Toda forma de amor, esse drama é sobre o amor, sobre esse sentimento tão nobre que não tem cor, sexo ou raça. Amamos e por meio do amor percebemos a vida. Mas não é apenas sobre esse sentimento que o filme quer abordar e falar. Quando nos sentimos perdidos, desorientados ou apenas desconexos do mundo, sem um motivo ou perspectiva aparente, o que podemos fazer? Ora, recomeçar não é tão simples, mas sim, ele é possível. Com um filme delicado e divertido, o diretor tenta nos dizer como é o “recomeçar” e como esse recomeço pode acontecer a qualquer momento ou diante de qualquer circunstância.
Oliver (Ewan McGregor) tem seus 40 anos e nenhum relacionamento estável que tenha dado certo. Ainda está vivendo o ludo do seu pai que faleceu a poucos meses. Se sente vazio, simplesmente, vazio. Numa noite ele conhece Anna (Mélaine Laurent) uma moça jovem, linda, divertida e que também não tem muita sorte com namoros. Se ele abandona seus relacionamentos, ela abandona a cidades, mudando sua vida, conforme os novos ares. Ou seja, esse relacionamento já se inicia fadado ao término, mas algo é diferente, ele está apaixonado por ela.
Enquanto isso, também conhecemos um pouco da história do pai de Oliver, Hal (Christopher Plummer). Após a morte da esposa, ele resolve se abrir para o filho e dizer que é gay, no caso, sempre foi. Numa época em que o homossexualismo era associado a doenças mentais, Hal buscou ajuda e renegou seus desejos. Casou, mas nunca escondeu para para sua esposa seu “problema”, mas também nunca a traiu ou vivenciou esse desejo. Porém, passado anos e tendo consciência de sua vida, e já viúvo, não há motivos, na visão dele, para não vivenciar sua verdadeira identidade.
Oliver de cara leva um susto, pois afinal seu pai, o homem que sempre vislumbrou e admirou, mas ao tempo que nunca conheceu por completo, era homossexual. Porém, se esse “recomeçar” na vida de Hal foi uma mudança radical, outro fato acontece, ele descobre ter um câncer num estágio muito avançado. Recomeçar e recomeçar, tentar e tentar. É por meio das lembranças com seu pai, que Oliver vai buscar coordenar sua vida.
Toda forma de amor é divertido, e de certa forma arrojado. O longa começa com Oliver olhando para o cão de seu pai e conversando com ele, e de um jeito muito divertido, o cão também participa da conversa, respondendo ao seu dono. Com o passar dos dias, um entende o outro, um fica preso ao outro. O longa também se utiliza na montagem de narrações cheias de imagens, num discurso rápido, retratando a vida dos personagens e fazendo comparações com o contexto da época. O mundo estava mudando, mas ainda muitas eram as barreiras.
É percebível no longa uma clara defesa aos direitos dos homossexuais e a figura de Hal representa essa luta. Ele é um personagem marcado por sua essência, que se vê na condição de não poder vivenciá-la por causas dos preconceitos e moralismo de uma sociedade ou por tantos outros motivos que jamais compreenderemos. Mas quando ele decide recomeçar essa nova vida, ele sai do armário, bebe, festa e vive, cobra direitos, faz reuniões e se comove com a causa. Mesmo quando surge um novo imprevisto, um câncer, um mal, ele para, recomeça e se levanta novamente.
Oliver é o outro tentando entender, observar e aceitar essa verdade. Ele se abala diante desse fato, tanto que ele nunca realmente se aproxima do namorado do pai no começo. Ele respeita, mas não aceita ou compreende de verdade. Só quando ele sente o amor como ele realmente é que ele aceita a morte do pai, a vida que possui e o que deve fazer para tentar ser feliz.
A trilha sonora do filme é bacana, divertida, a montagem é super genial, misturando acontecimentos reiais a ficção, sempre mostrando que essas duas realidades caminham juntas, com uma interferindo na outra. Mas o elenco é um dos pontos mais agradáveis, Ewan McGregor é um excelente ator que há tempos merece sua indicação ao Oscar. Carismático, introspectivo, consegue desenvolver seus personagens de forma única, porém Christopher Plummer fica com o destaque. Ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante por esse filme, ele empresta carisma, força e vida a um personagem marcado pelas condições da vida, sejam elas sociais ou não.
O filme segue a cartilha independente, ora sendo guiado pela comédia suave, ora pelo drama sem ser muito trágico. Assuntos fortes são debatidos, defendidos e trabalhados, mas sempre com leveza e nada forçado. O elenco é ótimo, o cão merece também destaque pelas suas falas tão profundas. “Toda forma de amor” erra no título em português, mas não há problemas para um filme tão simpático e terno como esse.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário