Vampiros de Folhetim
Estreou nesse final de semana o quarto filme da Saga Crepúsculo, Amanhecer Parte I – para desenvolver a adaptação, a história do último livro da série criada por Stephenie Meyer foi dividida em duas partes. Na primeira parte, ocorre a cerimônia de casamento, tão aguardada pelos fãs, da jovem Bela e do vampiro Edward. Em seguida, o casal parte para uma ilha, localizada no Rio de Janeiro, onde deverão passar a lua de mel – e é justamente nesse ponto que se estabelece o primeiro dilema do filme: Bela quer ter uma “lua de mel de verdade” com o seu vampiro, mas, Edward, um ser que possui força sobrenatural, teme que o seu descontrole possa por em risco a segurança de sua amada.
É interessante relembrar que cada filme da saga foi feito por um diretor diferente, Catherine Hardwicke, Chris Weitz, e David Slade, respectivamente. O último, que resultou numa trama pouco coesa, foi dirigido por Bill Condor (Dream Girls, 2006), que também assumirá a direção de Amanhecer Parte II, com estreia prevista para o dia 16 de novembro de 2012.
O filme começa em um ritmo lento, com diálogos desnecessários, acompanhados por uma trilha sonora melodramática e extenuante. No romance, contudo, os personagens de Meyer parecem ter mais personalidade, ser menos retilíneos e previsíveis – o que é perdoável, afinal, não é fácil reproduzir em um filme o volume de informações contido em um livro.
A cena em que Bela caminha em direção ao altar, particularmente, provoca certa inquietação, pois, o diretor abusa do primeiro plano, filmando anel, cauda do vestido, mãos, enfeite de cabelo, rendas do vestido - mais parece um anúncio de vestidos de noiva -, abandonando o espectador em sua curiosidade de saber o que se passa com todos os outros personagens, a partir de uma perspectiva mais panorâmica. Quanto às cenas da lua de mel, quase não consigo pensar em nada para dizer a respeito, sinal de que elas foram esquecíveis; mérito, sobretudo, da roteirista Melissa Rosenberg, que preferiu, por exemplo, ignorar grande parte das aventuras vividas pelo casal no romance e colocá-los em emocionantes disputas de xadrez.
A atuação canastrona da maior parte do elenco - exceção de Anna Kendrick (Jessica Stanley) e Sarah Clarke (Renée Dwyer) - também não favoreceu o filme. Mas, como é de praxe no cinema, coloquemos a maior parte da culpa da mediocridade da sequência nos ombros do diretor Bill Condor. Como já mencionei, Amanhecer Parte I não tem coesão narrativa, começa no melodrama, evolui para o romance e, de repente, torna-se um thriller, com direito às típicas bizarrices do gênero. Essa parte, inclusive, foi a mais bem produzida do filme. Ora, o leitor de Stephenie Meyer irá concordar que essas bizarrices, como a aparência moribunda de Bela grávida, ou ela tomando sangue e depois dando à luz de maneira tão grotesca, são acontecimentos previstos no livro. É verdade, no entanto, assim como no livro, ou numa música de Beethoven, ou em outro filme qualquer que possua momentos muito diferentes, há sempre a necessidade de se desenvolver um “processo de evolução” na obra, para que ela faça sentido como um todo e fique coesa, questão com a qual Bill Condor não se preocupou.
Como responsável pelo sucesso da série, Ricardo Calil, crítico de cinema da Folha de S.Paulo, apontou o “ultraromantismo”. Concordo. A saga Crepúsculo é, sem dúvidas, e antes de tudo uma história de amor cujo foco da narrativa é semelhante ao daqueles romances de folhetins do século XIX. Por esse motivo, justamente, os fãs das histórias de vampiro convencionais, que pertencem ao gênero do suspense, tendem a desprezar a saga. Porém, devemos concordar que não faz sentido nenhum comparar a célebre adaptação de Drácula de Bram Stoker (de Coppola, 1992), ou, de Entrevista com o Vampiro (de Neil Jordan, 1994) com Crepúsculo.
Seja pelo encanto inexplicável e desmedido do público com as novas produções hollywoodianas, ou pelo seu simples romantismo ingênuo, raro nos filmes de hoje, a última sequência da saga já é uma produção de sucesso. Apenas na sessão de estreia, na meia-noite de quinta para sexta-feira (18 de novembro), o filme arrecadou 30,25 milhões de dólares nos EUA, contudo, o recorde das seções de esteia ainda pertence a Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte II. No Brasil, Amanhecer Parte I bateu o recorde de maior bilheteria de estreia de toda a história.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário