Vidas que se cruzam, caminhos que se entrelaçam. Pessoas que se encontram e se reencontram numa grande ciranda de personagens, personanges estes em busca de uma redenção ou de um novo começo. Assim é 360º, novo longa do diretor brasileiro Fernando Meirelles.
Mirkha (Lucia Siposová) é uma prostituta que deseja entrar no mercado de garotas de programa de luxo. Seu primeiro cliente é um executivo inglês, Michael (Jude Law), que veio à Viena para fechar um negócio. Ele é casado com Rose (Rachel Weisz), que mora em Londres com a pequena filha. Ela mantém um caso com o fotógrafo brasileiro Rui (Juliano Cazarré) que por sua vez mora com a namorada, Laura (Maria Flor).
Laura ao saber da traição do namorado, parte de volta para o Brasil, mas no meio do caminho encontra duas pessoas, um senhor (Anthony Hopinks) que está a procura da filha desaparecida e Tyler (Ben Foster), um ex-presidiário preso por crimes sexuais.
Ainda percorrendo estas tramas, temos Sergei (Vladimir Vdovichenkov), um russo que trabalha como guarda-costa para um mafioso, que por sua vez, pede para que ele contrate os serviços de uma garota de programa, que no caso será Mirkha. Ele por acidente irá conhecer Anna (Gabriela Marcinkova) a irmã desta garota de programa.
Assim é 360º, uma trama em que personagens se cruzam, se ligam e se chocam. Pessoas que se conhecem e estão interligadas a outras, que por sua vez estão conectadas a outros personagens, fechando assim um ciclo. Uma escolha que fazemos pode mudar a rotina não apenas nossa, mas a de inúmeras outras pessoas que nos cercam ou não.
Composto por um grande quebra-cabeças, "360º" se num começo causa dificuldades em compreender sua ideia principal, conforme os minutos vão passando, percebemos suas ligações e compreedemos seus personagens. Dor, redenção, traição, culpa e receios cercam essas vidas. Homens e mulheres movidos pelo desejo, pela ambição, pelo amor e pela vontade de recomeçar.
É o ato de trair que fere, que faz com que a pessoa que está traindo se sinta culpada. Não é objetivo entender como se deu tal ato,
as sentir e tentar entender as consequências destas escolhas. Se tal fato não tivesse acontecido, tal pessoa não iria cruzar o caminho de outra, que não faria com que ela percebesse tal verdade, que não seria dito a outra personagem e que não faria por sua vez outra escolha. Complicado, assim também é a vida, ou seja, uma escolha está ligada a outras que promovem um efeito dominó imcompreensível.
"360º" começa de forma fria, talvez aí que resida seu pecado, pois quando o longa começa a dar sinais de vida, de calor humano entre as histórias, já estamos chegando ao seu fim. Alguns arcos não dão muito certo, outros se destacam e outros nos roubam a atenção. A trama envolvendo os personagens de Jude Law e Raquel Weisz, ao meu ver é a mais fraca. Tudo é muito falso e frio, não nos apegamos às dúvidas ou dores destes, tudo fica meio perdido, sem motivo.
Já com Laura, a situação muda de lado. Maria Flor imprimi suavidade e delicadeza à sua personagem. Movida pela dor, ela parte e nessa fuga contracena um dos melhores momentos do filme. Sua relação com o personagem de Anthony Hopinks é cativante e terna. Assim como com Ben Foster, há toda uma tensão que se percebe nos olhares, nas falas e nos gestos. Foster, apesar de ter um pequeno papel, ainda sim se destaca. Seu personagem é forte e intenso, movido pelo desejo e pelo medo assim como a pequena participação, mas vigorante de Anthony Hopinks. Outro arco que se destaca e move toda força do filme em seus minutos finais é a que envolve Mirkha, Anna e Sergei.
O que se percebe é que há sim muitos personagens e isso faz com que o diretor se perca no peso que cada trama terá no decorrer da história. Cada arco funciona unicamente. Há ligações entre eles. Mas buscar essas conecções só fará com que se perceba as falhas no filme, agora se ver cada trama por si só, se perceberá dramas e dramas. Alguns dão certo, outros nem tanto.
O longa tem um clima moderno, frio e gélido. O inverno está sempre presente, as cores quentes quase não aparecem, a trilha é suave e nada pesada. O roteiro é bom, se num começo ele demora pra decolar, com os momentos finais, toma folêgo. Talvez o único problema tenha sido ter dado mais destaque a personagens que nao tiveram grandes empatias, como é o caso de Law e Raquel. Apesar de serem eles os atores com mais peso no filme, as melhores cenas ficaram com o restante do elenco.
360º é um grande mosaico de vidas que se completam. Todos estamos ligados de uma forma e nossas escolhas nos mostram isso. Um ato, uma fala, pode desencadear acontecimentos que jamais teremos total compreensão em sua totalidade. Assim é a vida, assim é esse drama.
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