James Gray ficou mais conhecido no Brasil no ano passado, quando foi lançado aqui o seu excelente filme Amantes, sem dúvida um dos grandes de 2009. Ao tomar contato com esse diretor, que realmente não conhecia, resolvi procurar filmes mais antigos dele, e acabei me deparando com Os Donos da Noite (We own the night/ 2007).
O filme, assim como Amantes, possui um argumento aparentemente já repetido muitas vezes. Um filho que não tem boas relações com seus familiares (pai e irmão) é impelido por alguma situação a rever os seus conceitos e procurar novamente na família a base e o amor que lhe faltavam.
Porém, é nessa história comum e sem grandes inovações narrativas que o grande diretor se destaca. Gray faz uma história aparentemente simples ganhar contornos mais complexos, através da maneira com que constrói seus personagens, dando-lhes grande profundidade psicológica e fazendo com que a história ganhe muito em veracidade.
Bobby Green (Joaquin Phoenix) é um boa-vida que administra uma boate para um rico empresário russo. No seu trabalho as relações sociais são intensas, e ele conhece muita gente, inclusive criminosos, que se divertem na casa noturna. Ele tem uma relação forte com a sua namorada, Amada (Eva Mendes), que na verdade se tornou a única relação de verdadeira amizade que ele possui.
Acontece que fora desse círculo social estão Burt (Robert Duvall), seu pai, e Joseph (Mark Wahlberg), seu irmão, com os quais Bobby não tem uma relação nem um pouco amistosa. Os dois são policiais, fato que ele esconde de todos aqueles com quem tem contato.
Quando Joseph assume o comando de uma investigação contra traficantes russos, Bobby aos poucos vai compreendendo que terá que escolher entre sua família e aqueles que estão do “outro lado”, como seu pai lhe disse uma vez.
Mas o caminho traçado para que o protagonista atinja uma transformação é tortuoso, cheio de idas e vindas, o que evita ao máximo um tratamento simplista do assunto. Só quando sente o real risco de perder seus parentes é que ele se dá conta daquilo que havia deixado para trás, que é o princípio de todo ser humano em uma sociedade: a família.
Quanto mais Bobby se envolve nessa guerra contra o tráfico, defendendo o lado da polícia, mais os instintos familiares se afloram. E o grande mérito do diretor é o de não fazer do filme uma santificação absoluta da família. De modo contrário, Gray explora o tema de maneira multifacetada, fazendo da família muito mais uma obrigação da qual não podemos fugir do que algo essencialmente bom.
Com atores em grande forma, especialmente Joaquin Phoenix, e um diretor esbanjando talento cinematográfico, Os Donos da Noite é, realmente, um grande filme.
http://sempreumfilme.wordpress.com/
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário