Como em um autêntico drama portenho, o filme refina a pieguice e constrói, desde o início, um ambiente poético, em geral diferente do que o público acostumado às produções norte-americanas assiste. "O Segredo Dos Seus Olhos" não é repleto de sub-tramas, mas não dispersa a atenção para os fatos centrais muito por conta das excelentes atuações, sobretudo da dupla Esposito e Sandoval, que carregam as quase sempre interessantes sequências e novas descobertas.
Com a vontade do protagonista, vivido por Ricardo Darín, de escrever um romance a respeito do caso que mais marcou sua carreira de oficial de justiça como pano de fundo, o roteiro dirigido com carinho por Juan José Campanella é, na realidade, um brinde ao amor cego, às paixões infindáveis que o Homem encontra ao longo da vida. A metáfora dos olhos, usada até mesmo para o título, delineia parte do filme, como nas densas trocas entre Irene e Esposito, nas lágrimas do viúvo Morales e no momento em que o assassino pousa os seus no decote da advogada, confirmando a culpa.
Não é simples, porém, realizar um filme não-linear. A fita argentina sofre um pouquinho desse mal e torna bem menos excitantes os planos passados no fim da década de 1990 em relação à "juventude" dos personagens. Além disso, no quebra-cabeça, uma ou outra peça se embaralha, ainda que sem comprometer o acabamento geral, e os momentos anteriores à ótima cena no estádio do Racing já se aproximavam de soar arrastados, em diálogos exagerados.
Apesar da irregularidade e do batido estilo déja vu que liga a visita de Esposito a Morales à cena derradeira, o filme é acima da média, dentro dos padrões Campanella, mesmo que talvez não seja melhor que "O Filho da Noiva", o ápice dos trabalhos do cineasta, de 2001. Destaque, também, para o tom cômico, na hora certa, que recheia a trama, isolando um ar mais policial que o correto.
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