Uma família adquire uma nova casa no fito de iniciar uma nova vida, porém forças que parecem emergir de dentro do lugar ameaçam a integridade psicológica dos protagonistas. Familiar, não?! Esse foi a primeira dedução que tive aos 10 minutos iniciais de "The Room" (A Sala, no Brasil). No entanto, à medida que a narrativa flui por direções interessantes e nem tanto convencionais, o filme não só garante uma boa imersão, como também comove, promove discussões éticas e provoca um senso de mistério desconfortável.
A estória acompanha o casal Matt e Kate que adquirem uma enorme casa ao norte de Nova Iorque. Ao conhecerem o lugar descobrem um quarto que provém qualquer desejo que o pedirem. A partir disso, A Sala já ganha um contorno que o distancia dos tradicionais enredos de casas mal assombradas tantas vezes exploradas anteriormente.
Primeiramente, vale destacar o desempenho de Olga Kurylenko (Kate) e Kevin Janssens (Matt) que lidam com muita consistência com as dores, medos e angústias que permeiam os protagonistas e entregam de maneira satisfatória duas personagens cujas ambições e traumas comuns projetam um sentimento de empatia pelo jovem casal.
O enredo explora para além da prisão do materialismo a própria prisão do ser em seus desejos, expectativas e paixões. Tudo isso mantendo o constante clima de mistério em torno do quarto provedor que se prolonga até o derradeiro fim do filme sem que, a ausência de uma explicação lógica limite a imersão nessa narrativa. Pelo contrário, a partir do momento em que Kate pede uma criança ao quarto o conflito entre o casal se intensifica, a problemática em torno de uma criança "fictícia" passa a gerar atritos éticos entre o casal que, embora não tão profundos, consegue afastá-los.
Outra complicação surge no momento em que Matt descobre a condição para a manutenção dos seus pedidos: Eles devem permanecer dentro da casa. Essa questão traz diversas complicações ao casal cuja repercussão psicológica desse dilema é notável graças à entrega de Olga e Kevin.
Além disso, o uso da personagem de John Flanders mostra-se eficiente para suprir a ausência de uma explicação garantindo ao público uma orientação que amplia o mistério do filme, embora o roteiro não se aprofunde com ênfase na exploração desse elemento desconhecido.
Em relação à direção, Christian Volckman escreve e dirige a obra com muita competência. Desde a escolha de enquadramentos até a edição o trabalho do diretor é decisivo para que o filme não perca tempo em desenvolver as questões das personagens e ainda garantir, no terceiro ato, uma brincadeira com nossa noção de tempo e espaço.
Por fim, A Sala revela-se um thriller envolvente e muito bem conduzido que garante uma boa discussão sobre a materialidade e o seu decorrente fetichismo carcereiro. Certamente, recomendo.
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