A história de universitários que saem de casa em busca de uma melhor condição de ensino poderia ser retratada em um vídeo institucional que apenas valorizasse a ascensão desses jovens, esquecendo das dificuldades que eles têm de enfrentar para transformar seus sonhos em realidade. Felizmente, esse não é o caminho escolhido pela diretora Julia de Simone no documentário Romance de Formação, que consegue apresentar uma visão multifacetada da vida de seus personagens.
O filme se centra na trajetória de quatro brasileiros: um pianista que busca seu espaço em uma universidade da Alemanha; uma estudante que cursa Literatura na universidade de Stanford (EUA); um aluno de Direito na tradicional universidade de Harvard (EUA); e um aspirante a médico que sai de Minas Gerais para estudar no Rio de Janeiro.
Por meio de uma montagem paralela que transita bem entre as histórias dos personagens, o filme flui em um ritmo lento, quase contemplativo. Com a câmera muitas vezes posicionada à distância dos protagonistas, quase sempre fixa, o que prevalece é o caráter de observação, e não o de participação na vida dos personagens. Essa característica possibilita um olhar crítico não apenas da diretora, mas também dos espectadores para aqueles estudantes.
Como a voz da entrevistadora é quase ignorada (exceto em uma cena já perto do fim do filme), o fio condutor de cada fragmento do documentário passa a pertencer aos próprios personagens, seja através de suas ações ou de suas falas (algumas delas em off), o que dá uma espécie de autonomia à história de cada um deles. No entanto, o que une a trajetória desses quatro estudantes é um misto de alegria, por estarem fazendo o que acham certo, e renúncia, pelas perdas que, inevitavelmente, acompanham o crescimento de cada um deles.
Dessa forma, assistimos a diferentes níveis de abdicação entre os personagens: o garoto que vê a família esporadicamente e não vai a festas para ir bem nos estudos e, assim, poder ajudar a curar doenças no futuro; a garota que não tem tempo para ler livros não relacionados com a faculdade e que estuda mesmo nos raros encontros com o namorado; o rapaz que vê a namorada pela webcam no Dia dos Namorados; e o pianista que tem apenas a companhia de um cachorro na busca para se aperfeiçoar e fazer parte de uma orquestra alemã.
Mesmo acima da média, esses estudantes não medem esforços para obterem sucesso através de seus próprios méritos. E em um país como o Brasil, no qual a educação ainda está longe de ser tratada como uma real prioridade, exemplos como esses se tornam um bem-vindo sopro de esperança para que, um dia, os valores que guiam a persistência dessas pessoas deixem de ser uma exceção e venham a se tornar uma regra.
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