Todos os valores mais íntimos da tipologia personal dos grandes homens dos westerns são colocados em um quadro de amargura e esfacelamento de conceitos. Dinâmico e inteligente em demonstrar sob diversas perspectivas a situação tumultuosa histórica pela qual a pequena cidade passa, criando tramas e sub-tramas imprescindíveis, de forma a verificar mais facetas para cada um dos personagens. Essa fuga da unilateralidade, do simplismo textual maniqueísta, vêm da necessidade em observar o humano como ser imprevisível e inconstante que é. Portanto, pode-se esperar um longa cheio de sugestões e rupturas de possibilidade, em personagens ambivalentes contextual e moralmente.
A relação amor e ódio dos dois amigos atinge um flerte histórico de possível analogia à homossexualidade, provavelmente das pioneiras no western e no próprio cinema. Algumas passagens do diálogo aludem a essa vivaz possibilidade, como nas cenas em que Morgan declara para outros personagens seu apreço por Blaisedell: “Ele foi o único homem ou mulher, que não me viu apenas como um aleijado.” Sua precaução e zelo absolutos para com o parceiro denotam uma relação de incondicionalidade, que é também notada na outra via. O personagem de Fonda ignora a conduta delituosa de Morgan, divide praticamente todos seus assuntos e prioridades, mas em determinado ponto suscita através de Jesse Marlow uma arbitrariedade na fidelidade da relação. Eis que o passional personagem de Quinn se vê em estado de pavor e angustia. Seu comparsa integral, agora esboça um novo caminho, solo. Enquanto seu estado ruma à calamidade emocional, a trama de Gannon e seu irmão, os conflitos, o fato novo de Lily, tudo filmado sem urgência e apelos, tecendo a convergência narrativa para o clímax de forma gradual e premeditada, portanto. Tudo que ocorre ao redor do trio central é fundamental para a edificação do fim inevitável. E com tantos elementos compondo esse universo sinuoso, o ato final vem com grande pesar e desengano. O sepultamento da relação dos dois homens vem em uma seqüência dramática colossal, digna dos grandes exorcismos espirituais de John Huston. Constatação esta, proveniente principalmente da cena da morte de Morgan, e a subseqüente inumação de seu corpo em chamas, por Blaisedell, dentro do local onde despendera grande parte de seus dias, o cassino.
O desfecho da trama de Gannon também reserva algum arco dramático, pelo elemento surpresa de Curley, mas nada que se faça notar, diante do grande final, no embate inevitável com Clay. Depois da sequência em que declara o pesar de sua perda para Jesse, ainda desnorteado, desafia a autoridade do ascendente delegado de Warlock, externando uma necessidade de rebelar-se e transparecer seu estado emocional através de suas armas e habilidades. E é nesse cenário que ocorre o grande duelo, culminando em um desfecho que reaproxima vigorosamente o filme e o homem de seu universo, o western.
Sustentado fundamentalmente pelas grandes atuações dos protagonistas, a direção discreta de Dmytryk passa praticamente despercebida aos olhares mais relapsos, sendo que sua narrativa flui com tanta naturalidade e sem exercícios estéticos desmedidos. Mas trabalhando com um roteiro tão criativo, o cineasta consegue dosar as necessidades textuais em cena, sem comprometer outros segmentos fílmicos.
Seja pela impressionante retratação das relações entre os cowboys, pelo argumento intrépido e a abordagem naturalista, pelo notável uso das cores, o resultado é um dos westerns mais elaborados psicologicamente e inventivos de sempre.
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