Pouco mais de uma dezena de minutos para ilustrar milhares de nuances sobre o tempo e sua magnífica influência sobre a vida. Não apenas ilustrar, mas nos persuadir a crer que ambos são conceitos ambíguos: tempo e vida.
É numa atmosfera emersa de simplicidade que uma mensagem sutil ganha forma e se materializa em uma sequência de vibrações sonoras profundas e aquarela. A referência ao mar, ao nostálgico, à efemeridade se faz presente como pilares de uma estrutura que se rende, por fim, às circunstâncias.
Kunio Katô tem uma proposta louvável em conduzir um estudo filosófico sob a forma de animação. Não se prende à complexidade da análise exaustiva de aspectos psicológicos e/ou sociais de seu personagem central. Também não constrói um enredo puramente doce ou lúdico. As vertentes minimalistas estão por toda parte, são rápidas e eficazes, permitindo-nos a reflexão que, por sua vez, desencadeia as lágrimas de muitos.
Uma casa erguida em formato de torre e construída, modificada e estendida verticalmente, conforme os ditames do mar que sobe silencioso. Um velho só. Um cachimbo que foge ao início, à base. Uma tentativa de imersão no passado para se atribuir um sentido à vida ou uma razão para viver. Entretanto, as circunstâncias não conduzem ao desespero. Neste ponto é visível toda a beleza.
Há sempre um alçapão. Há sempre um elo entre as fases da vida, um mínimo resquício que a mudança, o mar e o tempo não foram capazes de apagar, suficiente para permitir uma descida ainda maior, um mergulho ainda mais profundo.
O que espera o expectador ao final é contemplar toda a estrutura quando já se está submerso junto com o personagem, quando já nos confundimos com ele, quando respirar não mais tem importância.
Neste universo de concepções e visões há liberdade traduzida na escassez de imposições para o significado das coisas. Não há diálogos, pois não são necessários.
Há um convite irrecusável para a lembrança.
Aquilo que o entretenimento não foi capaz de produzir ressoa com maestria aqui. A mensagem é transmitida com força arrebatadora proporcional à imensa singeleza do curta. É eficaz. É sublime.
Brindemos à vida, então...
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