São duas Américas que se encontram naquele táxi da cena inicial de Goodbye... Solo, filme que estreou em território nacional no último dia 18 de setembro. Uma é a antiga, representada pelo velho William (interpretado por Red West), tipicamente de origem sulista, branca e conservadora. A outra é a nova América, dos imigrantes, ali representada pelo taxista Solo (Souleymane Sy Savane), natural do Senegal, e também por sua esposa de origem hispânica.
Mas não é este multiculturalismo emergente nos EUA o tema principal do filme, que conquistou no Festival de Veneza de 2008 o prêmio da Crítica Internacional. Ele só está no fundo de um tocante retrato que o diretor Ramin Bahrani faz das relações humanas, exemplificadas na construção da amizade entre os dois protagonistas.
De um roteiro que não cede à tentação de sentimentalismos baratos ou de lições de auto-ajuda surge uma história que mostra de modo sutil como diferentes maneiras de encarar a vida e o próprio mundo influem decisivamente nos caminhos que tomamos.
Solo é um taxista que veio aos Estados Unidos buscar uma melhor condição de vida para ele e para sua família, visando o tal “sonho americano” no qual os milhões de imigrantes do país acreditam. Vivendo na Carolina do Norte, ele tem o desejo de “subir na vida” e, para isso, quer se tornar comissário de bordo, razão pela qual estuda arduamente para o teste de admissão.
Apesar das dificuldades encontradas no caminho, ele sempre olha a vida de uma maneira otimista. E o filme traz isso de maneira clara, fazendo o personagem apanhar da vida (inclusive, por duas vezes, literalmente) e jamais desistir de suas ambições.
Já William é um senhor da classe média americana que acredita já ter perdido todos os sentidos para seguir vivendo. De maneira oposta a Solo ele tem condições econômicas favoráveis e uma pessoa que por si só já serviria de motivo para ele continuar a viver. Mas lhe falta o principal: a coragem para enfrentar a própria realidade.
Quando ele propõe, para alguns dias depois, uma corrida de 1000 dólares, só de ida, para a região montanhosa onde se encontra a conhecida Blowing Rock, o taxista senegalês logo supõe que aquilo se trata de um suicídio pré-agendado, e busca de todas as maneiras demover o velho desta idéia.
Podemos dizer até, de uma maneira simbólica, que Solo representa a Vida que tenta de todas as maneiras mostrar a William as suas vantagens. Mas o rancor guardado ao longo dos anos no coração deste senhor é tão grande que ele rejeita todo e qualquer tipo de ajuda, querendo se fechar dentro de si, e mantendo firme a sua obsessão pela Morte.
A força dessa história está mesmo nas atuações intensas e humanas dos atores principais. Ambos passam em suas expressões a exata proporção de como se sentem por dentro. Mais impressionante ainda é uma cena no fim do filme em que, através somente de olhares, é falado tudo o que ambos queriam dizer um para o outro.
Ramin Bahrani, com esse filme, merece ganhar destaque especial numa geração americana que vem apresentando, cada vez mais, bons filmes autorais, e que conta também com nomes como James Gray (do recém-lançado no país Amantes) e Thomas McCarthy (de O Visitante).
No filme, os ventos montanhosos em Blowing Rock são tão fortes que conseguem jogar qualquer objeto para cima. Depois deste Goodbye... Solo, só podemos esperar que esse seja mais um ponto de partida para que novos filmes, americanos ou não, consigam atingir qualidade tão elevada.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário