Em “Flor do deserto” o que tem de peso sobre esse filme é a sua história. O drama real de Waris Diries (Liya Kebede), uma garota que fugiu da miséria de sua terra para conseguir conquistar, anos mais tarde, as passarelas de vários países.
Essa história até poderia soar batido ou clichê, já que retrata o sonho da grande maioria das garotas, mas aqui, a diretora não está interessada em abordar o caminho da menina humilde que é descoberta por um homem e transformada num ícone de beleza e da moda, mas no drama de uma garota, de uma mulher presa a sua cultura e que ainda pequena é marcada por uma dor, uma tradição que a muda por completo.
Por volta dos três ou quatro anos, assim como Waris, várias garotas de alguns países da África passam por uma circuncisão. Um procedimento que pode levá-las à morte e trazer muitas dores nos decorrer da vida. É percorrendo a vida dessa jovem africana, do momento em que ela conhece Marylin (Sally Hawkins) até o ponto em que se torna uma modelo, que o filme vai nos apresentar esse drama. Porém, esse tema somente ganha força ao final da película.
O filme começa com Waris nas ruas da Inglaterra procurando por comida até que encontra por acaso Marylin. Ela, por insistência da garota a seguindo, a acolhe e arruma um simples emprego pra ela numa lanchonete. Mas como Waris não fala quase nada em inglês corretamente, ela resolve deixá-la morar com ela por algum tempo. Essa é a primeira pessoa que mudará por completo a vida dessa jovem. A segunda será Terry Donaldson (Timothy Spall), um fotógrafo que admirado com a beleza dela, a convence, com muita dificuldade, a ser fotografada por ele. Donaldson será como um protetor pra ela.
Após esses dois sujeitos mudarem a vida dela, o longa mostra pouco a pouco sua ascensão como modelo e a dificuldade em conseguir um visto como cidadã inglesa, já que o seu passaporte expirou e ela pode ser deportada a qualquer momento. Conseguido a realização desse caminho, o longa parte para o que realmente importa e veio: deflagrar e mostrar os horrores de uma tradição sobre a vida das mulheres de sua terra. Até esse momento da história, por meio de flash-back, já conhecemos praticamente toda a sua história, do ponto em que era apenas uma garota que foi prometida em casamento a um velho da aldeia, de sua fuga para a casa de sua avó, até o ponto em que ela vai para Inglaterra.
“Flor do deserto” não quer ser um conto de fadas, mas um filme denúncia sobre a miséria que assola a África, em mais específico a Somália e sobre a circuncisão que mesmo diante da inexistência desse fato no Alcorão, ainda acontece com fatores ligados a religião. Essa circuncisão consiste em cortar o orgão genital feminino, retirar a clitóris e pós isso, costurar a ferida com espinhos dos cactos do deserto. Esse procedimento mal cuidado pode levar a uma infeção generalizada e a morte e durante toda a vida da mulher essa ferida poderá causar fortes dores e problemas mais sérios. O motivo para tal prática está relacionado à pureza da mulher, somente assim é que elas poderão deixar de serem sujas.
Com relação ao filme, ele tem algumas falhas na estrutura de sua montagem. Aparecem no decorrer do longa cerca de quatro flash-back. O primeiro e o último têm sua importância, mas os outros dois quebram a fluência do roteiro. A história está caminhando num certo ritmo, mas ela se perde para dar espaço a esse fato do passado. O uso em excesso desse recurso não faz bem ao filme e isso se percebe claramente nesse longa. Outro ponto que de destoa do todo o drama é a inserção de um possível caso amoroso de Waris. Ele aparece em três momentos. Sua ponta é costurada ao final, mas sua presença não tem de fato uma importância para essa história. Deixa a entender que a diretora esqueceu desse detalhe na construção do roteiro e o colocou de última hora, prejudicando o todo.
Mas se há essas falhas, o peso do drama/história, o elenco e as fotografia ajudam. No começo do longa e ao final são mostradas belas paisagens de uma África desértica, seca e pobre. As cenas em que mostram de cima para baixo a pequena Waris andando no deserto são de uma beleza única. A diretora soube mostrar com cautela e sem melodrama as dificuldades pelas quais essa população passam. No elenco a diretora optou por dar o papel principal a uma modelo africana, essa escolha dá mais veracidade ao drama e para dar um certo apoio e consistência ao elenco, ela optou por dois atores ingleses de peso. Timothy Spall e Sally Hawkins. Eles ao centro da trama são ótimos, destaque para Sally Hawkins
“A flor de deserto” é um tipico drama que aparentemente vai contar o mais do mesmo, mas que surpreende pelos rumos que tomam ao final e o desfecho é o clímax de todo esse drama. O discurso que encerra essa trama é comovente e serve como um recado, um claro recado.
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