"The Warriors" é, inquestionavelmente, um marco na cultura pop desde o seu lançamento - sua influência pode ser notada em vários aspectos: desde o impacto no movimento 'punk', passando pela contribuição na consolidação do cinema de ação dos anos 80, chegando até mesmo no universo dos 'games' no século XXI. Sua representação futurista e ousada de Nova York, que trazia um painel de caos social, onde diversas gangues de delinquentes juvenis ameaçavam tomar o controle da cidade, se insurgindo contra a noção de 'ordem' e as autoridades, causou um grande êxtase na época - de um lado, o público adepto da contracultura, que aplaudiu a produção; de outro, o público tradicionalista e elitista, que a condenou com fervor, o que acabou acarretando uma série de proibições à veiculação desta.
Mas, se na época houveram muitas reações controversas que acabaram por relegar a película à marginalidade no universo cinematográfico, o passar dos anos tratou de consagrar "The Warriors" como um 'cult movie' respeitado e da mais alta patente. E mesmo na atualidade - mais de TRINTA anos depois de seu lançamento, o filme continua tão enérgico, contagiante e divertido quanto antes.
E isso se deve, em grande parte, ao ótimo 'plot' inicial do filme - visto de hoje, pode até parecer algo comum, mas à luz da época, pode-se dizer que uma história de aventura nos submundos de Nova York, protagonizado por uma gangue de infratores tentando voltar ao seu território e tendo de enfrentar no caminho a resistência da polícia e a ira das outras gangues urbanas foi algo novo e excitante para as plateias mais despojadas. O roteiro, assinado por David Shaber e pelo diretor Walter Hill, adaptado do romance de Sol Yurick, traz referências que vão desde à mitologia grega até as tramas urbanas de Martin Scorsese.
E, claro, o modo intenso como Walter Hill dirige o filme vai ao encontro das qualidades do roteiro (a começar pelo tom apoteótico que ele imprime à 'reunião' das gangues no início) - aliás, Hill já seria digno de nossos aplausos apenas pelas suas decisões ousadas; a principal delas é não abrir mão de que a trama se desenrolasse em apenas uma noite. Sim, pois tal fato, demandou várias noites e enfrentou diversas complicações para se concretizar - dentre elas o impasse gerado pelas verdadeiras gangues de Nova York ou a dificuldade para encontrar as locações em estado adequado para as filmagens.
E o próprio fato de o filme se passar em uma única noite já cria um clima de urgência inevitável, fato que é aproveitado bem por Hill, que demonstra saber explorar a paisagem urbana noturna e deserta da cidade a seu favor, evocando uma sensação de tensão e imprevisibilidade sobre qual será o próximo perigo a ser enfrentado pelos protagonistas. Na aparição das gangues rivais e dos policiais, por exemplo, o diretor opta por introduzir paulatinamente os antagonistas nos cenários e focar em suas expressões inicialmente cadenciadas, o que intensifica a ameaça que eles representam aos 'Warriors'.
Mas não só isso, as sequências de ação também são dirigidas com competência, sempre empolgando o público: seja nas cenas em que os protagonistas correm desesperadamente ou nas lutas bem coreografadas (destaque para a que ocorre no banheiro da estação do metrô).
Mas Hill também é eficiente na abordagem de seus heróis - a romantização de personagens delinquentes desencadeada pelo clássico 'Bonnie and Clyde' está a todo vapor aqui - , já que ele faz questão de realçar o sentimento de lealdade existente entre eles e incluir momentos descontraídos na sua jornada, adotando por vezes um tom de humor(como as cenas em que os protagonistas galanteiam moças nas ruas), que os torna muito simpáticos aos nossos olhos.
Mas, claro, que a simpatia que os personagens despertam se deve também ao elenco - e é bem verdade que não há nenhum ótimo ator aqui, mas todos conseguem ser carismáticos o suficiente e claramente, estão se divertindo em frente às câmeras, conseguindo fazer o público torcer bastante por eles e contra os antagonistas. O destaque fica por conta de Michael Beck, na pele do cauteloso e enigmático Swan, que também possui uma ótima química com Debora Valkenburgh, a irreverente Mercy.
Não se pode deixar de mencionar também o fundo de crítica social que o filme traz, na clara alusão à desigualdade socioeconômica da metrópole - fato que encontra personificação máxima na cena em que Swan e Mercy são encarados com desdém por dois casais de jovens de melhor classe social no metrô, oposição esta que se inicia gritantemente na destoância entre o 'look' despojado e suburbano dos dois primeiros e nas roupas de baile refinadas dos demais.
A propósito, o figurino é outra parte a se ressaltar, já que exerce uma considerável importância no filme: cada gangue traz um figurino típico e padronizado que a diferencia das demais, e tal aspecto é abordado de forma bastante criativa pela direção de arte(essa foi outra característica que imortalizou a produção).
Trazendo ainda frases memoráveis que se tornariam antológicas posteriormente, como o emblemático "Warriors, come out to play!", "The Warriors" é um dos melhores e mais relevantes filmes da década de 70, que imortalizou sua marca na cultura e se firmou como um dos exemplares mais divertidos, intensos e irreverentes da sétima arte.
Excelente texto. Parabéns. O filme de Hill - a quem admiro demais - não só é bom pra caramba, como possui uma importância cultural relevante. Não sei se você concorda, mas em certos pontos e passagens "The Warriors" me lembra Fuga de N.Y., do Carpenter, não só no aspecto visual, mas também na marginalização da cidade. Não sei, impressões que eu tive....
Valeu Cristian!! E concordo com você - é sim bom pra caramba e possui relevância cultural. Quanto à "Fuga de N.Y" ainda não assisti, mas jâ está minha lista !! :P