“Os famosos e os duendes da morte”, filme brasileiro, conta a história de um jovem de 16 anos que não conhecemos o nome de fato, mas apenas somos apresentados a ele como Mr. Tambourine Man. Ele é um adolescente que simplesmente ainda não encontrou o seu lugar, mas esse simplesmente guarda muita complexidade. Sua relação com o mundo é por meio da internet, através dos diversos sites de relacionamentos.
Ele sempre vê na net alguns vídeos de uma garota que, assim como ele, sente-se deslocada de tudo, mas ela, ao contrário dele, conseguiu encontrar as respostas para algumas perguntas com a ajuda de um jovem que tem uma pinta de Bob Dylan.
Porém, as coisas começam a mudar, a partir do momento que esse rapaz começa a rondar a cidade e encontrá-lo em diversos momentos e aos poucos percebemos que essa garota dos vídeos não está tão distante dele assim e que ela tem uma ligação muito forte com todos da cidade e exclusivamente com ele.
Composto por uma bela trilha sonora, com direitos a longos silêncios e ruídos marcantes e ótimas paisagens, mostrando uma cidade do interior de Rio Grande do Sul, o filme mergulha profundo na mente e sentimentos desse rapaz. Realidade e ilusão caminharão juntas num único passo.
Fuga, escape, é disso que o filme vai sempre tratar. Todos procuram uma forma de se refugiar dessa dor que é o mundo. A mãe dele após a morte do marido passa a conversar com o cachorro criando uma ligação muito forte com este animal, como se ela conseguisse compreende-lo e ela ser ouvida. A mãe de seu único amigo tenta manter a postura, mas seus olhos estão simplesmente perdidos num profundo horizonte sem fim. E por fim, ele, que por meio das suas postagens na internet, em seu blog, tenta uma fuga e uma compreensão para si.
O filme, é em si, muito melancólico, uma angústia está presente continuamente no longa e em todos os personagens. A dor é constante, o sentimento de vazio também. As paisagens desta cidade tão fria e gélida ajudam a compor esse cenário. Uma falta de conversa e diálogos comuns é perceptível no drama. O jovem somente se abre diante do seu computador.
Dirigido por Esmir Filho, do famoso diretor do curta Tapa na pantera que rolou a beça na internet, o filme consegue captar os sentimentos e pensamentos de uma geração que tem como ponto de ligação a internet. Esses jovens estão tão distantes entre si, mas ao mesmo tempo, tão perto. A internet trouxe muitas mudanças e dentre elas, a possibilidade de quebrar barreiras marcadas pela distancia territorial. Podemos criar laços, compartilhar sentimentos de dor e alegria e ter nossa vida sendo vista e sentida por tantas e tantas pessoas que quiserem perceber, ver ou sentir. Mas esse filme também mostra como, em uma época em que a comunicação está tão forte e presente, há jovens ainda tão solitários e distantes que se escondem em seus mundos e suas imaginações. Se antes eles buscavam refúgios em seus livros, diários, hoje eles tem inúmeras ferramentas como o blog. Essa dor e essa falta de razão na vida que, mesmo diante de todas as mudanças no mundo, ainda tende a permanecer é captada com maestria pelo diretor. Como o personagem do filme diz: Estar perto não é físico.
O forte do filme está nas suas imagens. Composto por cenas gravadas de forma convencional, como se fosse uma postagem e por imagens granuladas, escuras, azuladas e frias, elas tentam mostrar a ilusão, sonhos, imaginação e a realidade deste personagem. A trilha sempre presente deixa os momentos mais introspectivos. O único ponto fraco esteja no fato dele jogar com muitas suposições e ideias em aberto, como no final do filme, que apesar de ser comovente, lindo e poético, ele tende a ter muitas saídas, dependendo do pensamento de quem o assiste, não deixando uma certeza de fato. A cena do carro também não ajudou, parece que aquela ponte nunca acaba. Aquela cena esta calcada na realidade mesmo ou nos pensamentos e sentimentos daqueles rapazes e por fim, a aparição da garota na cena final num momento de ápice do filme, que entrelaça os destinos destes dois jovens, foi desnecessária. Ao meu ver, ela foi colocada para não mostrar claramente uma cena ligada ao homossexualismo.
Por fim, um belo filme brasileiro, muito mais ligado ao ato de sentir do que de realmente compreender uma historia. Sensível, comovente e profundo, uma bela obra da sétima arte.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário