"I am the devil.. and I have come to do the devil’s work”
Esqueça os jogos de 'torture porn' difundidos pela quase interminável franquia "Saw"; ou os pavorosos remakes de filmes clássicos de terror das décadas de 70/80 que invadem os cinemas ano após ano. Rob Zombie conseguiu, aqui, incrivelmente, criar um dos filmes de horror definitivos da contemporaneidade. E não é nenhum exagero afirmar isso, já que "The Devil's Reject" é, do início ao fim, uma autêntica aula de como se realizar uma produção do gênero - e mesmo que vez ou outra hajam deslizes pontuais na narrativa, isso não compromete a abordagem ousada do diretor, trazendo uma dosagem admirável de insanidade, tensão, violência, sadismo e emoção, combinados na tela com uma intensidade incrível (e ainda repleto de um senso de humor subversivo e uma excitante pegada 'western').
Após uma irregular e criticada primeira película, Zombie decidiu reunir os três personagens mais carismáticos de "House of 1000 Corpses" e mergulhá-los em uma estória mais ativa, e nas palavras dele mesmo "criar algo que pudesse agradar tanto os fãs do primeiro filme, como os não fãs". E de fato, revelou-se uma decisão acertadíssima - se antes, tinhamos uma produção que se revelava por vezes tediosa, ao inserir o espectador em situações estáticas e pouco lógicas na casa da família Firefly; aqui, temos um filme cheio de energia que acompanha a tentativa frenética de fuga dos criminosos do cerco da polícia, em especial, do vingativo Xerife Wydell, que pretende fazer justiça com as próprias mãos por conta da morte do irmão pelos vilões em questão.
Já nos momentos iniciais, descobrimos que todos os crimes da família Firefly vieram à tona. A polícia, então, encurrala o clã em sua residência, mas, obviamente, os criminosos não estão dispostos a se entregar, o que desencadeia um conflito armado. Percebendo que não possuem chances contra o imenso poderio armado dos policiais, decidem fugir, mas somente Otis e Baby conseguem escapar da casa, pela rede de esgotos, enquanto, Rufus e a 'Mamma' ficam pelo caminho. Logo, tratam de avisar seu pai, o capitão Spaulding, já que é questão de tempo até que a polícia descubra que este também tem envolvimento com os homicídios.
Enquanto aguardam o capitão Spaulding, para que possam, juntos, tentar fugir das autoridades; Otis e Baby fazem uma família refém em um hotel beira de estrada, dando origem a uma das melhores sequências do filme. Zombie aproveita tal momento, não apenas para criar momentos enervantes de horror e violência física e psicológica, como também, para se aprofundar na psique doentia de seus principais personagens, que se comprazem na dor alheia e no sofrimento humano, submetendo suas vítimas a situações humilhantes: em determinado momento por exemplo, Otis induz uma senhora de meia idade a fazer 'strip tease' e proferir obscenidades em frente ao marido; já em outro, vemos Baby obrigando uma das mulheres presentes a agredir fisicamente a outra.
Mas, é claro que o desenvolvimento dos protagonistas não se limita à essa sequência e em diversos outros instantes, somos confrontados com situações que revelam a personalidade daquelas figuras(incluindo também o capitão Spaulding), lhes conferindo tridimensionalidade: já que, ao mesmo tempo que são criminosos insanos e perversos, sentem grande amor e cumplicidade um pelo outro, sendo capazes até mesmo de dar a própria vida em favor dos seus. E Zombie é eficaz ao tornar a dinâmica desse trio bastante convincente, mostrando-se detalhista ao ponto de incluir até mesmo uma cena em que os três discutem sobre a parada em uma sorveteria na beira da estrada, tornando-os muito carismáticos aos olhos do público (não se assuste se você se der conta que está torcendo por eles!)
Quem também recebe tridimensionalidade do roteiro é o xerife Wydell(quase uma versão texana do Travis Bickle de "Taxi Driver", que pretende extinguir a 'escória'do mundo com as próprias mãos): apesar de ser um cristão fervoroso e um 'homem da lei', Wydell mostra que pode ser tão violento e perverso quanto os criminosos que persegue e acaba perdendo completamente seus escrúpulos para poder saciar sua sede de vingança. Um falso moralista autêntico, que abusa de sua autoridade para depreciar quem ele julga seus 'subalternos' - vejam, por exemplo, o desprezo com que ele trata o crítico de cinema especialista em Groucho Marx, por julgar que esta é uma profissão inútil.
Além dos personagens da sequência do hotel, os demais, por sua vez, seguem a cartilha dos personagens de Zombie e estão ali, essencialmente, para serem figuras secundárias da trama que se desencadeia entre Otis, Baby, Spaulding e Wydell: caipiras desbocados, machistas e sujos; mulheres vulgares e por aí vai ...
E lógico, o sucesso na composição dos personagens não seria possível se o elenco não respondesse à altura, já que se mostram contundentes em papéis excêntricos, que tinham tudo para cair na caricatura : Sheri Moon-Zombie prova que não está aí somente por ser esposa do diretor e torna sua Baby uma assassina sádica, irreverente e dócil com os familiares; Sid Haig está ótimo como o insano Spaulding, sempre buscando meios possíveis para salvar a si e aos filhos, mas os destaques, claro, ficam por conta de Bill Moseley e William Forsythe. Moseley encarna magistralmente a perversão e a impulsividade de Otis e Forsythe acerta o tom com seu xerife justiceiro de caráter duvidoso. Todos conseguem tornar as figuras que interpretam intensamente verossímeis.
Há ainda a participação de outros veteranos como Danny Trejo, Ken Foree, Leslie Easterbrook, Geoffrey Lewis e Michael Berryman que acabam por acrescentar um brilho a mais na produção.
Outro ponto a se destacar é, claro, a ótima e segura direção de Zombie: há um uso exaustivo da câmera na mão, sempre inquieta e realizando movimentações sufocantes em momentos chave. Zombie também emprega recursos como 'slow motion' e 'freeze frames'(principalmente na cena do confronto na casa ou a magnífica cena final) que só deixam sua narrativa ainda mais estilosa, em técnicas que muito lembram a excentricidade de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. Dispondo de uma fotografia árida, amarelada e granulada, arrisco dizer que "The Devil's Reject" é o filme da atualidade que mais perfeitamente conseguiu reproduzir um clima setentista. Nesse aspecto, o filme é marcado de referências (na maioria das vezes, indiretas) à filmes desse período, como "The Texas Chainsaw Massacre" ou "Black Mamma, White Mamma" e outras produções 'exploitation'.
A película também é beneficiada pela sua edição nervosa, que lança mão, muitas vezes, de cortes secos (a cena em que Wydell bate em Baby com um flagelo é um bom exemplo), ou transições feitas de uma cena para outra com estilo (usando muitas vezes o já citado 'congelamento de imagem').
Contando ainda com uma inspirada e perfeita trilha sonora retrô, que atinge o ápice com a sensacional 'Free Bird' do Lynyrd Skynyrd que embala a épica cena final(emocionante!), "The Devil's Reject" é uma verdadeira obra-prima marginal, um clássico 'cult' contemporâneo, que enfrenta muita resistência por parte dos críticos mais conservadores, mas que tem um lugar garantido na galeria de todo fã de uma película insana e envolvente. Acusar a produção de 'violência gratuita' é, portanto, desconhecer os seus objetivos e o público a que se dirige (se você é do tipo que se incomoda com violência, crueldade, palavrões em cena, diálogos verborrágicos...passe longe desse filme!)
Em suma, é cinema 'B'.. de alto nível!
Gosto de Rob Zombie e este é o melhor filme do diretor ao lado de As Senhoras de Salém. O filme tem muita referência do cinema de horror dos anos 70 e a trilha sonora é foda pra caralho. Não á toa Zombie foi escolhido para comandar o subestimado remake de Halloween.
Pode ser que Zombie tenha um talento que eu despreze, mas seus remakes de Halloween são muito ruins.....
Não acho tão bom como é dito na crítica, mas gosto bastante deste filme. Sobre o Zombie, ainda vi pouca coisa dele para dar uma opinião.
Nem esse do Zombie como muitos falam é bom!! A filmografia do roqueiro é merda pura vai!!!