Sensível e belo, um filme tocante.
Chuva de verão, filme da Nova Zelândia, é uma obra cinematográfica interessante. Lançado em 2005, o longa não provocou muita atenção da mídia brasileira. Selecionado para o Festival de Cannes, o drama obteve ótimas críticas. A diretora desse longa, Christine Jeffs, tem apenas mais um filme no currículo, o também delicado e envolvente Sylvia – paixão além de palavras, porém, com apenas esses dois longas, ela mostra ser uma diretora de talento, que consegue captar a alma dos seus personagens, com estilo delicado, suave e terno.
Janey é uma garota de 16 anos que passa os verões numa casa de praia junto com seus pais. Sua relação com a mãe é fria e ela percebe que o casamento de seus pais também anda por esse caminho, beirando o fim. Durante essa estadia na casa, sua família conhece Cady, um fotógrafo. Logo seus pais ficam amigos dele, mas ela percebe que sua mãe está com outros interesses sobre ele. Ela presencia a todo o instante a troca de olhares entre os dois. Ele é um homem livre e na primeira oportunidade que tem, fica com ela. Janey presencia a cena e não sabe o que sente. Após isso, a cada dia que passa, seu interesse por ele cresce violentamente. Enquanto isso, sua mãe vai se envolvendo com Cady cada vez mais de forma impulsiva, sem se atemorizar com o que poderá acontecer à família.
Janey tem um pequeno irmão que a segue em todos os lados, por conta disso, sempre que ela vai até o barco de Cady, ele vai junto com ela. Mas apesar dessa ligação muito forte dele para com ela, os dois tem uma relação muito bonita e comovente. Nesse sentido, o filme vai caminhando, propondo momentos únicos de beleza e tensão, chegando a um final dramático, doloroso e comovente.
O filme consegue compor uma história de amor, desejo, a descoberta da sexualidade e o fim de um relacionamento de uma maneira muito perspicaz. O roteiro, baseado em discursos diretos e troca de acusações, mostra um diálogo forte, claro, mas ao mesmo tempo, indireto, pois a todo momento não se fala claramente, tudo fica nos olhares, nas expressões e nas frases que poderiam ser ditas, mas não são. Alguns momentos do filme são simplesmente incríveis, como nas cenas que envolvem a mãe de Janey debaixo das águas do chuveiro, ou Janey na floresta com o Cady. Essas cenas, por meio de uma fotografia em preto e branco, revelam toda a poesia e sentimentos destas personagens. Tudo confere mais brilho a esse instante: a trilha sonora leve e suave, a iluminação clara e penetrante e a imagem em câmera lenta, dando mais leveza a cena. Enfim, detalhes muito mais do que pensados que conseguem dar força e peso a uma cena, que se fosse rodada de uma forma mais simples, convencional, não teria a mesma presença e atenção.
A atuação é outro ponto forte do filme. Janey é uma garota direta, sabe que tem uma atração por Cady e por isso irá até onde poder ir para ter essa realização, mesmo tendo o conhecimento de que é uma garota e ele nada terá com ela. E essa atuação é transmitida de forma bela e intensa pela atriz.
A mãe dela também tem seus momentos fortes no drama, sempre confusa sobre o que está fazendo, ela mostra que sua personagem vive a sombra de uma vida que gostaria de ter, mas não tem. Cady é outro que leva destaque, por uma atuação séria, simples, porém vigorante e direta, mas quem leva os créditos é o pequeno garoto. Ele simplesmente é encantador, engraçado e cativante.
A trilha sonora é gostosa, merece os créditos pela presença sempre constante no filme, seja pelos silêncios em momentos mais do que penetrantes, ou pela música de fundo, provocando os mais variados sentimentos. Uma melodia gostosa, porém que não se esquece de favorecer os sons ambientes e a respiração dos seus personagens, mostrando uma certa tensão e êxtase no drama.
Um belo filme que trata de sentimentos tão complexos quanto a vida. A busca por se conhecer, as conseqüências dos atos, o fim de um relacionamento, a aceitação de que a vida perde seu encanto e seu brilho ao momento em que nos tornamos mais velhos e crescemos e percebemos detalhes antes nunca vistos, mas que sempre estiveram presente. Enfim, quando a chuva cessa, a vida continua.
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