentário é uma produção obrigatória para conhecer melhor a vida e a carreira de Ayrton Senna, que em 1º de maio, completou 20 anos de sua morte trágica, em Ímola, na Itália.
O filme recupera a história do piloto, focando principalmente sua exitosa carreira na Fórmula 1, que começou a partir de 1984, quando estreou na equipe Toleman. Contando com valiosas imagens de arquivo, que incluem até registros dos bastidores do circo da F1, a obra de Kapadia percorre os principais momentos de Senna, desde seus três títulos mundiais, sua intensa rivalidade com o francês Alain Prost e a guerra política travada com o então presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Jean-Marie Balestre, compatriota de Prost.
Produzido em parceria com o Instituto Ayrton Senna, o documentário faz um retrato positivo do piloto, mas não se torna uma mera louvação. O filme abre também espaço para questionamentos, como na abordagem da briga com Prost, que tirou Senna da pista no GP do Japão de 1989, e acabou levando o troco na mesma corrida, na temporada seguinte.
Senna conta com depoimentos de muitas pessoas ligadas ao piloto e à Fórmula 1, como Reginaldo Leme, comentarista da Rede Globo, Ron Dennis, dirigente da McLaren (onde Senna foi tricampeão), Sid Watkins, médico da F1, e Viviane Senna, irmã do esportista. Uma importante decisão de Kapadia foi inserir os depoimentos através de off, sem que os rostos de cada personagem apareçam, dando mais dinamismo e complementando a narrativa.
Méritos também dos montadores Chris King e Greger Sall que, com larga experiência em documentários, tornam o ritmo deste filme ágil como requer a história do próprio piloto, apaixonado pela velocidade, algo que inclusive chega a comparar com uma droga viciante, em certo momento. A trilha sonora de Antonio Pinto (Colateral) é pontual e enriquece o filme, dando dinâmica e emoção nos momentos certos.
A força de Senna fica ainda mais evidente durante a narrativa do incidente que custou a vida do piloto. Em ritmo mais lento, Kapadia conduz o espectador de forma dura e até mesmo tensa até o momento em que a Williams de Senna se choca com o muro na curva Tamburello, em Ímola.
O principal aspecto negativo da obra é seu avanço inexpressivo sobre a vida pessoal de Senna, que poderia enriquecer ainda mais o filme. No entanto, isso não reduz a importância do documentário, que compõe um belo retrato do piloto que, para o Brasil, se tornou um herói, um símbolo de alegria e de orgulho em ser brasileiro. Como resume outra pessoa, ao final, após a morte de Senna: “O Brasil precisa de saúde, de educação. E também de alegria. E agora a alegria se foi”. Da alegria das manhãs de domingo, Senna foi para as páginas da história, sendo até hoje, 20 anos depois, admirado pelo Brasil e pelo mundo.
Senna deixou saudades. Sobre que outro esportista teríamos tão expressivo documentário??
O Guga não limpava a sola do sapato do Senna. Que isso!