Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora e Melhor Atriz, esse filme tipicamente inglês é um misto de comédia com drama. Uma história trágica, que caminha com leveza, ora nos entregando momentos engraçados, leves e despretensiosos, ora nos entregando um drama intenso e doloroso capaz de nos levar as lágrimas fáceis.
“Philomena”, com direção de Stephen Frears, traz em seu elenco a grande atriz Judi Dench como Philomena, uma mulher que guarda um grande segredo. Ainda quando jovem, na Irlanda, teve uma relação sexual com um rapaz e engravidou. Expulsa de casa pelos seus pais foi recebida num convento. Pelo parto realizado pelas freiras, foi obrigada a trabalhar por longos quatro anos, em serviços braçais dos mais diversos. Porém, diante de todo esse sofrimento, foi obrigada a ver seu filho ser doado à uma família norte americana pelas freiras do convento.
Passado cinqüenta anos, sua vida continua, mas ainda ela guarda essa dor, até que conta tal “segredo” a sua filha. Nesse momento entra em cena a figura do jornalista Martin Sixsmith (Steve Coogan). Demitido a pouco tempo, ele num primeiro momento se recusa a fazer uma reportagem sobre o drama de Philomena, pois considera histórias de caráter humano muito sensíveis, fracas e para mentes fracas. Mas devido a sua nova situação, aceita a proposta. E os dois seguem juntos nessa empreitada.
Em “Philomena” o que se estabelece é um contraponto de diferenças entre a figura da simpática senhora e esse arrogante jornalista. Enquanto ela é inocente, dotada de uma bondade inigualável e uma fé inabalável, ele é cético, orgulhoso, temperamental, egoísta e arrogante. Ou seja, dois personagens que não se batem, mas tem que se conviver.
Não há um segredo de fato nessa trama. Tudo se releva facilmente e o mais interessante é que toda verdade se dá muito rápido. Quando chegamos à verdade, paramos e pensamos: e agora, o que acontece? Nesse momento, sai de cena toda investigação e o lado cômico do filme e entra em cena a grande atuação dessa atriz e o lado mais dramático do filme ganha fôlego. É a partir desse instante que esse pequeno longa impressiona, comove e nos encanta.
Um olhar amargurado, vários silêncios que nos impactam, uma trilha sonora contida e super bem utilizada, revelando e mostrando o seu melhor no cinema, é dessa forma que “Philomena” mostrar o seu poder, em sua sua simplicidade, esse drama nos conquista. É na sua história e em sua personagem que está o grande deste material. Essa mulher já sofreu demais, porém mesmo diante deste sofrimento ela perdoa se cala e aceita. Não consegue ver maldade nos olhos e ações dos outros, mesmo quando isso está de forma clara diante de nós. Isso faz com que aos poucos Sixsmith compre essa briga e leve essa trama adiante.
Mas ao mesmo tempo que uma inocência paira sobre Philomena, sua visão de mundo é dotada de uma modernidade incrível. A cena em que é falado sobre a homossexualidade do filho e em que ela encontra o antigo namorado dele revela esse lado compreensivo dela. Em nenhum momento ela mostra empatia, ou recriminação, mas sim um olhar acolhedor e carinhoso, compreensivo sobre o outro. Como ela diz em certa altura do filme, ela conhecia o filho dela, e simplesmente o aceitava. Ela não julga ou condena, ela apenas aceita.
Em todo tempo, Sixsmith debate com ela o tema fé, e sua capacidade de perdoar, mas o que se pode fazer diante de tal ato? Se rebelar e guardar uma mágoa e dor que com o tempo, nos tornará pessoas mais infelizes? Sua postura, seu olha e seu silêncio não expressam uma aceitação do fato, mas apenas da dor.
Duas cenas são emblemáticas e sintetizam todo sentimento de Philomena: quando ela tenta se confessar ao padre pelos seus pecados e o momento em que se depara com toda verdade e com todas as palavras ditas. Estes dois instantes revelam o lado inocente e amável dessa mulher. Um lado capaz sim de perdoar, porém que sabe que a verdade tem que se dita e ser mostrada.
Nesse filme, Frears trabalha em cima da fé e da religião, mas com delicadeza. O tema sexualidade que por tanto tempo fora visto como algo abominável pela Igreja, ganha presença nesse longa. O drama que é baseado em uma história real revela um lado sombrio da Igreja na Irlanda. Uma verdade dolorosa e que marcou muitas vidas.
“Philomena” é simples, dos indicados ao Oscar na categoria de melhor filme, é o mais simples em sua estrutura, trama e direção. Entretanto, menos é mais e esse drama é a prova disso.
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