No novo filme de Cristophe Honoré, Não, Minha Filha, Você Não Irá Dançar, Lena, a protagonista interpretada brilhantemente por Chiara Mastroianni, acabou de se separar do marido e de largar o seu emprego em Paris, restando para ela a criação de seus dois filhos pequenos. Essa decisão, que a principio pode parecer uma escolha corajosa, nada tem de real convicção da personagem. Aliás, é isso que falta para ela durante todo o filme, e que acaba a jogando num ciclo de sufoco e sofrimento.
O filme começa com Lena e suas crianças embarcando em um trem rumo à casa de campo da família, onde irá encontrar os pais, a irmã e o irmão. Aquele lugar, além de representar uma fuga das obrigações cotidianas, também parece ser certo para o acolhimento e o apoio por parte da família. Porém, o que poderia ser um alegre recomeço na vida da protagonista acaba se transformando aos poucos na continuação do impasse em que a sua vida se tornou.
Sob aparente intuito de ajudar, a mãe chama para a casa o ex-marido da filha, Nigel, para passar o fim de semana na casa. O clima fica claramente insustentável para Lena, mas, apesar de tudo, depois de quase voltar para Paris, ela aceita permanecer na casa.
Essa decisão vem demonstrar no que se resume a vida de Lena: um aglomerado de escolhas de outras pessoas. Tudo por causa de sua incapacidade em tomar decisões, justamente por não saber o que quer fazer de sua vida.
A personagem de Chiara é colocada no centro dos acontecimentos, mas também conseguimos ver a fraqueza dos outros personagens: a irmã tem um relacionamento tumultuado com o marido e a mãe mantém o seu casamento por puro comodismo.
Porém, todos os problemas da família são postos nos ombros da protagonista, que por sua fragilidade não sabe como resolvê-los, e tampouco suporta carregá-los.
O roteiro do filme conta essa história de maneira instigante, não deixando que o espectador perca a atenção na trama, contando, para isso, com uma boa trilha sonora. Ao longo do filme percebemos que as soluções que o mundo em sociedade apresenta para a protagonista não são suficientes para saciar suas necessidades, sejam elas quais forem.
Pode parecer a história de alguém desajustado, louco, mas no fundo tudo o que Lena deseja é alcançar sua liberdade, que é claramente reprimida por suas relações interpessoais, seja com a família, o ex-marido ou o possível namorado.
Como a personagem da lenda bretã contada por seu filho, que é a causa do extenso título do longa, Lena, para “dançar” (atingir a liberdade que quer), terá dificuldades em encontrar pessoas (ou lugares) que realmente se encaixem às suas necessidades.
No final de tudo, o que fica claro é que, se ela não descobrir o que realmente deseja, através de uma busca por entender a si mesma, ninguém nunca poderá ajudá-la.
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