James e Jamie são um casal de namorados que não conseguem mais ter empolgação em seu relacionamento. Por conta disso, eles começam a ter uma relação aberta com Ceth, um jovem sempre em busca de encontrar sua alma gêmea. Sofia, a orientadora sexual deste casal, nunca teve um orgasmo, sempre fingiu ter para não magoar seu marido, Rob. Mais tarde ela conhece Severim, uma dominatrix que sente-se solitária e por fim um jovem fascinado com a vida dos outros a ponto de gravá-las em momentos íntimos, no melhor estilo de voyeurismo. Qual é o elemento que une essas pessoas? Uma boate chamada Shotbus e a cidade de Nova York.
Abusando de cenas quentes e sexo explícito, esse filme trouxe muitos debates no âmbito do cinema. Até poderíamos dizer que esse drama se enquadra no gênero porno, afinal, há cenas, muitas cenas de sexo, deixando o “Nine Song” no chão, mas não, não é tão bem assim. Esse longa possui toda uma complexidade. Todas as cenas são necessárias, pois refletem seus personagens, seus medos e seus temores.
Um grupo de pessoas se encontram esporadicamente numa boate estilo “underground” de Nova York Nesse local, conversam, bebem, se relacionam,debatem sobre os mais diversos assuntos e claro, transam muito. Como um certo personagem comenta no decorrer do filme, aquela boate seria um encontro típico como os da década de 60, só que sem toda aquela esperança. Porém o que faz desse local ainda mais interessante para estes personagens é que ali estão todas os tipos de pessoas que não se sentem incluídas de uma forma na sociedade. Sentem-se como minorias, mas que nesse espaço totalmente aberto a todos os tipos de experiências, eles podem estravar toda sua tensão, prazeres e desejos. Seja você homossexual, hétero ou apenas curiosos, ou seja, simpatizante, não importa, a ideia é que todos possam ser bem vindos e viverem o ápice dos seus desejos, sejam eles imorais ou não. Liberdade, é a palavra que rege esses jovens.
Se passando pós 11 de setembro, o drama tenta invocar como esses jovens estão reagindo diante de todo medo, temor e preconceito gerado depois desse incidente. Incertezas, essa palavra irá nortear todos eles, tanto na vida amorosa, quanto sexual e pessoal ou simplesmente num próximo amanhã. Apesar de serem atores amadores, todos de certa forma, se saíram muito bem no filme. É possível perceber solidão no olhar de Severin, dúvidas quanto a tudo no casal de namorados, uma busca incessante na tentativa de não ficar só em Ceth. Todos são personagens extremamente reais, dotadas de sentimentos, dor e profundidade. É nesse aspecto que reside o melhor desse drama. Apesar de abusarem do sexo, houve todo um cuidado em compor na melhor forma possível os dramas desses jovens.
Há também durante todo o longa uma Nova York representada por uma maquete que sempre hora ou outra, fica no mais profundo escuro. Isso talvez seria toda uma carga de incerteza a qual todos desta cidade estão submetidos, ou seria apenas o medo ? A resposta não fica clara, mas o que ele demonstra é que seus personagens estão mergulhados em grandes incertezas.
Outro destaque do filme fica por conta da trilha sonora, ela é simplesmente impecável. Envolvente e muito gostosa, ela dá um toque especial ao filme e às tramas. Assim como em Hedwig: Rock, amor e traição, o diretor soube trabalhar com esse recurso para valorizar os sentimentos, sem sobressair sobre as imagens. O começo do longa e seu final também merecem destaque. O rosto de Sofia em closer, denotando que finalmente ela chegou ao mais puro e verdadeiro orgasmo, suaviza e deixa com tons poéticos esse filme.
A dor está presente, a busca incessante de superá-la também. Uma ternura guia a todo momento esse drama. Tirando todas as cenas de nudez e olha que são muitas, o que fica é um trabalho intimo, tocante, comovente e terno sobre o homem em suas limitações. A dor está ao nosso derredor e por mais que venhamos tentar suportá-la, ainda sim a sentiremos. Assim como em Hedwig: Rock, amor e traição, e Reencontrando a felicidade, o diretor quer abordar como a vida pode ser injusta e dolorosa. É na dor que a certeza se desfragmenta. Personagens perdidos, anestesiados diante da vida, apenas esperando as horas passarem. É a cantora/cantor que se vê sem sorte em todos os seus passos ou o casal que perde subitamente o único filho num acidente de carro, ou aqui em especial, jovens que sentem-se sozinhos, solitários e incompreendidos, mesmo vivendo numa grande cidade como Nova York. Eles buscam algo e tentam encontrar no sexo e na união carnal essa realização.
Assim é Shortbus: terno, profundo e ousado, excitante e sensível. Um filme que não é para todos, e com certeza irá assustar aos mais conservadores. Ele trabalha com o preconceito de forma indireta, já que abusa das imagens com suas cenas de sexo homossexual explícitas para provocar a quem está vendo o filme. O diretor John Cameron Mitchell não perdoa em mostrar toda a ação dessa transa e ainda por cima faz uma brincadeira nada bacana com os americanos, pois afinal, ver um cara cantando o hino nacional americano literalmente na bunda de outro não deve ser nada patriota ou elogiável, mas sim uma feroz crítica no mais divertido tom cômico.
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