O diretor Wes Anderson sempre se destacou por criar histórias bizarras e com um tom fabulístico como poucos diretores já fizeram. Isso ficou mais implícito em algumas brilhantes produções recentes, como Os Excêntricos Tenembauns, A Vida Marinha com Steve Zissou e Viagem a Darjeeling. Neste ano, depois de mais de vinte meses de filmagem, Anderson volta aos cinemas com mais um grande filme, O Fantástico Senhor Raposo.
A obra é uma adaptação de livro do grande escritor de histórias infantis Roald Dahl, autor do clássico A Fantástica Fábrica de Chocolate. Na história, o senhor Raposo vive em um buraco com a dona Raposa. O casal vive de roubar galinhas e um dia, acabam capturados. Na armadilha, ela revela que está grávida e pede ao marido que, caso eles escapem, abandone a vida de roubos. Eles escapam e o senhor Raposo muda de vida, virando colunista de um jornal. Ele e a esposa mais o filho Ash se mudam para uma árvore muito bem localizada, mas um tanto próxima de três fazendas. O senhor Raposo resolve dar uma revisitada em seus instintos e, com o gambá Kylie, volta à vida de roubos, o que provoca uma séria crise entre animais e fazendeiros.
Nas mãos de Anderson, o material de Roald Dahl ganha um clima nonsense fabulístico impressionante. Todo o filme corre em um ritmo sarcástico, apresentando desde piadas visuais de cair o queixo até diálogos insuperáveis (o filme tem alguns dos melhores diálogos do ano). O roteiro é sensacional e ganha força a cada minuto. As gags vêm desde recursos visuais como os olhos dos personagens, os títulos antes de algumas sequências e até mesmo na reação física de cada personagem (especialmente o primo Kristofferson, de longe o mais engraçado do filme).
Filmado em stop-motion por dois anos, utilizando uma câmera fotográfica convencional, a produção tem um visual estupendo, com cores rurais e crepusculares como raramente se vê (repare em algumas cenas na árvore). Além disso, os modelos dos personagens são muito bem feitos, desde as raposas até os cães e os seres humanos, tudo em um realismo latente (mesmo que muitas vezes haja um problema de proporcionalidade de animais em comparação às raposas e texugos).
O grande barato do filme é como ele viaja na relação de pais e filhos e também na questão da busca de seus próprios sonhos e desejos. O senhor Raposo, ao voltar para a vida de roubos, vai em busca de seu próprio instinto. É de certa forma uma interessante analogia aos relacionamentos atuais, em que homens abandonam seus sonhos em função da carreira e do casamento - e um filme que usou dessa mensagem mais recentemente foi Os Incríveis (onde o Senhor Incrível ia atrás de bandidos para lembrar dos velhos tempos). Além disso, o filme acerta no ponto da relação entre o senhor Raposo e seu filho Ash, que se sente diferente e pouco benquisto pelos pais, principalmente quando surge a figura de Kristofferson, que é superior em tudo em relação a seu primo.
As dublagens são fundamentais para o filme. Clooney, como o senhor Raposo, dá um show e acrescenta uma certa ironia a seu personagem. Streep, como a dona Raposa, não tem muitas oportunidades de imprimir sua marca pessoal (até por que só a sua voz não faz milagres). Todo o restante do elenco é muito bom.
O Fantástico Senhor Raposo é sem dúvida uma das melhores animações dos últimos dez anos. É irônico, bem feito, bem humorado e repleto de mensagens interessantes. É um filme típico de Wes Anderson, que dá mais um passo à frente em sua brilhante carreira.
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