“Dedicado a Christohper Reeve, por nos fazer acreditar que um homem pode voar”. Essa frase aparece na epígrafe de uma história em quadrinhos chamada o Reino do Amanhã, desenhada por Alex Ross e com roteiro escrito por Mark Waid.Essa é uma HQ que possui como protagonista o Superman, criado em 1938, um dos primeiros super-heróis “de verdade” (não dá para dizer que o Fantasma e Dick Tracy são super-heróis, estão mais para vigilantes). Reeve, no hoje longuíneo ano de 1978, realmente realizou um ato que permeia o imaginário da humanidade desde a mitologia grega com a história de Ícaro? O cinema possui essa força, de tornar os sonhos mais antigos da humanidade uma realidade?
“Superman – O Filme”, de 1978, dirigido por Richard Dooner e com roteiro de uma equipe de roteiristas incluindo Mario Puzo (sim, aquele mesmo!), foi o primeiro grande filme de super-heróis. Antes disso, haviam algumas produções pobres, como o filme “Batman – O Homen Morcego” de 1966, baseado no seriado camp do Cruzado de Capa daquela década. E foi um dos maiores desafios que o cinema enfretou em sua história. Na verdade, foi uma espécie de teste de fogo para a sétima arte: transpor para as telas uma história outrora considerada infilmável. Entretanto, em 1977, Star Wars mostrou que o cinema possui uma capacidade de transformar sonhos em realidade bem maior que os conservadores produtores de Hollywood pensavam.
Revendo agora, depois de muito tempo, esse filme soa extremamente nostálgico. A introdução, com a mítica trilha sonora de John Williams (esta será melhor descrita mais adiante), com os nomes cruzando a tela, deixando um rastro luminoso, como se fossem cometas, provoca arrepios em qualquer nerd que cresceu vendo esses filmes passarem na TV aberta nos programas da tarde. Na longa sequência no Planeta Kripton, os cenários encantam até hoje. E a participação especial de Marlon Brando deixa um gosto especial no filme. A história do Azulão, imortalizado por Chistopher Reeve, todos já conhecem: seu planeta explodiu, foi adotado por um casal do Kansas, seu pai lhe passou lições e, baseado nisso, o alienígena que adotou o planeta Terra resolve usar seus poderes especiais para protegê-la.
Esse filme é um verdadeiro criador de clichês. E, quando o expectador possui consciência disso, ele parece ser ainda melhor. Todos os clichês das histórias de super-heróis foram criados por este filme, ou ,pelo menos, foram popularizados por ele. Todo filme atual desse gênero possui aquelas sequências, nas quais o protagonista descobre os seus poderes. Isso começou nesse filme de 1978, com as inesquecíveis cenas do Clark Kent “apostando” corrida com um trem ou chutando uma bola de futebol americano para longe. Quando o nosso herói chega em Metrópolis, o vilão do filme é apresentado, um bandido extremamente caricato: Lex Luthor. Aqui, o filme traz um vilão dos filmes da série 007, só que ainda mais espalhafatoso. Mais um clichê reforçado: o vilão que se considera o gênio do crime, com uma plano bizarramente mirabolante que, por muito pouco, não dá certo, se não fosse por aquele sujeito de capa intrometido. A primeira aparição do Homem de Aço, já devidamente vestido como tal, se dá quando seu interesse romântico, Lois Lane, faz o papel de mocinha em perigo na frente da cidade toda e é salva pelo herói (ideia copiada até hoje, como no primeiro filme do Homem-Aranha de Sam Raimi ou no Batman de Tim Burton de 1989). Definitivamente, esse filme é um dos mais influentes da história do cinema blockbuster.
Como esse foi o primeiro dos filmes dos homens de heróis, ele também está cheio de uma certa ingenuidade. O Azulão prende o bandido malvadão que rouba joias e faz uma piadinha boba com isso, quase sendo uma versão mais amena do James Bond. O Superman salva gatos em árvores, por exemplo, algo que é considerado muito infantil para os atuais produtores e fãs de filmes desse estilo, que acham que o que é realmente adulto é ver os heróis caindo na porrada de maneira estupidamente violenta. Entretanto, esse é um filme de um cara vestido com roupas coloridas que combate o crime caramba! Um toque mais fantasioso é muito bem-vindo.
Vale a pena falar um pouco mais da parte técnica. A trilha sonora de John Williams é magnífica. Muitas pessoas, que nem sabem da existência desse autor, conhecem o tema e o associam ao Superman. Esse, com certeza, é o tema de um personagem mais famoso da história do cinema. Os efeitos visuais são muito bons, mostrando o grande salto que o cinema deu nesse quesito na segunda metade da década de 1970. O importante é que os produtores reconheceram os limites técnicos da época para fazerem efeitos que não parecessem muito ridículos no futuro. E deu certo. Até hoje algumas cenas, como as que ocorrem no planeta Kripton e na clássica viagem pelos céus do Superman e da Lois, fascinam. O filme até que envelheceu bem na sua maior parte.
Todavia, para alguns, o final do filme foi longe demais (Alerta de SPOILER). O plano maluco do Lex Luthor acaba sendo frustrado pelo Azulão mas Lois Lane acaba morrendo. O Homem de Aço, desesperado, dá várias voltas ao redor da Terra, fazendo o tempo voltar pra poder salvar sua amada (serviu de inspiração para a música “Super-Homem” de Gilberto Gil: “Quem sabe/O Super-Homem venha nos restituir a glória/Mudando como um deus o curso da história/Por causa da mulher”). Uma ideia bizarra, ilógica e completamente impossível, até para um filme de super-heróis. Mas esse é o recado que o filme deixa.
Obrigado Christopher Reeve, por nos fazer acreditar que um homem pode voar e por nos mostrar que o cinema é a maior máquina de realizar sonhos que o ser humano já realizou.
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