Alice (Carla Ribas) tem quarenta anos, possui três filhos, mora com o marido, filhos e a mãe Jacira (Berta Zemel) em São Paulo. Ela é manicure, faz o que pode para manter a estrutura da família unida. Para isso fecha os olhos, se cala e deixa de ver algumas verdades.
Seu marido a trai constantemente, inclusive com uma adolescente, vizinha de Alice, jovem essa que sempre vive pedindo conselhos para ela sobre a arte do amor.
Seus filhos não se entendem, ela não se entende com sua mãe ou seu marido.
No fundo, vemos uma família marcada por feridas, desunião e desestruturada. Cada um vive de um modo, tentando a seu modo viver, sem olhar para o outro, sem se preocupar com o outro. Jacira, a velha, é apenas a ver, perceber e compreender tudo o que cerca a essa casa, mas ela está ficando cega, surda, muda e louca, coisas da velhice.
Em “A casa de Alice” muito se fala, mas pouco se diz. Há uma economia nas palavras e uma superexposição nas imagens. Tudo é dito indiretamente. A infelicidade de Alice, as traições de seu marido, a relação próxima de dois do filhos do casal, a falha de base dessa família. Todos são movidos por sentimentos e instintos, a única a seguir a razão é Jacira. Mas ela já está velha e ninguém dá ouvidos a ela.
Em “A casa de Alice” temos a construção de um cinema no estilo documentário. A câmera trafega pela vida de seus personagens e nos revela suas inquietações e seus medos. Ela diz e não diz e deixa para aquele que vê a cena entender o que está acontecendo.
Um filme intimista e introspectivo que foca em Alice e por meio dela descobrimos a imperfeição da vida. O que dizer dessa mulher? Ela é forte, é fraca, é racional e ao mesmo tempo tão sonhadora. Seus olhos demonstram tristeza, mas revelam esperança.
Ao se lançar num caso extraconjugal, sente o prazer pela vida novamente, sente-se desejada e querida. Mas ao final, percebe que a realidade é dolorosa e não tão bela assim. Esse drama nos mostra que toda a beleza de fato não é bela e essa esconde dores, desprazeres e medos. Nos revela uma vida perfeita, porém ao vermos de perto, percebemos que é a mais pura mentira e imperfeição.
Vivemos de máscaras para enganar os outros ou a nós mesmos? O pior cego é aquele que não quer ver. Ou nos caso, se ele vê, mas prefere fechar os olhos? Diante de tantas dúvidas, ficam as incertezas e são estes os questionamentos que veremos em cada ato, em cada fala, em cada atitude destes personagens. Alice, nossa protagonista, é dotada de falhas e acertos.
“A casa de Alice” é profundo, visceral, poético e belo. Muito se fala, pouco se diz. Podemos perceber tantas coisas, como não percebemos nada. Assim é o cinema, assim é a vida.
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