Destaques de Keep The Lights On: Erik (Thure Lindhardt) e os belíssimos créditos iniciais. Honesto, bem intencionado e bem resolvido, o segundo longa do americano Ira Sachs, que é quase um Blue Valentine gay, representa uma safra atraente e madura de filmes com temática homoafetiva (como os excelentes Weekend e Beginners). No entanto, apesar da proposta audaciosa de retratar, cronologicamente, ao longo de quase dez anos, as idas e vindas do relacionamento instável e problemático de dois jovens (Erik e Paul), Sachs parece ter se perdido na metade da empreitada. A partir dali, o filme não se desenvolve, perde o fôlego, mas pior do que isso: fica irritantemente inverossímil e dolorosamente inútil.
Ainda que o filme retrate, com maturidade, diversas situações do cotidiano de um relacionamento (no caso, homoafetivo), abordando tabus presentes, inclusive, entre os próprios gays – como a relação entre o sexo pelo sexo e o rótulo imbecil e injusto da promiscuidade (relação evidenciada através do carismático e multidimensional Erik), faltou desenvoltura do Sachs em sustentar, de forma convincente, uma relação que atravessasse quase uma década inteira. Não é fácil convencer o espectador, sobretudo nos dias de hoje, que uma relação tão inconstante e que enfrentava tantas dificuldades (como abuso de drogas, infidelidade, dentre outros) possa ter sobrevivido tanto tempo. E Sachs falhou miseravelmente em sua tentativa.
Paul (Zachary Booth), jovem e bem-sucedido advogado, é um personagem acomodado, irresponsável, egoísta, medíocre. Já Erik, cineasta documental em ascensão, é exatamente o seu oposto e faz de tudo para que a relação perdure e sobreviva às instabilidades oriundas dos vícios do seu parceiro. Apesar disso, por mais naturalmente controversa e plausível que a relação dos dois seja, o filme (ainda que talvez intencionalmente) fica demasiado repetitivo ao longo da trama e emperra da metade para o final: tenta ser real demais e não consegue; o amor permanece intacto mesmo quando se torna unilateral; os personagens não mudam, não evoluem, não amadurecem em nenhum aspecto de suas vidas – no sentimental parecem não extrair absolutamente nada da relação (cometendo os mesmos erros); no físico (apenas para citar uma falha do filme) mantém a mesmíssima aparência ao longo de dez anos.
Apesar dos problemas de Keep The Lights On (ser irregular, desgastante e inverossímil em alguns aspectos), o filme é bastante inteligente e até relevante por possuir personagens multidimensionais e não estereotipados, o que é raro em filmes com temática gay. Além disso, é visualmente sofisticado e possui uma trilha sonora charmosa (a voz arrastada do Arthur Russell, que basicamente compôs toda a trilha, serviu como uma luva para a leve melancolia emanada pelo filme).
Um filme de difícil análise por ser bastante subjetivo, o que fará com que funcione a critério da disponibilidade do espectador em compreender e se deixar sensibilizar pelas motivações dos personagens – o que parece ter sido o grande problema aqui.
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