É com sutileza, apoiado num ótimo roteiro, excelentes diálogos e atuações soberbas que Copia Fiel se sustenta
James Miller (William Shimell) chega a uma pequena cidade para lançar seu livro e falar um pouco sobre o tema da obra. Elle (Juliette Binoche) chega no meio da palestra, fica por pouco tempo, deixa um recado com o amigo do escritor e vai embora. Mais tarde, a pedido dela, ele a encontra em sua loja, os dois saem pela cidade para conversar sobre o tema do livro e outros diversos assuntos. Durante a conversa, a cada momento, assumem papeis distintos, enganando quem vê a cena e a eles próprios, num jogo constante que perdura até momentos finais do filme.
O drama num começo, questiona principalmente a questão que rege o livro que justamente é o título do filme. Durante essa conversa, o que há entre eles é um debate acalorado por posições extremamente diferentes. Ela, amigável em certos momentos, áspera em todos os outros. Ele, sempre tentando ser cordial, porém deixando-se levar pela implicância dela em algumas situações.
Porém, um dos pontos mais do que positivos do drama é com relação a discussão que se abre em torno da importância da cópia diante da original. Segundo James, é somente na existência de uma réplica que se dá a autenticidade da peça original. Mas se for realmente analisar ainda mais esse posicionamento, todos os trabalhos produzidos são na verdade, uma imitação, uma cópia fiel, não existindo assim uma originalidade em nada existente, pois tudo é uma tentativa de reproduzir um momento, uma ideia, uma pessoa. Um retrato/quadro original é uma cópia de uma pessoa, de uma paisagem que se tem num certo momento, de um pensamento que se materializa por meio de uma reprodução artística.
Contudo, outro tema ganha proporção com o decorrer da conversa. Um assunto mais delicado, mais presente que é a questão do amor que se perde e se transforma com o tempo. Depois que se acaba aquela paixão fulminante entre um casal, o que fica? Aos olhos dele é apenas uma amor moldado pelo respeito mútuo e um zelo. Pela visão de Elle há ainda esse sentimento, entretanto, ele tem que ser trabalhado, vivenciando, não deixando com que os pequenos entraves da vida o abandone. No caso, essa posição dela, se revela apenas ao final, pois no começo e durante boa parte da discussão ela se mostra cética quanto ao amor.
Em meio a questões como originalidade/imitações e a transposição do tempo sobre o amor, o autor também exalta em seu filme o antigo, o simples, o rústico. Essa valorização se dá em meio a algumas imagens, escolhas, estruturas. A loja de Elle que é somente especializada em artefatos antigos, o restaurante com seus vinhos e azeites a mostra na janela. O hotel que encerra o filme ou ate mesmo a própria cidade por onde andam, com suas ruas estreitas, café pequenos moldados pela passagem do tempo e ambiantes que respira simplicidade.
Além desse roteiro que se apóia no forte diálogo, o drama tem em seu beneficio um elenco extremamente competente. Juliette Binoche que obteve o prêmio de melhor atriz em Cannes 2010 por essa atuação, está encantadora. Sua expressão ao falar, ao fitá-lo durante as conversas, seu sorriso terno e sincero pedindo uma resposta à sua pergunta ou o seu comentário são autênticos e verdadeiros.
Um dos momentos mais interessantes do filme que se estende em várias cenas é quando a câmera os filma de frente e tanto ele, quanto ela olham fixamente para a lente, como se estivesse nos encarando e diante do nosso olhar, conversam sorriem e tentam ganhar uma intimidade com nós. É como se nos encarassem e nós ficássemos frente a frente.
Esse é um daqueles filmes em que a voz da experiência está em todos os detalhes do longa, seja no elenco, composto por atores já vividos, seja na direção, na estrutura com que o drama é guiado ou na escolha dos cenários e composição da trilha. Uma história em que e figura do tempo está presente e se faz presente.
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