Não é difícil reconhecer um filme de Wes Anderson, mas é difícil imaginar como um diretor tão autoral consegue fazer com que filmes muito similares em estilo e técnica soem únicos, ao invés de auto-plágios. Isso é alcançado novamente em O Grande Hotel Budapeste; ambientado majoritariamente na década de 30, o filme traz monsieur Gustave (Ralph Fiennes) como um excêntrico concierge mais fino que o próprio hotel, e seu ajudante, Zero (interpretado por Tony Revolori, um ator que eu nunca tinha visto antes), formando uma dupla protagonista extremamente eficaz em um filme que jamais soa como mais do mesmo.
Trazendo um dos protagonistas mais carismáticos da atualidade (créditos à performance de Fiennes), o roteiro consegue distribuir o tempo de desenvolvimento dos personagens muito bem sem se ancorar em Gustave- algo digno de nota, considerando em oposição filmes com o Johnny Depp que parecem sabotar a si mesmos ao dependerem completamente do carisma do ator. Falando em roteiro, é certo dizer que ele utiliza de forma inteligente o tempo ao criar cenas que rapidamente revelam, ou reforçam, o caráter de seus personagens. Pode ser citada uma cena de perseguição terminada de forma repentina, mostrando a brutalidade de um antagonista e a seriedade da situação, tirando-nos temporariamente da sensação cômica do filme ( obs: estou tentando manter o comentário livre de spoilers tornando o texto um tanto vago).
Se Fiennes faz um ótimo trabalho, Revolori não fica muito atrás, fazendo um personagem que em todos os momentos se mostra fiel à função de lobby boy, e até mesmo em situações mais pessoais soa tão breve em suas palavras, quanto seria ao trocar uma toalha no hotel. Aliás, ao longo do filme, economicamente, a história estabelece uma relação de responsabilidade e afeto dos personagens com o local: seja nessa lealdade do garoto à sua função, ou então na liderança convicta de Gustave.
O que torna O Grande Hotel Budapeste único não é apenas como os personagens se relacionam ou suas motivações e afetos, mas a atmosfera imersiva do filme criada por uma combinação de fatores bem executados: a trilha sonora, o figurino e os cenários; sempre em sincronia. Contando com várias boas surpresas, como um antagonista que parece ter saído de uma animação do Tim Burton, cenas que brincam com a dificuldade de se passar uma simples mensagem, ou mesmo uma brincadeira pontual com o som diegético (aquele som que existe no universo da história), o filme se mostra ciente do que é e do que não é admissível em seu universo, e explora seu senso de comédia perfeitamente, sem nunca se tornar rídiculo. Que venham mais Wes Andersons.
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