Sensível, profundo, simplesmente belo
“Onde vivem os monstros”, novo longa do diretor Spike Jonze é uma bela obra da sétima arte. Sem se apegar a uma história ou roteiro que tenha uma ação constante, detonando de forma clara um enredo sem o começo, meio e fim e a presença de um vilão, longa apenas mostra as aventuras de um garoto fechado e solitário num mundo criado em sua imaginação. Um deserto, uma floresta, monstros, cachorros, seres grandes de aspecto feio, porém sensíveis, dotados dos mais puros sentimentos. Esse é o seu mundo.
Max possui uma família não muito perfeita. Sua irmã não liga para ele. Não tem um exemplo de pai perto dele e sua mãe (Catherine Keener) para manter a casa trabalha constantemente. Ele não tem amigos, sendo assim os cria. Seu quarto é o seu refúgio, é lá que ele cria sua muralha, seu esconderijo. Um garoto comum com uma imaginação fértil. Após ver a mãe com outro homem, possivelmente o namorado (Mark Ruffalo), Max tem uma briga com ela e acaba fugindo, partindo para uma floresta que dá acesso a um grande e vasto mar e ao fim deste se depara com um mundo desconhecido com diversos monstros. Nesse mundo, Max consegue convencer essas criaturas de que ele é um rei e devem coroá-lo. Após isso o que vemos é um garoto tendo as mais loucas aventuras envolta do desejo de criar um grande refúgio.
Nesse mundo todos os monstros são dotados de um único sentimento em particular, uma característica que compõe a personalidade de Max, sendo assim, a junção de todos é ele. Carol (James Gandolfini) o mais impulsivo de todos é que o mais se assemelha a ele e é a esse que Max mais se apega. Judith (Catherine O'Hara) é a mais estressada, Alexander (Paul Dano) é o mais fechado e medroso e assim por diante.
Com uma trilha sonora bem produzida e gostosa, agradável e envolvente, somos levados a esse mundo e experimentar todos os sentimentos de Max, tanto nos momentos leves como nos mais tensos. A fotografia é bela, com excelentes paisagens desde um vasto deserto até uma floresta bem iluminada. Fazendo uso de pessoas que vestiram literalmente uma fantasia e sendo assim utilizando pouca tecnologia nestes, o longa ficou muito mais real e próximo de nós. A escolha do elenco para dublar os monstros foi muito bem colocada, caindo como luva cada ator em seu personagem. A direção é segura e livre. Ao começo do filme a câmera é solta e os cortes são muito bem utilizados. A interação entre os atores é muito boa.
Enfim, uma história simples, porém muito bem trabalhada. Nos identificamos com Max, pois afinal quem já não imaginou quando criança um mundo mágico e que nós fossemos o rei ou os mais fortes e poderosos. Seu mundo é o seu refúgio, mas também um lugar de aprendizado, pois cada escolha feita por Max terá sérias complicações. A escolha por um monstro, a aceitação de outro, ciúmes, inveja, raiva são sentimentos que percorreram cada instante da vida de Max nesse mundo e isso será uma lição que irá aprender sobre sentimentos. Compreender, aceitar, conviver. Ser criança não é fácil, porém mais difícil ainda é crescer. Deixar esse mundo encantado e voltar para casa, para a realidade e enfrentá-la com todas as suas imperfeições.
Algumas curiosidades sobre o filme, Catherine Keener além de atuar participou no filme também como preparadora de elenco. As filmagens do filme começaram em 2005. O filme que teve um orçamento de 80 milhões de dólares não se pagou, tendo uma bilheteria fraca também no Brasil. A história é baseada na obra de Maurice Sendak, o livro no caso tem pouco texto e é recheado de ilustrações e como o filme teve uma recepção fria na época de seu lançamento.
Onde vivem os monstros é um belo filme cheio de imaginação e poesia. Um filme para ser sentido e não apenas compreendido.
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