As ondas do mar são fortes. O céu está numa cor azul tão bela. Corpos se batem, sorrisos e olhares, tudo é tão perfeito que só pode ser um sonho.
Um mergulho na dor de uma jovem. Uma dor sem explicação, um vazio que assola e maltrata. Uma ferida que sangra e persisti em sangrar. "Eu, eu mesmo, Verônica",o que filme quer perguntar é: Quem é Verônica? Ou quem sou eu diante de tantos outros?
Verônica (Hemilda Guedes) é uma jovem residente em psiquiatria. Os estudos chegaram ao fim, agora ela atua num hospital público de Recife diretamente com os pacientes e estes que lhe aparecem são dos mais diversos. Tudo que aprendeu em teoria, agora irá vivenciar na prática.Ela tem como função tentar curar as dores, feridas e sentimentos de repulsa que nos aflige, mas ela mesmo sente um vazio e um mal estar que não compreende.
Mora com seu pai em um bom apartamento, tem um relacionamento de amizade e sexo com Gustavo (João Miguel). Seu pai deseja que os dois passassem a namorar, pois ele vê o rapaz com bons olhos, mas ela não deseja, ela não deseja, no fundo, ela não sabe de praticamente nada, ou não deseja nada, vive a deriva.
Quando ela descobre que seu pai possui uma doença que faz com que tenha pouco de tempo de vida, ela chora, se cala, não sabe como reagir. Como reagir? Diante desse vazio, dessa realidade, ela se tranca em seu quarto e passa a se analisar e se perguntar: "Quem é Verônica? Verônica, paciente de mim mesma
Do mesmo direto de "O céu de Suely" e "Viajo porque preciso, volto porque te amo", esse drama é um mergulho na dor e no vazio de uma jovem e porque não de uma geração? Verônica conquistou tudo o que podia conquistar até o momento, mas ainda sim algo lhe falta, algo que ela ainda não sabe.
Pessoas trafegam por ela, ela se destaca no emprego, dança pelas ruas, pula o carnaval, mas ainda seu semblante é de um olhar perdido, como se estivesse perdida. Um vazio nos move e ela percebeu esse vazio e quer entender de onde ele vem.
Um filme de sentimentos, não de palavras, de sentir, de perceber, de vivenciar. Algumas dores jamais poderemos curar de fato, algumas feriadas jamais poderemos ver, quanto mais cicatrizar. Deixe sangrar, deixe sofrer.
Nesse drama, os diálogos são corriqueiros, mas as perguntas levantadas são fortes. Não se chega a alguma resposta de fato, pelo contrário, apenas a mais perguntas. A câmera foca nos olhos, nos lábios, na boca e nos movimentos. Na trilha sonora, o som natural se destaca, o som das ruas e dos ruídos de uma cidade que cresceu e se perdeu em seu crescimento. A atuação é exuberante e a direção intimista.
Ao final, não se tem uma resposta, se tem uma aceitação. As ondas do mar são fortes e o longa nos leva à cena inicial do filme. Corpos se batem, sorrisos e semblantes de felicidade, banhados por um olhar de tristeza. E Verônica está ali, calada, com um sorriso calmo e leve, um olhar direto e concentrado.
"Eu, eu mesmo Verônica" se centra num estilo de cinema nacional que ganha força aos poucos na industria independente. Não é ideia do autor abordar as questões sociais, econômicas, mas o sujeito, o "eu" dessa historia. Ele é dotado de ideologias, de fatores sócio-econômicos, mas também de dúvidas, de incertezas, de questionamentos e de um existencialismo. É esse o sujeito que esse drama quer abordar.
Verônica possui tudo e ao mesmo tempo nada, no filme se fala sobre tudo, ao mesmo tempo não nos diz nada. Uma falta está sobre esse longa, um silêncio gostoso e prazeroso toma conta do drama, nos conduzindo e nos levando, como as ondas do mar
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