Um caminho, uma estrada. A vida nos reserva muitas surpresas e muitas mudanças e transformações. Não é fácil crescer e amadurecer. Perceber a vida em sua mais dura realidade, perceber que deixamos de sermos crianças e que todo aquele mundo inocente se foi é algo que marca, que toca e que nos muda. Cada um tem um caminho a seguir, mas todos nos levarão a um único final.
E sua mãe também poderia ser uma comédia, afinal, podemos considerá-la como tal. Mas não, não é. É um drama calcado na mais profunda dor, mudança e aceitação. Um filme sobre dois amigos, sobre duas vidas e sobre uma mulher também. Um filme sobre verdades, sobre mentiras e sobre como nos comportamos diante delas.
Tenoch (Diego Luna) e Julio (Gael García Bernal) são dois jovens em busca do prazer. Sempre amigos, estão sempre juntos. Num certo dia, numa festa de casamento, conhecem Luiza (Maribel Verdú), namorada do irmão de Tenoch. Impressionados com a beleza da moça, a convidam para uma viagem. Encontrar uma praia linda, deserta e que possui umas das paisagens mais intocadas e mais puras que eles já viram.
Lógico que tal local não existe, essa praia inventaram no momento, apenas para tentar convencer Luiza a viajar com eles. Mas como se era de esperar, ela nega. Após uma notícia que a desaba, ela resolve aceitar a proposta dos garotos e tem-se aí uma viagem marcada por paisagens desérticas, fortes e intensas
E sua mãe também é intenso, divertido, terno e sensível. Nos toca profundamente e pouco a pouco nos entrega estes três personagens tão falsos e tão verdadeiros ao mesmo tempo. O longa segue uma linha erótica, afinal, eles são dois jovens em busca do prazer. Os dois namoram e sempre se dizem fiel, mas aos poucos vamos percebendo que nem tudo é assim tão belo ou correto.
Durante a viagem, verdades são ditas, jogadas e lançadas. A cada fato revelado, uma ferida se abre, uma mudança é gerada. Os dois rapazes estão interessados por Luiza. Primeiramente ela se interessa por Tenoch, deixando o amigo possesso de ciúmes, porém depois é a vez de Julio e a partir daí, tudo se complica, tudo entra em choque.
Os dois apesar de serem grandes amigos, possuem realidades bem diferentes. Tenoch pertence a uma classe média/alta, possui rendas, um pai com uma boa estrutura, mas ausente e um futuro garantido. Suas convicções permeiam pela sua estrutura econômica. Julio é mais humilde, não possui toda estrutura que o amigo tem. Isso de certa forma o atinge, mas nunca o deixa de se sentir menor, porém nem tudo é fácil pra ele e aos poucos ele percebe essa mais dura realidade. O que ele espera da vida? Não, ele não sabe, nenhum dos dois sabem.
Com o desenvolvimento da viagem e a incerteza maior que essa praia não existe de fato, os cenários vão mudando e o clima também. Se no começo, tudo era lindo, belo e perfeito com os três num maior clima de descontração, a partir do momento em que a paisagem vai tornando-se mais seca, pobre e violenta, eles também vão passando por uma mudança. Os dois vivem num mundo a parte, nada os toca, nada. Mas ao entrarem em contato com um pais desconhecido aos olhos deles, porém tão perto, eles se chocam com a dura realidade, a dura verdade. Essa verdade revela neles uma outra verdade ainda mais dura, a verdade sobre eles mesmo.
Outro ponto que muda com o desenrolar do filme é a intensidade do longa. Se no começo tudo era leve, a fotografia clara e a trilha divertida, com o passar dos minutos o drama ganha força, a comédia perde seu espaço, a fotografia se torna mais seca, o calor mais intenso e insuportável e os três já também não são mais os mesmos.
Cada um destes três tem um caminho a seguir, uma estrada a percorrer, uma trilha em que se descobrirão a si mesmo, aos seus medos e seus desejos. Mas tanta proximidade poderá também significar uma separação. E assim como estes dois jovens Luiza tem um caminho a seguir, uma dor a superar, uma verdade a aceitar. No final, tudo se enquadra a verdade que nos cerca e que tentamos a todo custo não aceitar. Lutamos contra ela, criamos mundo, vidas, desejos e valores, mas essa está ao nosso lado, nos ferindo, nos tocando, nos revelando. Aceitação não é conformismo, é aceitar e deixar-se levar por esta.
A verdade nos liberta e nos transforma. E assim estes três serão transformados. Afonso Cuaron realiza aqui um filme primoroso e delicado. Aos que pensam que verão um longa envolvendo sexo e cenas de nudez, se enganam. E sua mãe também é um drama profundo e leve, divertido e pesado, enfim, um longa que ganha força com o tempo.
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