Qualquer mortal, com um mínimo de conhecimento na sétima arte, já ouviu falar sobre a história do famoso King Kong. A premissa básica da lenda é essa: macaco gigante, de origem desconhecida, conhece garota loira bonita, se apaixona (se que é podemos chamar de paixão) e acaba morrendo no alto de um prédio, após levar a donzela até lá. O grande desafio dessa nova versão é: como manter a atenção da maioria dos espectadores que já conhecem o final da história? Peter Jackson, embalou o que Cameron fez em Titanic: apostou no romance e nos sentimentos. Como estamos falando do diretor da saga dos Senhor dos Anéis, não espere nada menos que um filme de 3 horas de duração, regado de cenas em câmera lenta, focando os olhares e ações principais de cada personagem.
Parte da graça dessa nova versão, estão nos efeitos especiais, os quais são muito bem elaborados, em especial o grande Kong, que possui detalhes perfeitos nos pelos e na sua movimentação de primata. Os cenários ficaram bem elegantes e retratam desde selvas antigas até uma Nova York dos anos 30, durante o período da depressão das bolsas de valores.
Durante os longos 40 minutos iniciais, conhecemos o cineasta fracassado, Carl Denham (Jack Black), que decide fazer um filme numa ilha misteriosa, a ilha da Caveira, por conta de um mapa que ele descobre, sabe-se lá onde. Seu papel de "ganancioso egoísta" ficou perfeito, sempre bolando planos surreais, para enriquecer e ficar famoso. Antes de embarcar no navio, consegue convencer uma jovem atriz, Ann Darrow (Naomi Watts), a fazer o papel principal de um filme de romance náutico, com cenas em Cingapura (uma mentirinha como incentivo). Desempregada, morta de fome e sem rumo, a loirinha é impulsionada mais ainda a aceitar o emprego (com aventura inclusa), após saber que o dramaturgo Jack Driscoll (Adrien Brody, o narigudo horrível de O Pianista) vai roteirizar o filme. Óbvio que os dois fariam o par romântico do longa.
Esse começo Titanic, com direito a uma cena de quase-catástrofe do navio chegando no vale perdido, é interessante, porém cansativo. Por um momento, enquanto o capitão tentava "estacionar" o barcão entre os rochedos, me perguntei se estava mesmo vendo o filme do King Kong, por que o dinheiro empregado só nessa cena foi alto. Ganha de 10 em filmes só dedicados ao mar (Tormenta, por exemplo).
Se o começo enrolado, apresentando os personagens, e o final sem suspense, com a morte inevitável do macacão, não empolgam tanto, o miolo do filme, rodado na selva, vale a produção inteira. A diversão inicia-se ao chegar na ilha! Os personagens são jogados na pior experiência de suas vidas. Ao adentrar nesse lugar, são recebidos por nativos nada amistosos, que capturam a Ann e a oferecem como sacrifício vivo, ao Torê Kong, apelido que eles deram ao King Kong. A tribo, apesar de assustadora, é só a ponta do iceberg, do que a selva reserva de sustos para a patrulha que parte em resgate da moça. Dinossauros, aranhas, formigas e insetos gigantes, abrem um universo fenomenal, nunca antes explorado dignamente com o Rei Gorila.
Tenho a impressão de que Peter Jackson queria jogar na cara do Spilberg, como se deve fazer filmes com dinossauros. Jurassic Park, foi realmente um ótimo longa, mas suas continuações não agradaram, e King Kong, mostra o que muita gente queria na saga do Jurassic, ver dinos sendo estraçalhados por balas e morrendo sem dó. Só correr de velociraptors é divertido, mas enjoa. O famoso Kong nos presenteia com umas das cenas mais bacanas dos cinema nos últimos anos, onde luta com 3 Tiranossauros Rex ao mesmo tempo. Além disso, temos a chance de ver os herbívoros morrendo também, com os Alossauros caindo num abismo fenomenal. E como se os dinos não bastassem, ainda veremos os viajantes caindo dentro de um verdadeiro formigueiro. Cenas não recomendadas para crianças!
Depois de muito corre-corre e marmeladas aceitáveis - afinal se você já comprou a idéia de existir tal ilha, também vai aceitar o fato dos heróis se salvarem dela - o diretor de filme Carl, tem a "infame" idéia de nocautear o gorilão e leva-lo junto até a cidade para ganhar uma graninha (relembrando Jurassic Park 2). Como ponto negativo, não veremos como eles levam amarrado o Kong, dentro do barco, o qual por sinal já nem saia direito do lugar por conta do peso. Depois de serem obrigados a jogar quase tudo fora, com exceção das batatas, eles decidem levar esse monte de toneladas abordo? Vai entender...
De volta a Nova York, o macaco vira atração de teatro e como de praxe, ele consegue escapar para destruir a cidade, coisa que Stay Puf (Caça-Fantasmas), Godzila e os monstros dos Power Ranges, estão acostumados a fazer. Não há muita novidade nesse tipo de perseguição desenfreada do primata.
A seguir, o filme já não tem mais tanta emoção, pois como já dito, sabemos precipitadamente o destino infeliz que o gigantão terá. O interesse que nos motiva, é ver o Kong brincando com a estrela principal, afinal ele aprendeu a gostar da moça. Não sabemos se é um amor de irmão ou sexual, mas o fato é, ele a ama, e ela também. Prefiro acreditar em um amor como de um animal de estimação (e nesse caso, a menina que era o seu mascote). Para enfocar o sentimentalismo do bicho, grande parte das cenas são apresentadas no formato de "closes" no rosto do gorila. Você quase chega a chorar com tamanho realismo.
Para finalizar, a cena final onde o King sobe o edifício de Manhattan, para fugir do exército que quer matá-lo, mostra uma perspectiva diferente desse épico. A cena é rodada durante o crepúsculo, o que nos dá um colorido muito bonito para a cena, lembrando os prédios de Homem-Aranha. Nas versões antigas, o ápice rolava durante a noite, e acredito que era para facilitar os orçamentos dos efeitos especiais do Gorila. Mas convenhamos, Jackson não precisava poupar verba nisso ;)
Esse novo King Kong resgatou o que há muito tempo eu não sentia no cinema: emoção e sustos sinceros. Não vi a obra original, então não posso avaliar o quanto foi modificado. Só sei que Jackson conseguiu garantir a perpetuação da lenda desse macaco por muito mais décadas a frente.
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