Aproveitando o lançamento de A Garota da Capa Vermelha que ocorreu recentemente, gostaria de relembrar um filme quase esquecido dos anos 1980. Trata-se de uma adaptação da história da Chapeuzinho Vermelho, porém com muito mais sangue, suspense e psicologia do que o normal. É um daqueles longas injustiçados por ter uma trama julgada complexa.
Baseado no conto de Angela Carter, que reinterpreta a história de Chapeuzinho Vermelho numa perspectiva de emergente sexualidade adolescente. É constituÃdo por uma série de histórias sobre lobisomens e uma pequena aldeia, num ambiente sombrio de conto de fadas, cheio de referências e conotações sexuais. Nesta versão gótica do antigo conto, o lobo é um lobisomem e a Chapeuzinho Vermelho é Rosaleen, uma jovem que decide sair da “trilhaâ€. Ganhador do Festival de Fantasia e indicado a 4 BAFTAs.
A proposta do roteiro pode parecer simples, porém o longa esconde uma trama carregada de simbologia sexual e crÃticas sociais. Muitas análises já foram feitas a respeito dos diversos significados ocultos que podem ser achados nas imagens. Para melhor compreendê-lo é necessário estar muito atento nos ambientes e diálogos. A ansiedade sexual parece ser o tema central, já que a protagonista está numa fase de descobertas e tudo gira em torno de sua transformação, que ocorre por etapas. O vermelho está sempre em contraste com o branco, representando a volúpia com que a personagem está lidando. Aqui o lobo se tornou uma metáfora para a fera que todos os homens carregam, por isso foi substituido por um lobisomem.
O diretor Neil Jordan (Entrevista Com o Vampiro) se aproveita do fato de tudo ser um sonho e vai e volta para a realidade de Rosaleen sempre mostrando artefatos do mundo real nos pesadelos da menina, rendendo cenários sombrios e confusos tanto quanto um sonho da adolescência.É visÃvel que estamos lidando com um longa que foi lançado no ano de A Hora do Pesadelo e por isso é compreensÃvel que alguém ainda diga que a idéia de sonho partiu de Wes Craven, porém Jordan explora os ambientes sob uma perspectiva diferente, e consegue mostrar de forma mais eficiente que esses pesadelos podem dizer muito mais coisas a respeito do sonhador do que imaginamos. As crÃticas sociais ocorrem através da avó da menina, que tenta reprimir a curiosidade da neta se mostrando perversa e tentando impor seus valores antiquados. Destaque para as transformações dos lobisomens e para o clima gótico que perdura por todo o filme.
As cenas de terror são eficientes (os efeitos especiais estão bons para sua época), os atores conseguem lidar muito bem com a subjetividade de seus diálogos (principalmente Sarah Patterson, que com apenas 12 anos já possuÃa olhares maliciosos suficientes para entregar uma Chapeuzinho Vermelho única), a trilha sonora de George Fenton oscila entre o belo e o macabro de forma surpreendente (desbancando Danny Elfman) e para quem acha que a versão de 2011 está boa fica a dica da que pode ser considerada a verdadeira adaptação adulta da história da Chapeuzinho.
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