A metalinguagem, usada para falar de si mesmo, de fato pode ser um artifício engenhoso para refletir sobre si. É o que acontece neste novo (mais um?) homem-aranha, lotado de autorreferências e reflexão de si mesmo.
Vencedor do Globo de Ouro de animação e indicado ao Oscar (até a presente data ainda não houve a premiação, mas possivelmente ganhe), o filme de fato faz por merecer todos os créditos. Em termos visuais, é engenhoso, divertido, colorido. Quadros são trocados como se estivéssemos a folhear uma HQ, há balões de fala, onomatopeias que pulam na tela. E olha que não sou um amante de quadrinhos, mas emociona. Os vilões também dão as caras, e todos bem feitos.
Ocorre que é inevitável o sentimento de saturação. Todos nós estamos cansados de uma enxurrada de filmes de super-herói todos os anos, muitos não saem do lugar comum. Para piorar, o “homem-aranha” é um dos mais produzidos, contando com várias versões. Ainda bem que os produtores deste aqui estão cientes disso, e aproveitam a deixa para refletir sobre o próprio desgaste, trazendo à tona também outros “aranhas” à história. “É muita presepada”, como diria um deles.
Há um vigor em contar uma história valendo-se dessa perspectiva, ou seja, ciente de que se está oferecendo mais do mesmo, narra-se uma história que se aproveita desta linha para oferecer um novo aranha, jovem e negro, muito simpático até, mas que se envolve com outros e se questiona a todo instante sobre tal exaustão.
A pergunta é: construir um (multi)universo ciente de todas essas visões e versões, ajuda mesmo? Diria que sim, mas com ressalvas.
Tecnicamente o filme é muito bom, de visual incrível e ágil, as cenas de ação também estão espetaculares. Mas o roteiro, ao se autorreferenciar, é incapaz de fugir a alguns clichês, o que de fato é o de menos aqui, pois se trata de brincar com o estilo. Problema mesmo é que falar sobre o sentimento de cansaço não o faz desaparecer, portanto, desta perspectiva, não há como fugir da saturação, ainda que se reflita sobre ela. A exposição em tela, embora agradável de se ver, revela uma luta talvez de desapego. É preciso a hora de saber parar, ou talvez se aceite que de fato os versos e multiversos dos super-heróis sejam parte da cultura cinematográfica de forma independente. Daí não existiria realmente cansaço, e sim, tão somente, perspectivas diferentes.
“O tempo é relativo”, como diria Einstein, fala reproduzida no filme. Na Teoria da relatividade, espaço e tempo se unificam. Seria o recado para dizer que o espaço dos “super-heróis” já se unificou ao nosso tempo, isto é, ao tempo presente, ao passado e ao futuro, já fazendo parte de nossas vidas. Se você não gostar, só resta mesmo tentar fugir, se você for capaz, a uma velocidade para além da velocidade da luz.
Entendo suas críticas, mas ao mesmo tempo o filme não tem culpa da enorme saturação de super heróis. É um filme feito com amor e paixão, ainda bem que não deixaram de fazer o filme por causa do exagero na quantidade de super heróis no mercado. Tem um bom frescor e charme e vai se firmar um verdadeiro clássico único e cativante e arrojado de muitas maneiras, mesmo, ou ainda mais, quando a onda de super heróis esfriar e o cansaço do gênero for existente.
É um excelente filme. Recomendo meu comentário.